Pode um continente ainda assolado por tantas doenças infecciosas vencer a luta contra um novo vírus? Primeiro é preciso perceber como este inimigo actua, em termos imunológicos e genéticos, dizem cientistas. A demografia e o clima podem ser aliados. Mas a economia poderá cair estrondosamente, agravando as condições de subsistência numa região onde uma em cada três pessoas já vive abaixo do limiar da pobreza. (Ler mais | Read more…)

África do Sul: O país mais afectado pelo novo coronavírus no continente
© Marco Longari | AFP | Getty Images | The Guardian
As previsões para África são pessimistas. Se continuar a propagar-se sem controlo, o SARS-CoV2 poderá matar cerca de três milhões de pessoas, alertam cientistas do Imperial College de Londres.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, sem medidas eficazes para conter a COVID-19, a doença causada pelo novo coronavírus, 47 dos 54 países do continente corre o risco de ter 250 milhões de infectados e 190 mil mortos.
A Comissão Económica das Nações Unidas para África calcula, por seu turno, entre 300 mil e 3,3 milhões os óbitos em resultado directo da pandemia.
À hora do fecho desta edição [no dia 17 de maio], o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana registava 81.307 casos positivos de infecção, 2704 mortos e 31.078 recuperados. Os cenários hipotéticos mais sombrios, desde que o SARS-CoV-2 deu sinal de vida no Egipto, em 14 de Fevereiro, parecem não se concretizar, e os analistas procuram respostas para a discrepância entre os seus prognósticos e os números reais.
Será porque África não realiza testes suficientes? Porque aprendeu a lição de outras epidemias, tão ou mais mortíferas? Porque os anteriores surtos criaram “imunidade de grupo”? Porque, detectados os primeiros casos, uma maioria dos 54 Estados da região accionou imediatamente os mecanismos necessários à mitigação de outra doença contagiosa?
Porque o “Primeiro Mundo” olha para o “Terceiro Mundo” como “vítima passiva” e, na sua “mentalidade colonial”, não acredita no potencial de nações mais pobres para enfrentarem um novo e insidioso inimigo?
Sim, alguns países têm uma reduzida capacidade de fazer e analisar testes, dizem uns. Mas isso não explica a razão para não se registar (ainda) um número elevado de hospitalizações e mortes, alegam outros. Nos EUA, onde em 17 de Maio se registavam quase 1,5 milhões de casos positivos e o número de mortos se aproximava dos 90 mil, só estavam a ser conduzidos uma média de 150 mil testes diários.
“Sem compreendermos melhor como o vírus actua – designadamente como factores imunológicos e genéticos podem proteger determinadas pessoas –, é impossível avaliar o quão severo será o impacto da COVID-19 em África”, explicou, ao diário britânico The Guardian, Thumbi Ndung’u, professor no African Institute for Health Research, em Durban, na África do Sul.
“Ainda não temos respostas claras que nos ajudem a compreender por que as taxas [de contágio e mortalidade] são mais baixas em África do que na Europa ou na China. É possível que o vírus, que chegou durante o inverno europeu, não se dissemine tão rapidamente em climas mais quentes e húmidos, como demonstra um estudo.”
“Também é possível que África, em geral, ao contrário da Europa e da China, beneficie do facto de ter uma população jovem” – 60% tem menos de 25 anos.

Costa do Marfim: Soro Sali conforta um dos três gémeos da sua irmã, que morreu ao dar à luz no Hospital Regional de Korhogo
© Frank Dejongh | UNICEF
Mas também “poderá ser uma questão de tempo”, na opinião de Thumbi Ndung’u, até o vírus atacar tão duramente África como o resto do mundo. “Se assim for, e a transmissão comunitária na África Subsariana se assemelhar à de Itália, está à vista uma catástrofe.”
“Não há hospitais, unidades de cuidados intensivos ou ventiladores para lidar com um número maciço de infectados. Se a propagação for comparável à que vimos na Europa e na China, o resultado será devastador.”
Num artigo publicado no site da Al Jazeera, Caleb Okereke, jornalista e cineasta ugandês, e Kelsey Nielsen, activista social americana residente em Campala, têm outra perspectiva. É certo, admitem, que em muitos países africanos faltam serviços básicos e que os seus hospitais estão sobrelotados para atender e salvar doentes com diarreia, tuberculose, paludismo, sarampo, tosse convulsa, poliomielite, meningite, tosse convulsa, sífilis, Hepatite B ou tétano, patologias que, na sua maioria, já foram erradicadas em regiões mais prósperas.
No entanto, se se é verdade que a Nigéria tem menos de 500 ventiladores para 200 milhões de habitantes, o Senegal usou a experiência no combate ao Ébola para converter laboratórios privados em centros de testes e criou um kit para despistagem que custa apenas 1 dólar – recurso que partilha com outros no continente.
Se é inegável que a Somália tem apenas 15 camas em unidades de cuidados intensivos (UCI) para uma população de 15 milhões, as ilhas Maurício têm 3,4 para cada mil habitantes – quantidade superior à do Reino Unido ou à do Canadá.
Apesar das estimativas deprimentes, vários países que impuseram medidas drásticas para conter o coronavírus, como encerramento de fronteiras, confinamento e distanciamento social, começaram, entretanto, a reabrir. Porque, em termos económicos, o impacto dos remédios prescritos para a cura poderá ser muito mais demolidor do que a doença.

