Em Fevereiro de 1979, o Ayatollah Khomeini transformou a monarquia constitucional do segundo Xá Pahlavi numa República Islâmica. Mas a antiga Pérsia é muito mais do que a revolução que mudou o mapa do Médio Oriente. É o berço de uma civilização, das mais antigas e complexas, com 2500 anos. E este é um modesto guia para ajudar a compreender a história de um país que sempre se assumiu como império e nação. (Ler mais | Read more…)
Nada existe de novo no mundo a não ser a História que não conhecemos
(Harry Truman, Presidente dos Estados Unidos da América)
Arianos

Atlas do Irão
Os primeiros iranianos eram persas que há um milénio a.C. se instalaram num território entre as estepes da Ásia e o Crescente Fértil.
A arqueologia identifica-os como um ramo de uma família indo-europeia de povos migrantes do que é hoje a Rússia. Eram conhecidos como arianos e deles deriva o nome Irão (termo que, aparentemente, significa “nobre”), ou “a terra dos arianos”.
Até à chegada do Islão, no século VII d.C., quatro dinastias floresceram aqui – os Aqueménidas, os Selêucidas, os Partos e os Sassânidas – cada uma com os seus gloriosos êxitos e ignóbeis fracassos.
Vieram depois os Árabes (Omíadas e Abássidas), os Samânidas e os Buáidas, os Turcos Seljúcidas e os Mongóis, os Safávidas, os Qajar e os Pahlavi, os Russos, os Ingleses e os Americanos. Todos deixaram marcas.
Bahá’aís

‘Abdu’l-Bahá, filho de Bahá’u’lláh, um das figuras reverenciadas pelos Bahá’ís, minoria perseguida pelo regime islâmico
© Povo de Bahá | Marco Oliveira
Por volta de 1844 (1260 segundo o calendário islâmico), apareceu no Irão o movimento Babi, que se tornaria na mais visível força da oposição à dinastia Qajar (ver Q). O ano era aguardado com entusiasmo porque assinalava o milésimo aniversário do desaparecimento do 12º Imã xiita. Havia fiéis que acreditavam na existência de uma porta (Bab) através da qual o Imã Escondido comunicaria com eles.
Em Maio de 1844, Mirza Ali Mohammad, um crente de Shiraz, assumiu-se como Bab e começou a pregar uma doutrina que rompia com a ortodoxia xiita: negava Maomé como último profeta e o Corão como revelação final.
Preso várias vezes, foi executado em Tabriz, em 1850. Em Agosto de 1852, três babis tentaram matar o Xá Naser al-Din (ver N), mas falharam. A partir daqui, os seguidores de Bab não mais deixaram de ser perseguidos como apóstatas, blasfemos e hereges. A nova fé era considerada uma ameaça às autoridades, seculares e religiosas.
Milhares de convertidos foram mortos – um deles a poeta Qorrar al-Ain, ícone da luta pela emancipação das mulheres – e outros forçados a fugir do país. O movimento expandiu-se no exílio e, nos anos 1860, apareceu um novo líder, Bahá’ullah, que se assumiu como o profeta que o Bab previra. O movimento passou então a ser conhecido como Bahá’aí.
‘Abdu’l-Bahá (que em português significa “Servo de Bahá”) era o filho mais velho de Bahá’u’lláh. quando o pai morreu, sucedeu-lhe como interprete das escrituras e líder da comunidade, que o considera “prefeito exemplo de vida Bahá’í”.
Ciro
Um extraordinário líder, fundador da dinastia aqueménida, Ciro II O Grande moldou o nacionalismo e a tradição política no Irão. Após a morte do pai, Cambises I, tornou-se Rei de Anshan, na altura ainda parte do Império dos Medos, tal como a Pérsia.
Em 540 a.C., conquistou Ecbatana (actual Hamadan), capital da Média, proclamando-se igualmente Rei da Pérsia. Também invadiu Lídia, em 546 a.C., território central na costa oeste da Ásia Menor, o poderoso Reino de Creso, dono de uma lendária fortuna.
Ciro apoderou-se ainda da Fenícia e da Babilónia, criando um vasto império – provavelmente, o maior em extensão na Antiguidade – das cidades gregas na costa oriental do Mar Egeu até às margens do Rio Indo.
Ciro usou a persuasão e não a força. Nunca humilhou os vencidos. Por deferência para com o deposto rei Astíage, manteve intactas as organizações militares e administrativas da Média, evitando represálias sobre os subjugados. Na Babilónia, permitiu a adoração dos deuses locais.
E foi ele quem libertou os judeus do cativeiro, restituindo-lhes o ouro e a prata confiscados por Nabucodonosor II, deixando-os regressar a Jerusalém, para reconstituírem o seu Templo, em 538 a.C. Ao enveredar por esta via, arranjou aliados e não adversários.
A excepção era a tribo dos Massagetas, que permitia às mulheres terem vários maridos e parceiros sexuais. Numa batalha travada a cavalo, em 530 a.C, a rainha Tomiris, que não aceitava o domínio persa, matou Ciro – o homem que, dez séculos antes do Islão, terá imposto o costume de cobrir as mulheres para “preservar a sua castidade”.
O corpo do rei foi depositado num sepulcro simples, em Pasárgadas, a capital do império, o que hoje levanta dúvidas sobre se os Aqueménidas seguiam realmente o Zoroastrismo (ver Z), a religião que considerava um sacrilégio “poluir a terra com cadáveres”.
Dario
A Ciro sucedeu Cambises II (530-522 a.C.), seu filho, que não partilhava a tolerância do pai. Conquistou o reino faraónico egípcio numa campanha que durou três anos, tempo demasiado para um Pérsia cansada da guerra.
Em 522 a.C., ter-se-á suicidado quando tomou conhecimento de uma revolta no coração do império, liderada por um carismático sacerdote, Gaumata, que mobilizou o povo contra o monarca opressor.
Gaumata foi, por seu turno, assassinado por outro líder com o cognome de O Grande: Dario I (não se lê Dário). Foi ele, que subiu ao trono aos 28 anos, quem reconstituiu o iimpério ameaçado por insurreições, e o levou ao seu auge, dilatando as suas fronteiras até ao Turquestão e ao Indo, a Leste, à Trácia e à Macedónia, a Oeste.
Ligado por uma “Estrada Real”, era um império bem estruturado e organizado em governos provinciais, ou Satrapias, cerca de 20, cada uma supervisionada por governadores ou sátrapas.
Dario, que haveria de inspirar os Romanos, também instituiu um sistema de cobrança de impostos em cada província e ampliou o serviço postal dos assírios. Para se proteger, tinha uma rede de agentes secretos, conhecidos como “Os Olhos e Ouvidos do Rei”.
Agindo por hábito e necessidade, Dario I avançou com o seu exército até à Índia, à Líbia e ao Danúbio, forçando a submissão da Trácia e do rei da Macedónia. As vitórias foram celebradas com a construção da grandiosa Persépolis (o nome foi dado pelos Gregos e significa “cidade dos Persas”).
Elam

