A 7 de Janeiro e não a 25 de Dezembro, porque o seu calendário é juliano e não gregoriano, a maior comunidade cristã do Médio Oriente “sai do gueto” para exigir os seus direitos. (Ler mais | Read more…)

Reparar os danos causados por homens armados, num ataque a uma igreja cristã copta, no bairro de Waraa, no Cairo, em 20 de Outubro de 2013. Os atacantes não foram identificados
© Mohsen Nabil | AP
Hany Wahba, engenheiro eléctrico de 31 anos, estará domingo [6 de Janeiro de 2013] na Catedral de São Marcos, no Cairo, das 19h até à missa da meia-noite, para celebrar o Natal dos cristãos ortodoxos coptas, que se assinala a 7 [de Janeiro].
“Não temos muitos motivos para festejar, com um Presidente (Mohamed Morsi) da Irmandade Muçulmana [destituído e preso em Julho de 2013] e uma Constituição que nos aproxima de um Estado Islâmico”, diz o jovem egípcio, numa entrevista que nos deu, por telefone. “Vivemos agora pior do que durante o regime de Hosni Mubarak”.
Apesar de tudo, Hany e o seu amigo, “mais religioso”, Mina Thabet, estudante de Engenharia de 24 anos, estarão juntos a rezar “pela salvação do Egipto”.
Diz-nos Mina, líder do Maspero Youth Union, também por telefone: “Temos agora um novo Papa [Tawadros II] e queremos saber como podemos vencer o medo, que não é só da maior comunidade cristã do Médio Oriente mas de todos os egípcios.”
Hany entristece-se quando lembra que muitas pessoas nem sequer lhe desejam Feliz Natal. “Muitos salafistas emitiram fatwas [éditos] que condenam à morte quem nos saudar dessa forma, porque isso é considerado um reconhecimento de que Jesus é mais do que um profeta – é muito triste!”
O Natal dos coptas ortodoxos – 10 a 20% dos 80 milhões de egípcios – não é celebrado a 25 de Dezembro como o de outros cristãos (incluindo os coptas católicos e protestantes, cerca de 800.000), porque eles ainda usam o calendário juliano, adoptado por Júlio César em 46 a.C., e modificado por Augusto, outro imperador de Roma, em 8 d.C..
Este calendário tem 365 dias, ao qual se acrescenta um ano bissexto, a cada quatro anos. Desse modo, deixou de ficar sincronizado, em 13 dias, com o calendário moderno gregoriano, promulgado pelo Papa Gregório XIII em 1582.

O Papa Tawadros II, líder espiritual da Igreja Copta do Egipto (esq.), preside à Missa de da Meia-Noite, na véspera de Natal, na Catedral de São Marcos, no Cairo, em 2013
© Khaled Elfiqi | EPA
O Cristianismo egípcio remonta à fundação da Igreja de Alexandria, por São Marcos, em 43 d.C., o que faz dos coptas uma das mais antigas comunidades – liderada por uma hierarquia clerical distinta. Eles recusam-se a ser tratados como “minoria religiosa”, até porque a origem etimológica (e geográfica) de “copta” é kpt, o modo como os árabes pronunciavam a palavra grega Egipto (Aigyptos).
Os coptas rejeitaram o Concílio de Calcedónia, que impôs, em 451, o conceito de que “Cristo tem duas naturezas: uma terrena e outra divina”.
Foram chamados de “monofisitas”, um termo que consideram pejorativo, classificando-se oficialmente como parte da “Igreja Ortodoxa Oriental”, na qual se integram também os arménios, os etíopes e os siríacos – mas não os ortodoxos gregos e russos, que cindiram do catolicismo posteriormente.
Todas as festividades coptas são precedidas de um período de jejum – o do Natal é de 43 dias, assinalando os 40 dias em que Moisés atravessou o deserto, com fome e sede, para receber os Dez Mandamentos.
Mina Thabet, por exemplo, confessou que estava exausto porque desde 25 de Novembro não comia carne, peixe, ovos e lacticínios, de manhã até ao início da noite, ainda que precisasse de estudar intensamente para o último exame na universidade, a 1 de Janeiro.