Quénia: operação de desinfecção na cidade de Nairobi, uma das medidas aplicadas para evitar o contágio por COVID-19
© Luis Tato | AFP | Getty Images | axios.com
A COVID-19 aparece numa altura em que a África Austral sofre os efeitos de um ciclone e das piores secas das últimas décadas; a África Oriental enfrenta uma segunda praga de vorazes gafanhotos que destroem plantações; e a África Ocidental está em guerra contra extremistas muçulmanos.
Tudo isto coincidindo com um dos maiores fluxos de deslocados internos e migrantes (mais de 25 milhões) num continente onde uma em cada três pessoas vive abaixo do limiar da pobreza de 1,90 dólares por dia, definido pelo Banco Mundial. O Programa Alimentar Mundial da ONU receia que, até ao final deste ano, mais de 260 milhões de africanos possam morrer de fome.
Débeis sistemas de saúde rebentam pelas costuras. Uma grande parte da assistência e dos fundos concedidos por organizações governamentais (ONG) a outros programas foi agora desviada para o combate ao novo coronavírus. Hospitais que antes serviam, por exemplo, para tratar o VIH-sida, que em 2018 matou, só na África Subsariana, mais de 470 mil pessoas, passaram a servir, exclusivamente, para a COVID-19.
Outro problema grave: o apoio em ambulatório está a ser reduzido, em parte devido à escassez de médicos e enfermeiros. A morte de um profissional de saúde em África é “uma perda para mais de 10 mil pacientes”, constatou o Fórum Económico Mundial. No continente, há 1 médico para cada 5000 pessoas (em Portugal, são 4,6 por 1000).
Em 2013, refere a OMS, o défice de profissionais de saúde na África Subsariana, que era de 1,8 milhões em 2013, deverá subir para 4,3 milhões até 2035.
Quais as causas: não há dinheiro para os formar; apenas 170 faculdades de medicina servem 47 países da região – seis dos quais não têm nenhuma e 20 só têm uma; muitos médicos emigram para progredir e sobreviver, mais ainda interrompem os estudos porque adoecem ou morrem prematuramente.

Senegal: um membro do colectivo de graffiti RBS CREW pinta, numa escola em Dakar, um mural informativo sobre como evitar a propagação do novo coronavírus
© Sylvain Cherkaoui | AP | hrw.org
À espreita está também um pesadelo económico. A União Africana prevê a perda de 20 milhões de empregos, em sectores formais e informais, e um decréscimo no investimento estrangeiros, sobretudo da China.
Um estudo da UA, divulgado em Abril, aponta para dois cenários: no primeiro, a pandemia é contida num prazo de cinco meses, infligindo estragos mínimos; no segundo, a doença continua activa durante oito meses, causando danos graves.
O cenário mais optimista, segundo a revista Africa Renewal, contempla um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em 2020, de -08%, enquanto o mais pessimista aponta para -1,1%. “Dado que que inicialmente se esperava 3,4%, até o cenário mais optimista representa um declínio significativo”, anotou o analista Kingsley Ighobor.
A UA também admite uma queda de 35% nas exportações e importações (no valor de 270 mil milhões de dólares); de 20 a 30% nas receitas fiscais (que totalizaram 500 mil milhões de dólares em 2019 e agora vão obrigar governos a contrair créditos externos), ao mesmo tempo que serão necessários 130 mil milhões de dólares para “a luta contra a propagação do vírus e tratamento médico”, realça Ighobor.
A queda do preço do petróleo para menos de 30 dólares o barril e o naufrágio dos sectores do turismo (ambos representando 25% do PIB das cinco maiores economias africanas) e da aviação civil vão forçar a suspender planos de desenvolvimento.
Angola e a Nigéria, em particular, os maiores produtores de petróleo do continente, poderão registar perdas de receitas de 65 mil milhões de dólares, segundo o estudo da UA. No entanto, segundo os dados divulgados diariamente pela John Hopkins University nos EUA, em 18 de Maio Angola permanecia o país africano da comunidade lusófona com menor número de casos positivos e de mortos: 48 e 2 respetivamente [em 17 de maio], à hora do fecho desta edição. No mesmo dia, eram estes os números para a Guiné-Bissau (967/4); Cabo Verde (328/3); São Tome e Príncipe (235/7) e (Moçambique (129/0).

