No day after da aterragem forçada de um avião da Lufthansa com destino a Lisboa, eu estava a bordo e conto aqui a minha experiência no voo. (Ler mais | Read more…)
Tenho pena de não ter tido lições de aviação antes de viajar para explicar o que é uma bolsa de ar. Quando subimos, como que sugados, e descemos abruptamente, tudo à nossa volta parece um tufão, um remoinho.
Eu nunca tinha passado por uma experiência destas, e pensei que o avião iria despenhar-se. Mentalizei-me que iríamos morrer. Só queria que fosse rápido.
O que verdadeiramente se passou naquele voo 4544 da Lufthansa proveniente de Munique e destino a Lisboa terá várias versões. Cada um teve a sua sensação. Houve um silêncio quase sepulcral. Como se os gritos e as palavras tivessem secado na garganta.
Fiquei apavorada quando vi duas hospedeiras projectadas para o tecto do avião mergulharem depois de cabeça para baixo, como atletas numa queda descontrolada após um salto de trampolim.
Não vi o carro da comida erguer-se no ar – como me relatou o [então] presidente da Assembleia da República, Jaime Gama -, mas vi a comida espalhada pela zona de Business Class – começavam por aqui a distribuição da refeição.
As hospedeiras não tinham cinto, naturalmente. Duas delas sofreram ferimentos graves. Em estado crítico terá ficado também quem se encontrava nas casas de banho naquele momento. Calculo que aqui o pânico terá sido ainda maior.
O comandante anunciou que ia seguir para Genebra porque não tinha condições para continuar a viagem, pouco mais de meia hora depois de descolarmos (19h25 locais-18h25 em Lisboa) e a duas horas de chegar a Portugal. Foi uma aterragem de emergência? Para mim foi, mesmo que não seja este o termo técnico.
Perguntei mais tarde ao comandante se alguém tinha sofrido um ataque cardíaco, se a decisão fora motivada por um caso de vida ou de morte; respondeu apenas, o rosto denotando preocupação, que havia muitas pessoas “magoadas”.
O próprio Jaime Gama disse-me que já tinha enfrentado turbulências mais graves nas suas viagens aos Açores mas nenhuma forçara a mudança de rota.
A aterragem também foi brusca, o que, para mim, era sinal de nervosismo do comandante, que só tranquilizou os passageiros “muito tempo” (não sei precisar quantos segundos ou minutos – diria que uma eternidade) depois da aterrorizante subida-descida.
Eu não podia ignorar que o avião transportava o presidente do Parlamento e três deputados dos principais partidos do país. E mesmo que eles não estivessem lá, se havia feridos – e confirmaram-se 14 (depois de uma versão inicial que apontava para 20) – eu tinha de noticiar.
Tentei transmitir para o jornal em Lisboa o que se passava, avisando que não devíamos alarmar os familiares. Apenas informá-los, porque o site da ANA, segundo os meus próprios familiares, só anunciava um atraso no voo, sem detalhes.
Durante a curta viagem Munique-Genebra, e não me lembro se antes ou depois da decisão de alterar a rota, o comandante pediu um médico (havia um, disseram alguns; não havia nenhum, disseram outros) e recomendou a quem não se sentisse bem que acendesse a luz de chamada. O corredor iluminou-se com várias luzinhas a piscar.
Incrível o número dos que pediam ajuda. Quando o avião chegou a Genebra, o aparato era imenso – mais de uma dezena de carros de bombeiros e ambulâncias, além de veículos da polícia. É normal nestas situações, mas impressiona esta visão.
As equipas de assistência entraram no avião. Não podíamos circular para não atrapalhar os seus esforços. Por isso, do meu lugar, só podia vislumbrar o que se passava no exterior. Rapidamente foi montado um hospital de campanha, com macas. Saiu um passageiro com a cabeça ligada, outro ligado a soro. Perdi a conta a este movimento, à medida que ia telefonando para Lisboa.
Não sei também precisar o momento em que o comandante anunciou que tínhamos de abandonar o avião, porque outro viria de Frankfurt com nova tripulação para nos levar de regresso – um inquérito seria aberto. Deram-nos passes de trânsito. Instalaram-nos numa sala e ofereceram água e sanduíches.
Vieram depois montar camas desdobráveis para quem quisesse aguardar pelo novo voo que partiria à 1h30 local (00h30 de Lisboa). Ficaram em hotéis os passageiros que tinham voos de ligação em Lisboa ou que, tendo Lisboa como destino final, preferiam regressar no dia seguinte.
O cônsul-geral de Portugal em Genebra chegou rapidamente para oferecer apoio. Foi ele que me foi dando pormenores sobre o estado dos passageiros, com base nas informações que ia recebendo do chefe da protecção civil suíça.
As pessoas estavam demasiado fatigadas para partilharem o que sentiram e sentiam. Não quis ser intrusiva. Recolhi depoimentos de quem aceitou falar – entre eles um turista da Estónia, Alvar Vidik, que vinha com a mulher, Jane Sinijarv (em estado grave no hospital), e um casal amigo, para as suas primeiras férias em Portugal.
Só quase à hora de partirmos o cônsul aceitou dar-me as identificações dos portugueses que foram levados para o Hospital La Tour e para o Hospital Cantonal (o principal da cidade). Ainda vi chegar Ana Paula Ribeiro Carvalho, a enfermeira que foi assistida em La Tour e que regressava de um congresso em Basileia com mais seis colegas. Vinha enrolada numa manta com um penso no nariz – mas não me forneceram pormenores sobre os ferimentos sofridos e ela vinha demasiado abalada para eu a incomodar.
Quando desliguei o telefone, depois de vários telefonemas para a directora de fecho em Lisboa, confesso que as lágrimas me caíram pela cara abaixo. A hospedeira Stefanie Kaup veio com o seu sorriso e um inglês doce confortar-me.