Só no domingo, 6 de Janeiro, fim do Advento, à meia-noite, quando começa o Natal, ele quebrará a abstinência, “para receber, sem mácula, o corpo e o sangue de Cristo”. Irá também saborear um pão especial que é distribuído pelos fiéis, durante a Eucaristia; chama-se Qurban, tem uma cruz ao meio e está rodeado por 12 estrelas, que representam os 12 apóstolos de Jesus.
Na casa de Mina e de Hany há “algumas decorações natalícias, como velas e árvores iluminadas”, mas os coptas “não têm a tradição ocidental de trocar presentes”, embora algumas crianças recebam uma pequena quantia de dinheiro (el’aidia), para comprarem doces, brinquedos ou gelados, explica Thabet.
“Todos se vestem com roupas novas, sim, e depois da missa reunimo-nos com a família e os amigos, em casa, parques, cinemas – mas só depois de comermos fatta, um prato à base de arroz e carne.”

Cristãos coptas egípcios celebram a festa da Assunção da Virgem Maria ao Céu , em 20 de Agosto de 2007, na aldeia de Doronka, cerca de 400 quilómetros a sul do Cairo, a capital
© Khaled Desouki | AFP
Hany e Mina, ainda que ansiosos pelas celebrações, não escondem também as preocupações. “Os coptas, em particular, e a maioria dos egípcios, em geral, vivem apavorados”, frisa o primeiro. “Temos de mudar este país, por isso me inscrevi em várias organizações da sociedade civil e políticas.
O Presidente, Mohamed Morsi, está há seis meses no poder e ainda não nos deu nada. Talvez precisemos de outra sublevação. Não gosto que me despejem numa segunda classe. Ser copta é a minha religião, mas não me define como cidadão e, como cidadão, eu exijo os meus direitos.”
Inquirido sobre qual o seu melhor Natal, Mina Thabet hesita na resposta. “Só me lembro do pior: em 2011, quando uma igreja em Alexandria foi atacada. Morreram 24 pessoas, a maioria mulheres e crianças. Foi uma tragédia; um dos piores crimes contra os coptas. Este ano, espero que seja melhor; já é especial por termos um novo Papa, e depois porque acredito que Deus me ajudará nesta nossa luta por um país melhor.”
Mais céptico, Hany Wahba lamenta: “As tensões confessionais sempre existiram, mas nunca a impunidade foi tão ostensiva. “Há cada vez mais ataques pessoais e contra igrejas (“pelo menos 16 foram incendiadas”), além de expropriação de bens e a proibição, que vem do tempo de Hosni Mubarak, de construir novos lugares de oração.” Hany não esquece, em particular, o chamado “massacre de Maspero”, cometido em 9 de Outubro de 2011.
Nesse dia, forças de segurança mataram 27 coptas e feriram mais de 300, quando protestavam contra a destruição de um templo no Alto Egipto.
“Exames forenses mostraram que pelo menos 14 pessoas foram esmagadas por carros de combate e as restantes foram mortas por munições reais, mas o tribunal arquivou o processo por ‘falta de provas’ para punir os culpados”, critica Hany.
“Se eu tivesse a certeza de que arranjaria emprego no estrangeiro, já não viveria aqui; estou [cá] porque tenho de zelar pela minha mãe e pela minha irmã.”
O destino de Hany seria os Estados Unidos, onde o número de coptas que deixam o Egipto, fugindo da perseguição e da crise económica, aumentou cerca de 30%. Aos 350 mil que já viviam na América antes da revolução, juntaram-se mais 100 mil, segundo a emissora pública de rádio, a National Public Radio (NPR).
Muitos chegam com vistos de turista e depois pedem asilo político, concentrando-se sobretudo em Nova Iorque, Nova Jérsia e Sul da Califórnia. Muitos dos que abandonam as suas casas já não são apenas os da classe média e das cidades, mas também os menos cultos e mais pobres das zonas rurais.

Um paroquiano copta mostra um livro de orações resgatado após um ataque à Igreja do Arcanjo Gabriel, no Egipto
© Laura King | Los Angeles Times
Hany Wahba pertence à classe média. Frequentou uma universidade católica privada onde, garante, nunca foi alvo de abusos físicos ou verbais, “mais frequentes nas escolas públicas”.