Zimbabwe: profissionais de saúde testam um grupo de pacientes antes de entrarem num hospital público em Harare, a capital
© Tsvangirayi Mukwazhi | AP | hrw.org
“O petróleo, a nossa principal fonte de receitas, já não é a galinha dos ovos de ouro”, reconhece Edmilton Scuman, jornalista angolano, de 28 anos, “há mais de 50 dias” confinado em casa, “cansado das notícias sobre coronavírus” que povoam a sua vida profissional e pessoal.
“A queda dos preços do petróleo mostrou-nos que não podemos deixar os diamantes numa só caixa; se a perdermos, ficamos sem nada”, adianta Scuman, numa entrevista que me deu, por WhatsApp. “Passámos uma vida inteira a olhar só para uma luz. Agora vêmo-la a apagar-se, sem outra opção.”
A alternativa ao petróleo, adianta Scuman, residente em Luanda, poderá ser a agricultura. “O Governo quer dar-lhe asas”, diz, precisando que têm sido concedidas linhas de crédito para expandir este sector. Tudo é, porém, ainda incipiente, e a prioridade, por ora, é ajudar empresas e famílias a enfrentar o prenúncio de uma depressão de longa duração.
Alguns impostos não foram cobrados e documentos caducados foram revalidados. Os bancos tiveram de responder, em apenas 40 dias, a pedidos de empréstimo. As famílias mais vulneráveis, em pelo menos quatro províncias, passaram a receber cestas básicas e uma ajuda mensal de 850 kwanzas.
“Para muita gente, esta quantia é nada, porque dá apenas para uma refeição diária”, lamenta Scuman. “Para as empresas, também não foi uma salvação. Continuamos na corda bamba. Nenhuma medida tem sido suficiente para iluminar uma esperança moribunda.”
“Todas as semanas, tenho amigos que me telefonam a informar que perderam o emprego, sobretudo os que trabalham em agências publicitárias, porque ninguém quer investir nesta altura”, lastima-se Scuma, também ele ligado a uma plataforma (Sapo Angola) que depende muito dos anúncios associados aos artigos mais lidos.
“Poucas empresas conseguem reinventar-se. Os restaurantes talvez sejam a excepção, porque, se antes não tinham vida digital, foram obrigados a implementar serviços de take-away para se manterem em actividade.

Burundi: ponto de higienização das mãos num posto móvel montado em Gatumba, na fronteira com a República Democrática do Congo
© Onesphore Nibigira | AFP | Getty Images | thewhig.com
Zenilda Bonito, modelo e editora da revista Chocolate, gestora de carreira de artistas e das redes sociais de algumas empresas, por enquanto não se queixa. Também a viver na capital angolana, continua a ser solicitada para todos estes ofícios, embora uma grande parte do trabalho seja agora feito a partir de casa, tal como acontece com Edmilton Scuman.
O esforço é maior porque o fecho das escolas deixou integralmente ao cuidado desta influencer os três filhos, de 6, 7 e 8 anos. A sua colaboração com a revista de lifestyle ressentiu-se, porque ela escreve sobre gastronomia, e “é difícil “fazer uma boa crítica não podendo visitar restaurantes e descrever a comida e o espaço”.
As sessões fotográficas para campanhas promocionais mantêm-se presenciais, “mas é obrigatório manter o distanciamento”, conta-me Zenilda Bonito, numa conversa por WhatsApp. “Muitos negócios não desistiram de publicitar os seus produtos ou serviços, até porque alguns já reabriram.”
“Estamos todos na expectativa de que a crise termine rapidamente”, confia Zenilda Bonito. Entre os que mais aguardam a reabertura inclui-se o que ela chama de “’classe zunga’, os que precisam do comércio de rua para o sustento diário, porque não têm salário no final do mês”.

Angola: a venda de máscaras comunitárias tornou-se “uma forme de subsistência” para alguns vendedores ambulantes, como atesta a modelo Zenilda Bonito
© Osvaldo Silva | AFP | Getty Images
Ao contrário de Edmilton, que da sua janela vê muita gente desrespeitar o confinamento – “grupos de vizinhos dançando em casa, gente a beber em grandes aglomerações” –, Zenilda acha que a maioria das pessoas “até se porta bem”, porque “usa máscara e o frasquinho do álcool-gel”.
“Estamos conscientes, mesmo os que acham que precisam do dinheiro, mais para comprar comida do que para o gel ou a máscara, até porque quem não cumprir terá a polícia em cima”, garante Zenilda. “Os vendedores ambulantes começaram a fazer máscaras de pano, mais baratas do que as das farmácias e talvez com menos protecção, porque o uso é obrigatório e é uma forma de subsistência.”
“Este é nosso dilema: morremos do vírus ou de fome?”, comenta o jornalista Scuman. “Em Angola há muitos alfaiates que se dedicaram a confecionar máscaras, assim como estilistas conceituados. Isto ajudou a desinflacionar os preços. O Governo já havia encerrado muitos estabelecimentos e detido os donos, para travar o caos especulativo.”
“As ruas estão mais coloridas com máscaras de tecidos africanos. Uma máscara normal varia entre 1000 e 3000 kwanzas, mas o angolano, que é muito dado à moda, chega a comprar máscaras de designers famosos por 8000 kwanzas [num país onde o salário mínimo é de 21.454 kwanzas, o equivalente a 60 euros]”.
“O angolano é um ser sobrevivente”, enaltece Zenilda. “Já no tempo da guerra civil [1975-2002], havia falta de alimentos e as pessoas nunca deixaram de ir à procura. O Estado também continua a dar subsídios. Os preços da comida não subiram ainda.”
“Muitas ONG juntaram-se para ajudar os mais desfavorecidos. O governo provincial de Luanda interveio para acolher as meninas de rua. Artistas actuam [no Facebook] Live, para angariar fundos, porque os concertos foram cancelados – eu costumo dizer que, se Angola vivesse do PIB das festas, estaríamos em melhor situação económica do que com o petróleo.”