Eu também já tinha ajudado quem podia, oferecendo bolachas e um chocolate que trazia na mochila a uma criança, e emprestando um telefone a uma senhora sem saldo para comunicar com a filha que a vinha buscar. Não queria sentir-me uma sanguessuga a explorar a dor dos outros, e isso sossegou o meu espírito.
Desta viagem vou querer recordar apenas as histórias bem-humoradas que ouvi de Maria da Graça Jacinto, uma ex-imigrante que vinha de celebrar os seus 65 anos de vida com o filho e os netos na Alemanha. Ela sempre teve medo de andar de avião e, no sábado, no voo LH 4544, sentiu o mesmo calafrio de sempre.
“Eu rezei antes de embarcar mas depois, quando aquilo aconteceu, não me veio à cabeça nenhuma oração. Mas tenho a certeza que a Nossa Senhora nos pôs a mão por baixo, ah isso tenho.”
Este artigo de opinião, agora actualizado, foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO em 11 de Maio de 2009 | This opinion article, now updated, was originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO, on May 11, 2009

O aparato no aeroporto de Genebra depois do desvio de rota – o aparelho seguia de Munique para Lisboa – e a aterragem de emergência, para socorrer os feridos.
© Blick.ch
O meu testemunho sobre o que vivi a bordo foi relatado pelo jornal suíço Blick, aqui.
Fluggäste an Bord von LH 4544 hatten Todesangst
Margarida Santos Lopes (50) sass in der Lufthansa-Maschine, die am Samstagabend in Genf notlanden musste. Die portugiesische Journalistin erzählt im BLICK, was sich auf dem Horrflug abspielte.
Margarida Santos Lopes (50) steht noch immer unter Schock. Die Journalistin der portugiesischen Zeitung «Público» war an Bord des Airbus A321, der am Samstagabend auf dem Flug nach Lissabon nach Turbulenzen (siehe Box) notlanden musste.
«Nach dem Start in München war zuerst alles normal», erzählt Santos Lopes gegenüber BLICK. Doch nach etwa 30 Minuten passiert es. «Die Maschine schnellte plötzlich mit einem heftigen Ruck nach oben», sagt Santos Lopes. «Ich hatte das Gefühl, dass uns etwas in den Himmel hineinsaugt. Dann sackte der Flieger nach unten.»
Die Journalistin ist weit gereist, unzählige Male geflogen. «So etwas habe ich aber noch nie erlebt», sagt Santos Lopes. «Ich dachte, lass uns rasch sterben.» Direkt vor ihr liegt die Business Class. Darin sitzen unter anderem der Präsident des portugiesischen Parlaments, Jaime Gama, drei weiter Abgeordnete und die bekannteste Fado-Sängerin Portugals, Dulce Pontes, mit ihrem jüngsten Sohn.
An Bord herrschte «totale Stille»
Als die Maschine in die Turbulenzen gerät, serviert die Crew gerade einen Imbiss. «Ich sah den Getränkewagen durch die Luft wirbeln», erzählt Santos Lopes. Die beiden Stewardessen werden in die Höhe katapultiert. Santos Lopes: «Sie donnerten mit ihren Köpfen an die Decke. Ihre Schuhe wirbelten durch die Luft.»
An Bord der Lufthansa-Maschine sind insgesamt 147 Passagiere und 6 Besatzungsmitglieder. «Es passierte so plötzlich und unerwarte, dass niemand schrie, nicht einmal die beiden Kinder an Bord», sagt Santos Lopes. «Es herrschte totale Stille.»
Passagier Alvar Vidik (42) aus Estland sitzt neben seiner Frau. «Sie flog plötzlich an die Decke. Dann fing sie an zu weinen. Sie konnte den Hals nicht mehr bewegen und hatte starke Kopfschmerzen», sagt er.
Vor den Turbulenzen gab es keine Warnung aus dem Cockpit. Auch die Lämpchen zum Anschnallen der Sicherheitsgurte leuchteten nicht auf.
«Danach dauerte es eine Weile, bis sich der Pilot endlich über den Lautsprecher meldete», erzählt Santos Lopes. «Er entschuldigte sich und fragte nach einem Arzt an Bord.»
Passagiere bluteten und standen unter Schock
Der Pilot empfiehlt denjenigen Passagieren, die sich schlecht fühlen, den Serviceknopf zu drücken. «Viele Lämpchen leuchteten auf», sagt Santos Lopes. Dann entschliesst sich der Pilot, wegen den Verletzten in Genf notzulanden. 13 Passagiere und zwei deutsche Stewardessen sind verletzt. «Viele verliessen das Flugzeug mit Verbänden am Kopf», sagt Santos Lopes.
Acht Personen aus der Maschine werden für 12 Stunden zur Beobachtung in zwei Genfer Spitäler gebracht. «Auch andere Passagiere bluteten und viele standen unter Schock», sagt Santos Lopes.
Die meisten Passagiere fliegen bereits in der Nacht auf gestern mit einer Ersatzmaschine weiter nach Lissabon. Lufthansa hatte das Flugzeug mit einer neuen Crew aus Frankfurt geschickt.
Auch Margarida Santos Lopes ist zurück in Lissabon. «Ich habe aber Schmerzen im Nacken und in den Beinen», sagt sie. Die Genfer Behörden haben eine Untersuchung eingeleitet. Zur Zeit der Turbulenzen tobte in der Nähe des Flugzeugs ein Unwetter. Zudem kann ein technischer Defekt als Ursache des Unglücks nicht ausgeschlossen werden.
«Auch ein menschlicher Fehler wäre möglich», sagt Margarida Santos Lopes. Ihre Stimme zittert dabei leicht.