Um revolucionário orgulhoso, Hany foi dos primeiros coptas a desobedecer ao Papa Shenouda III e a ir para a Praça Tahrir, exigir a queda de Mubarak. Esteve “em todas as manifestações” contra o Conselho Supremo das Forças Armadas, quando este era liderado pelo temível marechal Tantawi.
“Foi um período curto em que muçulmanos, cristãos, bahá’ís e outros tinham como objectivo a unidade. Mas depois, face à irresponsabilidade do Ministério do Interior e de alguns pregadores salafistas, que encorajam os criminosos, a paz nacional tornou-se uma miragem.”
Co-fundador da Aliança Socialista Popular, “um partido não religioso em que os muçulmanos constituem a maioria dos membros”, Hany tem a certeza de que “os coptas estão a sair do gueto” em que Shenouda os colocou, “como forma de os proteger”. Os cristãos, frisa, “têm de deixar a religião para a Igreja, e a Igreja tem de se afastar da política.
São os crentes que têm de se integrar nas diversas forças políticas como cidadãos”. Por isso, a sua Aliança é uma das componentes da Frente de Salvação Nacional, da qual fazem parte também os grupos de Mohamed ElBaradei, antigo director da agência da ONU para o nuclear, e Amr Moussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe.
Hany reconhece que a oposição tem estado dividida, “devido aos muitos egos dos líderes”, mas acredita que após a aprovação da nova e polémica Constituição em referendo (cerca de 60% votaram a favor mas pouco mais de 30% foram às urnas), “há agora maior vontade de superar as divergências, e enfrentar em conjunto a ditadura absoluta da Irmandade Muçulmana.”

Fiéis escutam o sermão de um padre copta, em 26 de Julho de 2012, na igreja de São Samaans (Simão), conhecida como igreja da Gruta, na aldeia de Mokattam, no Cairo. Uma vez por semana, os cristãos egípcios reúnem-se aqui, depois das orações, para serviços de exorcismo ou benção dos doentes. O Mosteiro de São Simão é o maior no Médio Oriente, com um anfiteatro capaz de acolher cerca de 20 mil pessoas. Simão viveu no final do século X, quando o Egipto era governado pelo califa muçulmano da dinastia fatimita (xiita) Al-Muizz Lideenillah
© Gianluigi Guercia | AFP | Getty Images
Alguns dos partidos da Frente já decidiram concorrer numa mesma lista nas próximas eleições legislativas, o que, para Hany, “tem vantagens – como uma melhor estrutura logística, que permita chegar às zonas mais conservadoras; e desvantagens – como correrem o risco de a votação ser apresentada como uma escolha entre os que estão a favor e contra Deus”.
“A situação económica é dramática e a política de Morsi não é diferente da de Mubarak, porque depende das ordens do Fundo Monetário Internacional, que está a exigir aumento de impostos e de preços dos alimentos, e também a desvalorização da moeda nacional”, salienta Hany. “Acho que nem o ditador deposto se atreveria a fazer isto, porque isto só aumenta a pobreza e a revolta!”
Tendo já provado as medidas amargas de Morsi, será que os egípcios voltarão a dar à confraria do Presidente e aos salafistas a maioria que detinham no Parlamento anterior, dissolvido pelos militares?
“Talvez não, mas temo que a reacção popular, apesar do desapontamento, seja de apatia; e uma forte abstenção, a par de inevitáveis fraudes, será muito má para a oposição, se esta não aproveitar a oportunidade.”
“É preciso ir aos redutos dos islamistas e informar as pessoas mais ignorantes de que não podem continuar a viver das esmolas dos Irmãos Muçulmanos; têm de exigir que o Estado lhes dê os seus direitos, e esses direitos são escolas ou clínicas, que não podem ser oferecidas como caridade.”
Menos devoto do que Mina Thabet, embora nunca tenha faltado a uma missa de Natal, Hany Wahba está nervoso: “As igrejas estão todas sob forte protecção policial, devido às ameaças que têm sido feitas. Talvez o Governo envie algum representante à catedral; e admito que ElBaradei e Moussa também estejam presentes, porque não têm nada a perder.” Quanto a si próprio, revela que o melhor Natal foi o que antecedeu o fim da licenciatura: “Tinha uma namorada naquele ano, e tudo parecia tão fácil.”