Uganda: distribuição de alimentos durante o período de confinamento
© Sumy Sadurni | AFP | Getty Images | axios.com
Apesar das restrições sociais, Zenilda Bonito não vê sinais de descontentamento popular, e invoca os elogios à ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta. Edmilton concorda que, apesar de “uma certa confusão inicial”, Angola foi célere a tentar travar a transmissão comunitária do coronavírus.
“Formaram-se brigadas de resposta rápida e foi até criada uma linha telefónica para denúncias de casos suspeitos e dos que não cumprem a quarentena”, especifica Scuman. “Só com dois casos, no final de Março, foi decretado o estado de emergência, limitando a liberdade de circulação e impondo o confinamento.”
“Foram criados ‘trios eléctricos’ ou carros de som, para exortar as pessoas a permanecer em casa e lavar as mãos várias vezes ao dia. Nesta campanha de higienização, foram também distribuídos panfletos, porta a porta – não só em português, mas nas várias línguas de Angola. Foram encerradas fronteiras e criadas cercas sanitárias interprovinciais – quem estivesse em Luanda, não poderia sair para ir a Benguela, por exemplo.”
O que Edmilton Scuman lamenta é que as pessoas não tivessem tido o “tempo necessário de se preparar para a fome” que se avizinha. “Fomos forçados a ficar em casa, para benefício da saúde de todos, mas esta medida transformou-se numa faca de dois gumes, porque a classe mais pobre não estava à espera de ficar sem trabalho.”
O número de detenções é revelador de como nem todos acataram o estado de emergência. Ao 45º dia, a polícia fez um balanço de um total de 12 mil crimes, a maioria relacionados com especulação e açambarcamento.

Gana: mulheres com máscaras comunitárias conversam no mercado de Nima, em Acra, a capital, em 20 de Abril, o dia que foi levantado parcialmente o confinamento
© Francis Kokoroko | Reuters | theafricareport.com
Zenilda Bonito acha que, “comparada com o resto do mundo, Angola pode dar graças a Deus”, porque muitos casos “são assintomáticos, nenhum precisou [até 15 de Maio] de ventiladores e há vários recuperados.”
As estatísticas “não significam que o serviço nacional de saúde esteja preparado, mas a verdade é que vivemos num continente habituado a pandemias. Em pouco tempo sofremos surtos de Ébola, de Marburg [outro tipo de febre hemorrágica], de febre amarela. Temos experiência e a nossa situação não é ainda alarmante.”
As previsões do secretário de Estado da Saúde, Franco Mofinda, eram as de que Angola chegaria aos “10 mil casos até 18 de Maio”. A quatro dias desta data, nem sequer havia meia centena, e isto causa perplexidade: “Será que não fizemos os testes suficientes ou estamos a controlar a situação?”, interroga-se Scuman.
“Somos 30 milhões e nem um milhão foi testado. Com poucos testes, nunca saberemos a verdade sobre o número real de infectados. Temos mais dúvidas do que certezas. Porque é possível que, com o cansaço do estado de emergência, a fome se atravesse e desfaça o que foi conseguido até aqui.”
“Angola não está preparada – e as autoridades admitem isso – para viver o cenário italiano”, frisa Scuman, que padece de asma crónica e sabe bem o que é passar várias noites num hospital público, com longas filas de espera, doentes a morrer à sua frente sem oxigénio, profissionais de saúde sem luvas ou acesso a seringas. “O sistema de saúde simplesmente explodirá.”
O jornalista repete aos amigos e familiares que, até haver uma vacina, todos devem manter-se vigilantes. Mas como impor a lavagem frequente das mãos num país onde “só 40%” dos habitantes tem acesso a água potável?
“Como convencer o meu barbeiro, a minha mãe e até a minha irmã de que o coronavírus não é um mito, não é uma doença de países frios? Há quem acredite que ainda pode viver no mundo antigo, que nada mudou. É preciso que as pessoas acordem. Muitas ainda dormem um sonho lindo, sem acreditar que o pesadelo já bateu à nossa porta.”
“Até podemos ter um número baixíssimo de infectados, mas temos um altíssimo número de afectados, na saúde e na economia. E, sem desprimor para os idosos, o grupo de risco, somos nós os jovens – 70% da população angolana – quem mais padece. A situação não voltará ao normal. Talvez fique apenas mais ou menos.”
ACTUALIZAÇÃO:
Em 22 de Setembro, quando este artigo foi colocado neste “site”, o número de casos positivos de SRARS-CoV-2 em África ascendia a 1.412.310 e o de mortes a 34.72. Haviam recuperado 1.158.162 infectados. A África Austral é a região que regista o maior número de casos de infeção (720.378) e de mortes (17.189), seguindo-se o Norte de África (301.375 e 10.077), a África Ocidental (172.594 e 2580), a África Oriental (160.977 * 3.155) e a África Central (56.986 * 1.071). O país mais afectado do continente é a África do Sul: 661.936 casos e 15.992 mortes. Seguem-se o Egipto, com 5787 mortes e 102.141 infetados e 5787 mortes, Marrocos (101.743 * 1830) ) e Argélia (1679 * 50.026).
Na comunidade de Países Língua Oficia Portuguesa PALOP), Angola contabiliza o maior número de mortos (154 para 4117 casos) e Moçambique o maior número de casos (6912 infectados e 44 óbitos). A Guine Equatorial regista 83 vítimas mortais e 5018 infetados; Cabo Verde 52 mortos e 5281 casos; a Guiné-Bissau 39 mortes e 2324 infectados; e São Tomé e Príncipe 15 mortes e 908 infectados.

