Ao interromper a cadeia de abastecimento de cereais e fertilizantes para a agricultura, a invasão russa está a criar uma crise alimentar global que afectará centenas de milhões de pessoas, sobretudo nos países mais pobres. Teme-se uma explosão de conflitos sociais. (Ler mais | Read more…)
No Norte da Ucrânia, o agricultor Grigoriy Tkachenko recusou-se a abandonar a aldeia de Lukashivka, nas proximidades da cidade de Chernihiv, para poder sustentar a família e alimentar os soldados que defendem a pátria. Mas a sua quinta foi destruída por bombas dos invasores russos e agora ele está desesperado, porque “quase nada resta”.
Na Somália, sem pão e sem água, Suray teve de sair de casa numa busca desesperada para salvar os sete filhos. Caminharam durante duas semanas para chegar a Baidoa, capital do Estado do Sudoeste. Nenhuma das crianças sobreviveu, nem o bebé que ela amamentava. Para as sepultar, aldeões ajudaram a mãe a cavar uma campa rasa numa terra estéril depois da seca mais grave das últimas quatro décadas. “Perdi-me na minha dor”, disse ela.
As histórias de Tkachenko e de Suray, contadas pelo jornal The New York Times e pela organização World Vision, respectivamente, são alguns dos dramas humanos exacerbados pela invasão da Ucrânia pela Rússia, os dois maiores “celeiros do mundo”.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) admitiu que cortou as rações diárias a 3,8 milhões de pessoas no Iémen, no Chade e no Níger, para poder atender às necessidades de outros 3 milhões na Ucrânia e países vizinhos. “Estamos a tirar a comida aos esfomeados para dar aos famintos”, lamentou David Beasley, o director executivo desta agência das Nações Unidas, que nunca precisou de fazer isto em 60 anos de existência.
A Ucrânia e a Rússia são “os motores” que alimentam o mundo. A invasão coincidiu com o início da estação de plantio, transformando desde logo mais de 30% dos férteis terrenos agrícolas ucranianos em zonas de guerra, segundo a ONU.
Depois, foram encerrados os portos do mar Negro, impedindo as exportações. Seguiu-se novo aumento dos elevadíssimos preços do petróleo, encarecendo a compra e distribuição de produtos básicos, deixando em situação de “catástrofe” os Estados mais pobres e vulneráveis em África, no Médio Oriente e na Ásia, já assolados pela “tempestade perfeita” de “conflito, clima e Covid-19”.
Desde o dia 14 de Fevereiro que aviões e carros de combate, mísseis e mercenários russos reduzem a escombros cidades e lugarejos, casas, escolas, hospitais e outros edifícios. Mas a destruição que, segundo a ONU, poderá causar “a maior crise alimentar global desde a Segunda Guerra Mundial” é a dos campos agrícolas, que cobrem 70% da superfície do segundo maior país da Europa.
Com 32 milhões de hectares de terras aráveis, a Ucrânia assegura metade das exportações mundiais de sementes e derivados de girassol para a União Europeia, e é um dos maiores exportadores de trigo e milho.
Nos anos 1930, era Odessa e não Chicago o centro de comércio internacional de cereais. Explica o Banco Mundial que esta riqueza, suplementada por uma “vantajosa localização geográfica” (proximidade com a Rússia e a UE, serventia de portos de águas profundas, acesso aos maiores compradores de cereais no Médio Oriente e no Norte de África) deve-se ao seu solo negro, chernozem, altamente rico numa matéria orgânica chamada húmus, que oferece “condições excepcionais” à produção de vastas culturas, especialmente cereais (14,8 milhões de hectares em 2020) e oleaginosas (10 milhões).
Em consequência da guerra, pelo menos 20% das colheitas de Abril estão perdidas, informou o primeiro-ministro. Embora muitos agricultores tivessem lançado sementes à terra e o Governo os tenha isentado do serviço militar e da defesa territorial, a realidade é que muitos deixaram os campos que cultivavam, ou os camiões e comboios de mercadorias que conduziam, para combater nas linhas da frente. Além disso, as forças russas têm minado muitas propriedades, destruído maquinaria, silos de armazenagem e depósitos de combustível, o que dificulta ainda mais a recuperação.