“A diáspora preserva a fé”
Ibrahim Saweros, investigador numa universidade holandesa, explica-nos por que os “filhos dos faraós” estão a fugir do Egipto da Irmandade Muçulmana.

2013: Missa na igreja copta ortodoxa de Santa Maria e Santo António, em Ridgewood, Queens (Nova Iorque, Estados Unidos) durante as celebrações da Quaresma: 55 dias de orações e jejum que precederam a Páscoa
© Robert Stolarik | The New York Times
Autor do blogue e-COPTOLOGY, fluente em língua copta, em árabe, hieróglifos egípcios, grego clássico, inglês e em alemão, investigador na Universidade de Leiden, na Holanda, Ibrahim Saweros vai celebrar o Natal, a 7 de Janeiro, “em liberdade” porque, diz ele, vive na diáspora.
No Egipto, de onde saiu em 2010, não vê sinais de esperança. “Muitos emigrantes investiam em vários sectores, como o turismo, mas agora recomendam-se uns aos outros que encerrem os seus negócios para não ajudar o regime islamista” da Irmandade Muçulmana.
O erudito Saweros explica por que sua comunidade cristã ortodoxa festeja o Natal nesta data: “Seguimos o chamado yea cóptico (também conhecido como o calendário dos mártires do antigo ano egípcio). A 29 do mês de Koiak corresponde o 25 de Dezembro de antes da introdução do calendário gregoriano em 1582.”
Apreensivo quanto ao futuro da pátria que o desiludiu, ele guarda, ainda assim, boas memórias natalícias da sua infância. “Nasci em Tema, uma pequena cidade que pertence ao distrito de Sohag, no extremo sul do Egipto”, conta Saweros, numa entrevista que nos deu, por e-mail.
“No Natal vestíamos roupas novas e fazíamos diversas actividades. Na véspera, 6 de Janeiro, participávamos numa ‘celebração oficial’ com os membros mais idosos da família, partilhando a Eucaristia numa igreja a poucos passos da nossa casa.”
“Durante 3-4 horas de oração, que quase não entendíamos porque era recitada na língua copta, tínhamos de nos mostrar miúdos bem comportados, mexendo os lábios como se soubéssemos rezar de cor, e éramos obrigados a jejuar até ao momento em que recebíamos o Corpo e Sangue de Cristo.”
“No final da missa da meia-noite”, adianta, “corríamos para casa para saborear os melhores pratos confeccionados pela minha mãe, depois de 43 dias abstinência total. Os pratos consistem, sobretudo, em carne de frango e molokhia (um vegetal egípcio cozido em água com sabão).”
“Dormíamos poucas horas para acordar cedo e ir à ‘escola de domingo’, onde assistíamos a peças de teatro, ouvíamos coros e recebíamos um presente especial. A meio do dia, concentrávamo-nos na praça central da cidade ver o fogo-de-artifício.”
Em Leiden, é fácil preservar a fé. “Em parte, graças à Igreja Copta que, desde os anos 1960, mantém todos os serviços religiosos”, refere Ibrahim Saweros “Quando vim para aqui, em Janeiro de 2010, já havia sete templos coptas em toda a Holanda. Eu frequento a igreja de Haia todos os domingos.”

Celebração da Liturgia da Natividade, início do Natal, na Igreja de São Jorge em Brooklyn, Nova Iorque (EUA), em Janeiro de 2013. “Os coptas na diáspora sentem-se mais livres para viver a sua fé do que no Egipto”, diz o investigador Ibrahim Saweros, que vive em Leiden, Holanda
© Spencer Platt | Getty Images | NPR
“Há outros serviços, como uma biblioteca com livros religiosos, em árabe e em neerlandês, uma loja que vende produtos egípcios, sobretudo para os períodos de jejum, e um lugar (tipo café) onde as famílias coptas se reúnem.” Leiden, acrescenta, é “uma cidade internacional onde não só os vizinhos holandeses são amáveis como se conhecem outras pessoas de todo o mundo.”