Zenilda Bonito, modelo e editora da revista Chocolate, gestora de carreira de artistas e das redes sociais de algumas empresas em Angola
© Cortesia de Zenilda Bonito | Courtesy of Zenilda Bonito

Edmilton Scuman, jornalista angolano
© Cortesia de | Courtesy of Edmilton Scuman
Um continente sem imunidade
Da emergência de novos ao ressurgimento de velhos organismos patogénicos, África não tem sido poupada aos muitos vírus, bactérias, parasitas e fungos que afligem a humanidade. Esta é uma cronologia de epidemias e pandemias que afectaram e/ou infectam quase todos os Estados regionais.

Cientistas que estudam o novo coronavírus no Instituto Pasteur em Dakar, Senegal
© Seyllou | AFP | Getty Images | TIME
(803 a.C.)
Peste da Guerra do Peloponeso
A primeira grande epidemia de que há memória, relatada pelo historiador Tucídides (c.460 a.C. – 400 a.C.), terá sido causada por um vírus originário da Etiópia, no Corno de África. Exterminou um terço da população da Grécia Antiga. Chegou aqui através de navios que vinham do porto de Pireu, quando Atenas e Esparta disputavam o controlo do Mar Mediterrâneo. Também conhecida como “Peste de Atenas”, crê-se que terá sido uma epidemia de febre tifóide provocada pela bactéria Salmonella tiph.
(165-180)
Peste Antonina
Supostamente um surto de varíola que, no século II, matou cerca de 5 milhões de pessoas, tem sido considerada uma “epidemia global”, dado que afectou uma vasta área geográfica do Império Romano, que incluía vários territórios da Europa, Norte de África e Médio Oriente. Há duas versões para os lugares de origem: uma, a de que foi disseminada a partir da cidade de Seleucia (actual Iraque); outra, a de que começou no Egipto. Certo que é a propagação da doença se ficou a dever a um grande movimento demográfico, sobretudo de soldados que regressavam a Roma vindos da sua campanha oriental. A Peste Antonina não poupou nenhuma classe social – até o imperador Marco Aurélio morreu infectado por ela, em 180 –, e teve um profundo impacto mental, social, económico, cultural, religioso e militar (dizimou o exército romano) em todo o império.
(c.541-c.750)
Praga de Justiniano
Terá sido o primeiro surto de peste bubónica e “a primeira pandemia da História”. Causou cerca de 200 milhões de mortos em todo o mundo. Foi no Egipto que a infecção se propagou “de modo rápido e letal”, como testemunha Procópio de Cesareia no II volume da sua História das Guerras, onde descreve as campanhas militares do imperador romano Justiniano e como os seus soldados espalhavam a doença pelos diversos portos em que desembarcavam. A peste bubónica, que ainda não foi erradicada, é uma das três formas de infecção (as outras são a peste pulmonar e a peste septicémica) provocadas pelo bacilo Yesinia pestis, que vive em roedores e nas suas pulgas. Em 542, quando chegou a Constantinopla, capital do Império Bizantino, hoje Istambul, na Turquia, a Peste Justiniana chegou a causar, segundo Procópio, “cerca de dez mil mortes por semana”.
(1346-1353)
Peste Negra

Embora seja agora uma doença rara, a Peste Negra ainda afecta frequentemente locais da África subsariana e das ilhas de Madagáscar (na foto), onde, em 2018, um novo surto infectou 1231 pessoas e causou 124 mortos, segundo a OMS
© AFP | The Sun
Assim chamada devido às manchas negras na pele dos infectados, terá reduzido a população mundial de 475 milhões para 350-375 milhões. A “primeira pandemia do século XX”, um outro tipo de peste bubónica, foi um morticínio sobretudo para a Europa Ocidental (aqui matou 60% da população), mas também não poupou a Ásia, onde terá começado, o Norte de África, a África Ocidental e a África Oriental. É considerada “a pandemia mais devastadora da história humana” e não foi a última, porque a doença se manteve endémica nos séculos seguintes: a Peste de Milão, Brescia e Veneza, no século XVI; a peste de Nápoles, em 1656; a Peste de Londres, em 1655 (terá causado 70 mil mortes); a Peste de Viena, em 1713; e a Peste de Marselha, em 1720 (dizimou quase metade da população). Entre 1894 e 1912, registou-se outra pandemia que terá provocado 11 milhões de mortes – teve origem na Índia e chegou à China e aos EUA, através da costa do Pacífico. Embora seja agora uma doença rara, a Peste Negra ainda afecta frequentemente locais da África subsariana e das ilhas de Madagáscar, onde, em 2018, um novo surto infectou 1231 pessoas e causou 124 mortos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
(1852-1860) | (1910-1911) | (1961-)
Cólera