Algumas das principais áreas de produção de cereais situam-se nas regiões de Donetsk e Luhansk, no Leste da Ucrânia, para onde a Rússia, que ali apoia grupos separatistas, está a encaminhar as suas tropas depois de ter sido incapaz de conquistar Kiev, a capital.
No entanto, mesmo que parasse agora a guerra – que em menos de dois meses causou 4,3 milhões de refugiados e 6,5 milhões de deslocados internos –, faltaria tempo para retomar as exportações, não apenas de cereais, mas também de fertilizantes (a Rússia é o maior produtor mundial).
O preço do trigo, que já havia aumentado 80% entre Abril de 2020 e Dezembro de 2021, deverá continuar a subir se as operações militares não cessarem e os portos e caminhos de ferro forem danificados, disse ao New York Times David Laborde, investigador no International Food Policy Research Institute, em Washington.
Comprometidas as próximas colheitas, dentro de quatro meses, “a situação ficará mesmo sombria, porque os países que dependem do trigo da Rússia [o maior produtor, com 76 milhões de toneladas em 2021, das quais 35 milhões para exportar] e da Ucrânia serão duramente atingidos.”
Quase 283 milhões de pessoas enfrentam actualmente insegurança alimentar aguda ou estão em risco elevado, e 45 milhões estão “à beira da fome”, avisa o PAM, salientando que estes números poderão duplicar devido à guerra entre os que lhe fornecem 50% do trigo com que alimenta mais de 115 milhões de bocas em 117 países e territórios.
“As pessoas vão reagir se não conseguirem pagar a comida, matar a fome”, prevê, em declarações à revista Foreign Policy, Catherine Bertini, investigadora no Chicago Council e ex-directora do PAM, recordando as sublevações populares que, em 2011, ajudaram a derrubar regimes ditatoriais no Egipto e na Tunísia.
No Sudão, por exemplo, milhares de pessoas têm vindo para a rua, sem medo de balas e gás lacrimogéneo, para protestar contra um aumento de 80% do trigo proveniente da Rússia e da Ucrânia. No Iraque, centenas de agricultores revoltaram-se contra a subida dos preços dos fertilizantes.
Arif Husain, economista-chefe e director de investigação no Programa Alimentar Mundial da ONU, não tem dúvidas que a crise que hoje se vive “é muito pior” do que as de 2006-2008 (quando os preços médios do milho, arroz e trigo aumentaram, respectivamente, 70, 180 e 120%, empurrando para a pobreza 105 milhões de pessoas) e de 2010-2012 (que afectou 40-44 milhões de pessoas). “É pior porque agora temos uma guerra no Iémen, uma guerra na Síria, uma guerra na Etiópia, uma guerra no Norte da Nigéria, uma guerra no Afeganistão…”
“Se pensam que o inferno chegou à Terra, é melhor prepararem-se”, avisou David Beasley, o director executivo do PAM, em entrevista ao site POLITICO. “Se neglicenciarmos o Norte de África, o Norte de África virá até à Europa; se negligenciarmos o Médio Oriente, o Médio Oriente virá até à Europa”, em vagas migratórias. E as condições económicas não se degradaram apenas naquelas regiões (ver segundo texto).
“Em Paris, Chicago ou Bruxelas, o que pensam que vai acontecer se não houver comida suficiente? É fácil sentarem-se na vossa torre de marfim, quando não sois vós a passar fome”, criticou Beasley, após uma reunião na Bélgica, onde foi pedir um aumento das contribuições para que o PAM, galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 2020, possa ajudar os que mais necessitam.
A solução imediata, reconhece Arif Husain, é monetária. Porque, embora ainda se produza alimentos em quantidade suficiente para alimentar o mundo, o grande problema continua a ser o preço e o acesso numa cadeia de abastecimento global a que faltam resiliência e soberania.
