O Atlas Oriente-Ocidente de Natacha

Natacha Atlas traz o velho e o novo Médio Oriente a Lisboa com o seu nono álbum a solo, Mounqaliba – In a State of Reversal. (Ler mais | Read more…)

A última vez que Natacha Atlas veio a Portugal foi em 2006, quando cantou e dançou o seu sublime Ana Hina (“Estou aqui”, em árabe) na Casa da Música, no Porto.

Amanhã [26 de Fevereiro de 2012], a artista que tem servido de ponte entre o Oriente e o Ocidente, regressa para mais um concerto único, agora no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Vem promover o nono álbum a solo em mais de 20 anos de carreira, Mounqaliba – In a State of Reversal.

Convertida ao Islão na sua corrente mais mística (sufismo), filha de um judeu de Jerusalém (de origem egípcia) e de uma católica inglesa, Natacha Atlas continua a entrelaçar raízes familiares que se estendem do bairro marroquino de Marolle, em Bruxelas, onde nasceu a 20 de Março de 1964, até Northampton, no Reino Unido, onde ganhou fama no circuito da world music.

Antiga vocalista e bailarina dos Transglobal Underground (TU), Atlas deixou-se influenciar pelo cocktail da cultura DJ, clássicos indianos, reaggae, bhangra e hip hop dos velhos companheiros daquele grupo electro-étnico, adicionando-lhe o raï da Argélia e o sha’abi do Egipto.

O virtuosismo das suas composições, aliado ao exotismo que emana de um rosto carregado de maquilhagem, roupas coloridas e coleantes mas, sobretudo, da sua sempre exuberante raqs sharki (dança do ventre) facilitaram o êxito daquela a quem chamaram “Rosa Púrpura do Cairo”.

Inspirado nos versos de um poeta, filósofo e dramaturgo indiano Rabindranath Tagore, que, em 1913, se tornou no primeiro Nobel não europeu (Prémio da Literatura), e pontuado por registos sonoros dos intelectuais Peter Joseph e Jacques Fresco, o álbum Mounqaliba contém uma nova evocação da grande diva libanesa Fairouz (Muwashah Ozkourini), oferecendo ainda dois inspiradores covers de Françoise Hardy (La nuit est sur ville) e de Nick Drake (River Man).

Tal como Mounqaliba, os temas Batkalim, Lawzat Nashwa, Ghorous, TaaletNafourat el Anwar destacam-se pela sonoridade inconfundivelmente oriental, ora festiva ora melancólica, com extraordinário requinte vocal e instrumental.

E como em toda a restante obra a solo da autora de Diaspora, Fun does not exist, Halim, Gedida, Ayestheni e Foretold in the Language of Dreams, o mais recente álbum é cantado em árabe, inglês e francês, línguas que Atlas domina na perfeição, a par do hebraico e do espanhol.

É por isso que esta mulher controversa (Bastet, um rap que ataca os sistemas políticos árabes e Mahlabeya, pela sensualidade da frase “quero beber o amor dos teus lábios”, são melodias proibidas do seu repertório) gosta de se definir como “uma nómada”.

A partir deste disco, gravado em Londres e na Turquia, com um excelso Egypt Interlude em que se ouve um muezzim a apelar os fiéis de Alá à oração, Natacha Atlas e Samy Bishai (director musical) decidiram homenagear o povo que na Praça Tahrir derrubou Hosni Mubarak. A remistura do material de Mounqaliba deu lugar ao vídeo Egypt: Rise to Freedom.

Este artigo foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO em 25 de Fevereiro de 2012 | This article was originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO, on February 25, 2012

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