Entre 2008 e 2009, uma epidemia de cólera no Zimbabwe (na foto) causou mais de 4000 mortos, segundo a Organização Mundial de Saúde
© Joanna Stavrop | msf.org.br
Intermitente desde o início dos anos 1800, foi em 1852-1860 que ocorreu a terceira e mais letal das sete epidemias de cólera. Tal como a primeira e a segunda, proveio da Índia. Através do Rio Ganges chegou ao resto da Ásia, à Europa, à América do Norte e a África, matando um milhão de pessoas. Ligada directamente ao saneamento básico e à higiene, a cólera é uma infecção do intestino delgado causada pela bactéria Vibrio cholerae e transmitida através da ingestão de água e alimentos contaminados ou por contaminação fecal-oral. Em 1910-1911, foi igualmente assolador o sexto surto de cólera, também originário da Índia. Matou aqui mais de 800 mil pessoas, antes de se espalhar pelo Médio Oriente, Norte de África, Europa de Leste, Rússia e EUA (onde em 1911 foi erradicada). Em 1961, mais um surto de cólera proveniente da Indonésia disseminou-se, ao longo de uma década, por outras regiões da Ásia, Médio Oriente e África, e ainda hoje continua activa. Nos anos 1990, pela primeira vez num século, chegou à América do Sul. Em 2008-2009, no Zimbabwe, causou mais de 4000 mortos. No Haiti e no Iémen, infectou mais de meio milhão de pessoas. Todos os anos, segundo a OMS, há 3 a 5 milhões de casos de cólera, doença que permanece endémica em cerca de 50 países. As vacinas introduzidas nos anos 1990 não substituem uma melhoria das condições sanitárias.
(1918-1920)
Gripe Espanhola
Sem consenso quanto à sua origem, a “Gripe Espanhola” ou “Gripe Pneumónica” propagou-se no auge da I Guerra Mundial. Terá infectado aproximadamente 500 milhões de pessoas e matou entre 50 e 100 milhões – cerca de um terço da população mundial. A violência deste surto, com origem na China (que transportou em navios e contentores 96 mil soldados para as frentes de batalha em França), é atribuída ao vírus da gripe subtipo A (H1N1). De origem aviária, sofreu mutação e adquiriu capacidade de se transmitir pessoa a pessoa. Na altura, não havia antibióticos (o primeiro, a penicilina, só seria descoberto em 1928, por Alexander Fleming) nem vacinas. De todos os continentes, África foi o que sofreu a mais elevada taxa de mortalidade: em seis meses perdeu 2% da sua população. Dez a 12 milhões de crianças ficaram órfãs. A região subsariana foi a mais afectada, em termos demográficos, sociais, económicos, médicos, culturais, psicológicos, religiosos e espirituais.
(1956-1958)
Gripe Asiática
A “segunda pandemia do século XX” causou cerca de dois milhões de mortos, segundo a OMS. Foi provocada por um vírus influenza A do subtipo H2N2, transmitido aos humanos a partir de porcos, daí a designação de “peste suína”. Teve origem na província chinesa de Guizhou, propagando-se por Singapura e Hong Kong, até chegar aos Estados Unidos, ao Sul da Europa, à América do Sul e Central e a África.
(1968-1969)
Gripe de Hong Kong
Provocada pelo vírus influenza A do subtipo H3N2, que ainda circula, dispersou-se rapidamente pelo Leste e Sul da Ásia, chegando à Austrália, Europa e América do Norte, e depois a África e à América do Sul. Matou cerca de um milhão de pessoas, uma taxa de mortalidade considerada “baixa” dadas as semelhanças genéticas com a gripe asiática (H2N2 e por haver uma certa imunidade de grupo.
(1981-)
VIH-sida