Vejamos: embora o consumo tenha acelerado muito nas últimas décadas, porque o crescimento demográfico aumenta a procura, o comércio internacional de cereais representa apenas “uma pequena parte” da produção, explica o economista e engenheiro alimentar Bruno Parmentier no site Futura Planète.
A maioria dos cereais é consumida pelos países que os produzem. “Em 2020, por exemplo, só 119 milhões das 761 milhões de toneladas produzidas atravessaram fronteiras.”
Os países que produzem mais do que consomem são poucos; para o trigo, sobretudo Rússia, Estados Unidos, Canadá, Ucrânia, França, Austrália e Argentina; para o arroz, Índia, Paquistão, Vietname, Tailândia e EUA: para o milho, EUA, Brasil, Argentina e Ucrânia.
“Infelizmente, os países estruturalmente importadores são mais numerosos do que os exportadores”, anota Parmentier. “Não têm superfícies agrícolas e recursos naturais, e a situação agrava-se, de no para ano, porque aumentam as populações, mas a área de terras cultiváveis ou a disponibilidade em água não cessam de diminuir.”
Estados industrializados como o a Suíça, o Japão ou a Coreia do Sul podem ser incapazes de se alimentar sozinhos, mas não terão problemas em comprar – a qualquer preço – os produtos de que necessitam, adianta Parmentier.
“Não é o que acontece com o Egipto – o maior importador mundial de trigo (12 milhões de toneladas em média) – que tem de alimentar 102 milhões de habitantes num deserto, e onde o único vale cultivável é o do Nilo, representando apenas 4% da superfície do país.”
Também não é o caso do Bangladesh, “cuja população deverá aumentar de 165 milhões para mais de 200 milhões em 2050 (com 1400 habitantes por km2, será o mais densamente povoado do mundo), onde a subida das águas, resultante das alterações climáticas, irá amputar-lhe um terço da sua actual superfície”.
A guerra é igualmente um obstáculo. “Em países onde os homens são soldados e as mulheres refugiadas, os campos são abandonados”, realça Parmentier. “Mas também é pouco provável que tenham acesso a sementes seleccionadas, fertilizantes, pesticidas, tractores e debulhadeiras ou combustível para os pôr em marcha. E, se por milagre, conseguirem fazer as colheitas, os seus sistemas de armazenamento, transporte e venda não serão os mais eficazes.”
A guerra na Ucrânia ameaça “os verdadeiros pobres do planeta, aqueles cuja ração diária de cereais é sempre a mesma: ou arroz, ou milho ou mandioca”, conclui Parmentier. “São eles os mais sensíveis a aumento dos preços, porque, para eles, é a diferença entre comer mal e ter fome.”
Se os apoios que as agências da ONU imploram não chegarem, o secretário-geral, António Guterres, prevê “um tsunami de fome e o colapso do sistema alimentar global”.
À beira de “um furacão de fome”
Pelo menos 50 países dependem do trigo produzido pela Ucrânia e pela Rússia para alimentar as suas populações. A maioria deles situa-se em África, no Médio Oriente e na Ásia, onde há cada vez mais habitantes e cada vez menos água e terras aráveis.