Na realidade, sublinha, “é muito melhor ser um copta aqui do que no Egipto. Podemos comer, beber, rezar, pensar, vestirmo-nos como queremos e preferimos. É mais fácil construir aqui uma igreja copta do que no Egipto.”
Profundamente devoto, Saweros conhece bem os ritos da sua Igreja: “Celebramos 15 períodos de jejum por ano – sete deles chamam-se “grande jejum”, sendo os da Páscoa e do Natal os mais importantes.
Segundo as Constituições Apostólicas, é obrigatório celebrar o Natal, festa que se relaciona de forma especial com a Eucaristia. As orações começam ao fim da tarde com a cerimónia do incenso. A seguir, vem a liturgia copta, com muitos cânticos entoados apenas nesta ocasião. O Papa, os bispos, os padres, os diáconos envergam as suas melhores vestes eclesiásticas.”
Saweros não especifica as razões por que deixou a pátria, mas o retrato que dela faz sugere que não saiu de livre vontade. “Os coptas têm sido sempre perseguidos e hoje a situação é ainda mais complicada”, lamenta.
“O Egipto sob o poder de islamistas radicais divide-se em duas categorias: uma, a dos que detém o poder e governam o país, é composta por mentirosos cultos e espertos que estão sempre a invocar a tolerância do Islão; na segunda estão aqueles que, em todas as esquinas, usam os punhos e às vezes as armas.”
“Se ocorre, por exemplo, um problema entre dois vizinhos, um árbitro determinará que o vizinho é copta é seguramente o culpado”, precisou.”Pode ser-lhe exigido que dê todos os seus bens ao vizinho muçulmano ou que abandone o local de residência para sempre.”

Ibrahim Isaac Sidrak, Patriarca da Igreja Católica Copta do Egipto (à dir), em Alexandria, com o Papa Tawadros II, da Igreja Copta Ortodoxa
© ahram.org.eg
“Milhares de coptas perderam os seus empregos por trabalharem como Sanai3y (por conta própria), em actividades como pintores ou canalizadores, que podem ser contratados a nível individual”, queixa-se Saweros.
“Muitos têm de esconder a sua identidade (sobretudo as mulheres) para não serem vítimas de violência. Os islamistas radicais fazem tudo para que as povoações sejam 100% habitadas por muçulmanos.”
Ibrahim Saweros está convencido que a nova geração de coptas participará em todos os protestos contra o novo Presidente [entretanto destituído e preso pelos militares], Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, mas crê também que “milhares tentarão encontrar maneira de fugir do Egipto, que perde uma parte importante dos seus cérebros.”
Esta nova geração, de 25 anos e menos, “está a afastar-se da Igreja completamente; nasceu num mundo livre e digital; exprime-se em várias línguas, participa activamente nas redes sociais, e na cena política, ao lado de muçulmanos, sobretudo desde [a revolução de] 25 de Janeiro de 2011, mas não tolera os muçulmanos radicais. São jovens cultos, conhecem bem a sua história.”
A Igreja Copta, como instituição, não se afastará da política, sublinha o investigador em Leiden. “O regime continuará a usá-la como instrumento de poder, tal como usa [a mesquita-universidade de] al-Azhar [reduto do Islão sunita], porque precisa que o clero controle os jovens – revoltados, se não virem as suas reivindicações aceites, tudo se pode esperar deles.”
“Desde há meio século que os coptas têm vindo a emigrar para o Ocidente”, lembra Saweros. É uma diáspora “totalmente conservadora, europeus/americanos de cultura e educação, mas orgulhosos de serem coptas, isto é, filhos dos faraós.”
O maior desafio da comunidade, conclui o devoto copta, é o de “manter a sua identidade sem recorrer à violência. Tem de mostrar aos extremistas que o cerne do Cristianismo é o amor. Tem de os persuadir de que no Egipto há lugar para todos e, para isso, o diálogo tem de infinito.”
Estes artigos foram publicados originalmente no jornal PÚBLICO, em 6 de Janeiro de 2013 | These articles were originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO, on January 6th, 2013