A epidemia de sida matou dezenas de milhões de pessoas em África, onde ainda há cerca de 40 milhões de infectados, mais de dois terços (65%) dos quais na região subsariana (na foto, duas profissionais de saúde visitam uma comunidade na Cidade do Cabo, África do Sul, para efetuarem testes ao VIH a residentes de uma comunidade local)
© Kim Cloete | HPTN 071 (PopART) study | The New York Times
Uma rara forma de pneumonia foi detectada em 1981 pelo Centro para a Prevenção e Controlo das Doenças (CDC) dos Estados Unidos da América, que depois a classificou como Síndroma de Imunodeficiência Adquirida (sida), o estádio mais avançado do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH). A introdução de terapias retrovirais ajudou a diminuir o número de mortes nos EUA, mas a epidemia cresceu exponencialmente em África, onde morreram dezenas de milhões de pessoas, e onde ainda há cerca de 40 milhões de infectados, mais de dois terços (65%) das quais na região subsariana.
(2002-2003)
SARS
A Síndroma Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla inglesa) contaminou mais de 8000 pessoas e matou quase 800, a maioria na China, onde começou. Esta doença respiratória viral foi causada pelo coronavírus SARS-CoV. Pensa-se que tenha tido origem em gatos-de-algália infectados por morcegos, vendidos em mercados para consumo alimentar. Embora o número de mortes tenha sido relativamente baixo, a SARS foi descrita pela OMS como “a doença mais alarmante do século”. Obrigou a confinamento social e quarentena, encerrou escolas, interrompeu viagens, paralisou economias e esvaziou as ruas de numerosas cidades. Em 2012, foi detectada na Arábia Saudita uma nova variante de coronavírus (MERS-CoV, do inglês Middle East Respiratory Syndrom-related Coronavirus), transmitido aos humanos a partir de camelos. Morreram desta doença mais de 850 pessoas.
(2009-2010)
H1N1
Um novo vírus de influenza, também conhecido por “Febre Suína” por estar associado a vírus que circulam em porcos, começou a propagar-se, no início de 2009, no México e nos EUA. Foi a primeira pandemia global de gripe em quatro décadas. Terão morrido entre 151.700 e 575.400 pessoas em todo o mundo. Cerca de 80% dos que perderam a vida tinham menos de 65 anos. O H1N1, cuja estirpe ainda continua a circular sazonalmente, apesar de a OMS ter anunciado o seu fim em Agosto de 2009, afectou mais de 70 países, trinta deles em África, onde se registaram 107 mortes.
(2014-)
Poliomielite
O vírus da poliomielite que tinha sido quase erradicado após campanhas maciças de vacinação nos anos 1990 ressurgiu em África e na Ásia. Uma doença que afecta principalmente crianças e jovens, sendo difícil de dominar em zonas de conflito, continua endémica em três países: Nigéria, Afeganistão e Paquistão. Em Abril de 2020, a OMS informou que iria suspender a vacinação contra a poliomielite em África (privando desta assistência 12 milhões de crianças), para poder redirecionar os recursos para o combate à propagação da Covid-19. O impacto desta doença fez-se sentir imediatamente no Níger, que anunciou dois novos casos de poliomielite, quatro meses depois de ter erradicado a doença e após um surto que durou quase dois anos.
(2013-2016)
Ébola

Directamente associada ao nível de circulação do vírus nos pacientes, a taxa de mortalidade do Ébola, uma febre hemorrágica, oscila entre os 22 e os 88%. No último surto, foi de 50% (na foto, o enterro de uma vítima de Ébola, em Beni, na República Democrática do Congo)
© Hugh Kinsella Cunningham | EPA | The New York Times
A epidemia que, em 2013-2016, assolou violentamente a África Ocidental, e em particular a Guiné-Conacri, a Libéria e a Serra Leoa, foi, segundo a OMS, “o maior e mais complexo” de mais de uma dúzia de surtos de Ébola que ocorreram no continente desde que o vírus – existente há mais de dez mil anos – foi identificado em 1976. Uma doença infecciosa que afecta primatas humanos e não humanos, crê-se que morcegos sejam o seu reservatório natural. Directamente associada ao nível de circulação do vírus nos pacientes, a taxa de mortalidade desta febre hemorrágica oscila entre os 22 e os 88%. No último surto, foi de 50%. A elevada mortalidade não se explica por o Ébola ser muito contagioso, mas porque, pela primeira vez, escapou de áreas rurais e atingiu zonas urbanas densamente povoadas, onde a transmissão pessoa a pessoa se tornou imparável. Um dos factores que mais contribuíram para o agravamento da crise foi a pobreza das comunidades nas áreas afectadas, onde frágeis sistemas de saúde foram incapazes de travar a propagação da doença. Antes da epidemia, a Libéria tinha 44 médicos, 1131 enfermeiros e 335 farmacêuticos para 4,2 milhões de habitantes. Na Serra Leoa e na Guiné-Conacri, a situação não era melhor: 2 e 10 médicos, respectivamente, para cada 100 mil habitantes. Depois da crise, a situação agudizou-se: mais de 500 profissionais de saúde morreram vítimas do Ébola nos três países. Em retrospectiva, pode dizer-se que houve duas epidemias de Ébola: na África Ocidental, sobretudo na Guiné (Conacri), na Libéria e na Serra Leoa, infectou cerca de 28 mil pessoas e matou 11.300, gerando caos, imenso sofrimento e medo, amplificados pela falta de liderança nacional e respostas internacionais. Também se registaram casos isolados na Nigéria, no Senegal e no Mali. Em países ocidentais, onde só três pessoas foram infectadas (2 nos EUA e 1 em Espanha), a epidemia foi sobretudo de pânico, devido a uma comunicação deficiente por parte das autoridades de saúde e ao alarmismo dos media. Alguns estudos têm procurado quantificar o número de mortes indirectas causadas pela epidemia de Ébola. Um deles estima que, por as pessoas terem ficado com medo de recorrer aos serviços de saúde e vacinação, se registaram 11 mil óbitos adicionais – por paludismo/malária, VIH/sida e tuberculose – na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa. Só na Guiné, calcula-se que 74 mil casos de paludismo ficaram sem tratamento em 2014, e que, no mesmo período, diminuiu em 60% o número de crianças tratadas por diarreia e infecções respiratórias agudas. No que toca à mortalidade materna, outro estudo refere um aumento de 38% na Guiné de 111% na Libéria, onde, constatou a UNICEF, 70 mil nascimentos não foram sequer registados desde que o surto irrompeu.

