Leszek Balcerowicz não está arrependido do seu plano para “salvar” a economia nacional. As suas medidas deixaram 1,1 milhões de desempregados em empresas públicas que perderam subsídios e/ou foram privatizadas. Para alguns, tratou-se de “uma bênção”. (Ler mais | Read more…)

Para Leszek Balcerowicz, “o problema actual não é o capitalismo, mas os gastos públicos das economias mais proteccionistas”
© Albert Zawada | weekend.gazeta.pl
Diversos edifícios da avenida Marszalkowska, no centro de Varsóvia, reconstruídos depois da Segunda Guerra Mundial, ainda exibem o austero estilo arquitectónico da era comunista.
Mas a proliferação de bancos (um deles o português Millennium BCP), hotéis e centros comerciais – cheios de gente, de cor e de luz – é a prova de que, em 1989, Leszek Balcerowicz foi bem sucedido na transição de uma economia estatizada para o capitalismo.
O processo foi doloroso: 1,1 milhões de desempregados em empresas públicas que perderam subsídios e/ou foram privatizadas. Chamaram-lhe “terapia de choque”, expressão de que Balcerowicz diz não gostar – “assusta as pessoas e elas deixam de pensar”.
Homenageado por 11 universidades, da Alemanha ao Peru, o ex-ministro das Finanças e antigo presidente do Banco Central da Polónia exibe vaidade e orgulho na obra que outros tentaram imitar: “Os últimos 20 anos foram melhores do que os 200.”
O economista que trabalhou no Instituto do Marxismo-Leninismo (1978-1980) e foi membro do Partido Operário de Unidade Polaco (POUP) de 1969 até à proclamação da lei marcial em 1981, antes de se colocar ao serviço do Solidariedade, elogia o comportamento da Polónia face à actual crise, prevendo que o país será menos afectado do que a República Checa ou a Hungria.

Leszek Balcerowicz (à esq.) foi membro do Partido Operário de Unidade Polaca (POUP) de 1969 até à proclamação da lei marcial em 1981, antes de se colocar ao serviço do Solidariedade, o sindicato fundado por Lech Walesa (à dir.)
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Apesar de afastado da vida política (hoje lidera uma organização não governamental de combate à pobreza e é membro dos think tanks Peterson Institute, em Washington, e Bruegel, em Bruxelas), Balcerowicz, 62 anos, ainda tem recomendações a fazer: “O Governo deve reformar a legislação, as privatizações devem ser aceleradas, o défice tem de ser reduzido, a inflação deve ser controlada e a economia precisa de se tornar mais flexível para absorver os choques.”
Aderir à moeda única europeia compensa? “Se não compensasse, ninguém a queria adoptar”, responde com um sorriso trocista, embora dê a entender que o prazo de 2012 será difícil de cumprir.
“O euro vai ajudar a economia a crescer mais rapidamente, mas não pode ser um substituto de reformas. Se nos prepararmos devidamente, poderemos entrar na zona euro sem sobressaltos. Vamos precisar de pelo menos dois anos de estabilidade e boas perspectivas das finanças públicas, para evitar surpresas desagradáveis.”
Balcerowicz cita Dostoievski para avisar que “quanto maior o crime, maior o castigo”. Uma grande dívida pública, frisa, impede o crescimento.
“Nem sempre há uma reacção positiva dos consumidores aos estímulos financeiros. O melhor é reduzir as despesas, porque os grandes investimentos públicos são um disparate.”
O problema actual “não é o capitalismo, mas os gastos públicos das economias mais proteccionistas. Não devemos presumir que toda a intervenção estatal é a solução, porque pode ser prejudicial. É preciso conhecer as causas do problema e não as confundir com os sintomas.”
Em 1989, quando começou a ser aplicado o “Plano Balcerowicz“, a taxa de inflação na Polónia ascendia a 639,6%, a dívida externa atingia 42.300 milhões de dólares, o desemprego era quase inexistente, os salários baixos e as lojas estavam praticamente vazias. Vinte anos depois, o país tem-se revelado um dos mais bem preparados da União Europeia para resistir à crise, em melhor situação do que os vizinhos.
A receita que o economista condecorado com a mais alta distinção polaca, a Ordem da Águia Branca, pôs em prática facilitou a declaração de falência das empresas, proibiu o Banco Central de financiar o défice público e a emissão de nova moeda; ligou as taxas de juro à inflação; acabou com os créditos preferenciais às empresas estatais; introduziu o chamado “Imposto Popiwek“, que limitou os aumentos salariais nas empresas públicas para evitar a hiperinflação; introduziu impostos comuns a todas as empresas, deixando de penalizar as privadas; autorizou o investimento estrangeiro e a exportação dos seus lucros; aboliu o monopólio do Estado sobre o comércio internacional, entre outras medidas.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) ajudou com créditos. As reformas foram aprovadas pelo Sejm (Parlamento) e a economia deixou de ser regida pelo Gabinete Central de Estatística. Em 1992, já tinham sido criadas mais de 600 mil empresas, que deram trabalho a aproximadamente 1,5 milhões de pessoas.
Duas décadas após a queda do regime comunista, a Polónia mostra-se confiante. Em 2008, o consumo representava 61% do produto nacional bruto (PNB), graças a um rápido crescimento dos salários e a uma dívida pública baixa.
O Governo controlou o boom imobiliário e uma rígida regulação bancária restringiu os créditos, sobretudo em moeda estrangeira. “Tudo o que criticaram à Polónia no passado revelou agora ser uma bênção”, comentou um analista financeiro recentemente citado pela revista britânica The Economist.

© Tomasz Bołt | dziennikzachodni.pl
A jornalista viajou a convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Polónia
Este artigo, agora revisto, foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO, em 5 de Junho de 2009 | This article, now revised, was originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO, on June 5, 2009