ÁFRICA ORIENTAL
Antes da guerra da Rússia na Ucrânia – países que fornecem 90% do trigo que se consome na África Oriental –, pelo menos 28 milhões de pessoas na Etiópia, Quénia, Somália e Sudão do Sul enfrentavam o “perigo real” de fome severa, em consequência de conflitos locais, da pior praga de gafanhotos dos últimos 70 anos, de cheias diluvianas e de uma seca sem precedentes nas últimas quatro décadas. Agora, porque os preços dos bens alimentares, já exacerbados pelos efeitos da Covid-19, aumentaram 80% desde a invasão russa, teme-se “uma catástrofe”, alerta a organização humanitária britânica Oxfam. A Etiópia vive a mais grave crise de insegurança alimentar desde 2016, com mais de 30 milhões de pessoas a necessitar de assistência. Uma semana após a invasão russa, o preço do óleo de girassol, por exemplo, aumentou 215%. Na região somali, no Leste, 3,5 milhões de pessoas não têm água e alimentos suficientes. Na região do Tigré, no Norte, com nove milhões a precisar de ajuda, a situação é ainda mais crítica, devido a uma guerra civil iniciada em 2020. No Quénia, muito dependente do trigo russo e ucraniano, os preços aumentaram de 345 para 550 dólares a tonelada, depois de uma quebra de 70% nas colheitas. Pelo menos 3,1 milhões de pessoas estão em situação de “fome aguda”, e quase metade das famílias “pede comida emprestada ou compra-a a crédito”. Na Somália, que importa praticamente todos os cereais da Ucrânia ou da Rússia (o preço da farinha aumentou mais de 50%) e onde 90% do território enfrenta uma seca severa (há zonas sem chuva há mais de dois anos), 4,3 milhões de pessoas passam fome. Pelo menos 2,3 milhões foram obrigadas a deixar as suas casas, em busca de sustento. Quase metade das crianças com menos de 5 anos estão desnutridas. No Sudão do Sul, o PAM alerta que, este ano, poderá ser “a pior crise de fome de sempre”: mais de 70% da população luta pela subsistência num país criado em 2011 e onde a insegurança alimentar atingiu níveis sem precedentes, causada por conflitos e choques climáticos, pela pandemia de Covid-19 e pelo aumento constante dos preços.
SAHEL

Na região que cada vez mais se assemelha ao deserto do Sara e inclui alguns dos países mais pobres do mundo (Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia, Níger), a fome ameaça 35 milhões de pessoas em 2022, se não receberem ajuda, alerta a organização Action Against Anger. É uma subida significativa em relação a 2020 (15 milhões) e 2021 (27 milhões). Incluídos os 17 Estados da África Ocidental e do Sahel, mais os Camarões, as previsões da OCDE são as de que 40,7 milhões de pessoas enfrentarão, até Junho, uma crise alimentar e de nutrição, agravada pelo impacto da guerra na Ucrânia no preço dos produtos básicos – um aumento expressivo face aos 28,9 milhões em 2021. O que se avizinha no Sahel, onde os centros de saúde abarrotam de crianças desnutridas, poderá ser, diz o PAM, “a maior crise alimentar da última década”. A região debate-se com muitos demónios: violência intercomunitária, ameaças jihadistas e operações militares estrangeiras, que desalojaram mais de 9 milhões de sahelianos; golpes de Estado; secas e chuvas extremas, degradação da biomassa, pobreza, pandemia. Um dos grandes problemas no Sahel é o rápido crescimento da população, que duplicou desde 2000 e deverá voltar a duplicar até 2050 (de 92 milhões para quase 200 milhões). Há cada vez menos o que comer e beber, mas há cada vez mais gente para alimentar.
NORTE DE ÁFRICA
A guerra na Ucrânia pode representar “uma ameaça existencial” para algumas economias e populações do Norte de África (Egipto, Líbia, Sudão, Tunísia), segundo organizações humanitárias. No Egipto, o maior importador mundial e também o maior comprador de trigo à Rússia e à Ucrânia, mais de 70 milhões de pessoas dependem de pão subsidiado. Se os preços continuarem a subir, o regime de Abdel Fateh El Sisi dificilmente levará por diante o plano de cortar os subsídios ao pão, pois corre o risco de protestos como os que derrubaram o ditador Hosni Mubarak em 2011. Nas padarias não subsidiadas, o preço aumentou cerca de 50%. A Líbia, que comprava à Ucrânia mais de 40% do seu trigo, viu os preços deste bem essencial aumentarem mais de 30% uma semana depois da invasão russa. O ministro da Economia garantiu haver reservas estratégicas para seis meses, mas não evitou uma crise de abastecimento de farinha em várias cidades. Depois de mais de uma década de conflitos, implosão do governo central e emergência de vários senhores da guerra, pelo menos 12% dos líbios, ou seja, mais de meio milhão de pessoas, precisarão de ajuda em 2022, segundo o PAM. O Sudão, onde o aumento dos preços do pão também contribuiu para a queda de um tirano, Omar al-Bashir, em 2019, é o país “mais exposto” às consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia, que forneciam cerca de 87% dos seus cereais, segundo a FAO. A inflação, devido a desvalorizações da moeda e diminuição dos subsídios, chegou a 250%. Em Cartum, a capital, o preço de um pão, que era de 2 libras sudanesas há dois anos, é agora de 50. As Nações Unidas estimam que quase 1/3 da população, ou mais de 14 milhões de pessoas, precisará de ajuda humanitária este ano. Os que se encontram em situação mais vulnerável são os 3,3 milhões deslocados internos da região de Darfur. Na Tunísia, a braços com uma grave crise política e uma economia à beira da falência, debilitada por anos de inflação, desemprego e dívida pública, a invasão russa da Ucrânia, país que lhe vendia 50% do trigo, fez com que os preços registassem a maior subida dos últimos 14 anos. Regista-se também escassez de arroz, sêmola, açúcar e farinha, que são alimentos básicos.