A primeira vacina contra o paludismo/malária, “Mosquirix”, foi introduzida em 2019 apenas em algumas áreas seleccionadas do Malawi, Quénia e Gana. Só em 2021, será tomada uma decisão sobre se deve ser minisrada a outras regiões
© Thoko Chikondi | sciencemag.org
(2015-)
Paludismo/Malária
As infecções por esta doença, provocada por várias espécies de protozoários e transmitida através de mosquitos, registaram uma descida global em mais de um terço, em 2015, e em comparação com 2000, anunciou a OMS. No entanto, apesar dos esforços da ONU e da Fundação Bill & Melinda Gates em erradicar a doença até 2040, o paludismo/malária continua a afectar anualmente mais de 500 milhões de pessoas e a causar entre um milhão e três milhões de mortes – dois terços das quais crianças com menos de 5 anos. As regiões mais afectadas são a Índia e a África Subsariana. Aqui se concentram 93% dos casos.
(2015-2016)
Zika
Um surto deste vírus, identificado pela primeira vez no Uganda nos anos 1940 e transmitido principalmente por mosquitos, assolou o Brasil em 2015. Em meados do ano seguinte, o vírus já havia chegado a mais de 60 países. Milhares de mulheres infectadas deram à luz bebés com microcefalia, condição neurológica que resulta de um problema no desenvolvimento cerebral durante a gestação ou após o parto – a cabeça é significativamente menor do que a de outras crianças da mesma idade e género. Em Novembro de 2016, a OMS declarou o fim desta epidemia.
(2018-)
Ébola
Em Agosto, a República Democrática do Congo (RDC, ex-Zaire) deu conta de um novo surto deste vírus no nordeste do país. Vários casos foram posteriormente detectados ao longo da fronteira com o Uganda. Em Julho, a OMS activou o seu programa de emergência, apelando à assistência internacional para debelar a crise. No início de 2020, o surto abrandou, mas não desapareceu, em particular em Beni, província do Kivu-Norte. Até 21 de Abril, confirmaram-se 3310 casos positivos, dos quais resultaram 2279 óbitos (uma taxa de mortalidade de 66%). Do total de casos confirmados e dos 145 suspeitos, pelo menos 56% são mulheres, 28% menores de 18 anos e 5% profissionais de saúde. No mesmo período, estima-se em 1160 o número de pessoas recuperadas.
(2019-)
SARS-CoV-2 | COVID-19

Os coronavírus, entre eles o SARS-Cov-2, afectam o sistema respiratório, podendo ser semelhantes a constipações comuns ou evoluir para doença mais grave como a pneumonia
© plataformamedia.com
Um novo coronavírus (até à data conhecem-se oito que pode afectar os humanos) surge na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China, propagando-se rapidamente por quase todo o mundo. Em Março de 2020, o SARS-Cov-2 já atingia mais de cem países, levando a OMS a declarar que o surto se tornou numa pandemia. Segundo dados recolhidos pelo Africa Center for Disease Control e pela John Hopkins University, em Baltimore, Maryland/EUA, há casos positivos de COVID-19 (a doença designada pela OMS “Coronavirus Disease 2019”) nos 54 países do continente africano (o último a ser contagiado, em Maio, foi o Lesoto). Os coronavírus afectam o sistema respiratório, podendo ser semelhantes a constipações comuns ou evoluir para doença mais grave como a pneumonia. Esta já é responsável por 90% das infecções respiratórias e mais de 800 mil mortos por ano em África.
Fontes:
Africa Center for Disease Control, “Peste Antonina: Uma peste global no século II d.C.”, de André Sáez (Revista Chilena de Infectología); “As Grandes Epidemias da História”, de Joffre Marcondes de Rezende (Ed. Unifesp); Barcelona Institute of Global Health; Centro para o Controlo e Prevenção das Doenças da União Africana; Council on Foreign Relations; Direção-Geral da Saúde; “El País”; “International Encyclopedia of First World War”; Instituto de Higiene e Medicina Tropical; Organização Mundial de Saúde; John Hopkins University; The African Exponent; US National Library of Medicine.

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Estes artigos, agora actualizados, foram publicados originalmente na revista ALÉM-MAR, edição de Junho de 2020 | These articles, now updated, were originally published in the Portuguese news magazine ALÉM-MAR, June 2020 edition