MÉDIO ORIENTE
Três agências das Nações Unidas – a FAO, o PAM e a UNICEF – soaram o alarme em 14 de Março, menos de um mês após a invasão russa da Ucrânia: a crise de fome no Iémen aproxima-se do “nível de catástrofe”, com 17,4 milhões de pessoas a necessitar já de ajuda alimentar urgente, número que poderá aumentar para 19 milhões, entre Junho e Dezembro. Há pelo menos 2,2 milhões de crianças desnutridas, quase meio milhão delas em risco de vida, condição em que se encontram igualmente 1,3 milhões de mulheres grávidas ou a amamentar. Num país que dependia em 30% do trigo importado da Ucrânia, os preços quintuplicaram em relação a 2015. Um quilo de trigo custa agora 800 riais, comparado com 146 antes da crise, diz o PAM. Uma guerra que dura há sete anos e já matou centenas de milhares de pessoas é o principal causador da fome: cerca de 80% dos cerca de 30 milhões de iemenitas precisam de assistência para sobrevier. Na Síria, dependente do trigo da Rússia, cerca de 90% da população vive na pobreza depois de 11 anos de uma guerra sem fim. Há 4 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. No Líbano, cerca de 80% do trigo importado em 2020 proveio da Ucrânia e outros 15% da Rússia, indicam dados oficiais. Depois da explosão de um silo de armazenamento no porto de Beirute, há 2 anos, as reservas do país ficaram reduzidas a um mês. A situação é dramática, tanto mais que 80% da população vive agora na pobreza.
ÁSIA
O PAM estima que cerca de 95% dos 38 milhões de habitantes do Afeganistão não têm alimentos suficientes para comer nem dinheiro para os comprar. Cerca de 23 milhões – mais de 55% – já passam fome. A guerra na Ucrânia é “um desastre”, não só porque “desvia recursos, simpatia e atenção merecidos por milhões de afegãos que precisam de fundos, alimentos e protecção contra abusos de direitos humanos”, mas porque também “irá beneficiar os talibãs, que aproveitarão o facto de o mundo estar distraído com outro agressor para assim consolidar o seu poder”, analisa o United States Institute for Peace. Embora os principais fornecimentos de trigo ao Afeganistão provenham do Cazaquistão e do Uzbequistão, a subida dos preços dos bens essenciais e do combustível resultante da invasão russa poderá aumentar em 20% o custo da assistência humanitária. Um saco de farinha custa o equivalente a 26 euros, mas a maioria dos afegãos vive agora com menos 1,75 euros por dia. A UNICEF calcula que mais de um milhão de crianças afegãs com menos de 5 anos correm o risco de morrer desnutridas; 3,5 milhões precisam de ajuda alimentar. O PNUD avisa que os rendimentos de 97% dos afegãos ficarão este ano abaixo da linha de pobreza.
Estes artigos foram publicados na edição de Maio de 2022 da revista ALÉM-MAR | These articles were published in the Portuguese news magazine ALÉM-MAR, May 2022 edition