Taça em prata, de Marvdasht, Fars, com inscrições elamitas. Data do Terceiro Milénio a.C., e está exposta n Museu Nacional do Irão.
No final do terceiro milénio a.C., quando os caçadores-recolectores do Neolítico se foram gradualmente transformando em sociedades organizadas, uma de entre elas se destacou: Elam. Situada a oeste do Rio Tigre, entre o Golfo Pérsico, a Caldeia, a Assíria, a Média e a Pérsia. A sua capital era Susa.
Misturando elementos da sua própria cultura com a dos Sumérios do Crescente Fértil, Elam já atingira, em meados do século XI a.C., um extraordinário nível artístico.
Por volta de 646 a.C., a Pérsia herdou o seu poder, independência e conhecimento. Antes da queda de Elam, vários grupos de arianos migraram-se para o ocidente do Irão e os primeiros a chegar foram os Medos, no século IX a.C.
Instalaram-se nas montanhas Zagros, para evitar confrontos com a Assíria. Cerca de um século depois, chegaram os Persas, que se alojaram numa região chamada Pars ou Fars.
Foram os Medos que estabeleceram o primeiro império iraniano da Ásia Menor ao Hindu Kush, em 700 a.C. Em 612 destruíram Nínive, capital dos Assírios. Os Persas eram seus vassalos.
Ferdowsi
Pseudónimo de Hakīm Abul-Qāsim Firdawsī Tūsī, nascido em 940 próximo de Mashdad, no nordeste do Irão, Ferdowsi (ou Ferdusi) seria um latifundiário que aceitou escrever um poema épico, encomendado pelo sultão Mahmud Ghazan, para poder pagar o dote da sua filha única.
Demorou 35 anos a compor Shâh Nâmâ (Livro dos Reis), 60 mil linhas que narram mil anos de história, desde os Aqueménidas aos Sassânidas.
Ferdowsi, que foi pago em prata e não em ouro transportado em 30 cavalos, como combinado (o sultão ficou furioso por não ser o único protagonista), despertou a alma dos iranianos num longo hino nacionalista.
Para muitos compatriotas, Shahnameh é, juntamente com a cidade de Persépolis, um símbolo da sua identidade, a celebração da grandeza mas também a evocação das derrotas infligidas pelos invasores.
O xiita Ferdowsi perdoou Alexandre, mas não “esses Árabes incivilizados (que) vieram forçar-me a ser muçulmano”. O “maior poeta iraniano”, que “recriou o Persa – a mais bela das línguas”, morreu em 1020. Está enterrado junto à fronteira com o Turquemenistão. No monumento erguido em sua memória foi inscrita a seguinte frase: “Que este corpo não viva se não existir o Irão”.
Gengis Khan
Os iranianos dizem que Teerão é o cérebro do seu país, Qom a sua alma e Isfahan o seu coração. O esplendor de Isfahan é o testemunho da vontade de sobrevivência da antiga Pérsia submetida, desde o século XI, a uma série de invasões.
Os primeiros a chegar foram os Turcos Seljúcidas. Migrantes mais do que conquistadores, não causaram grande destruição.
Convertidos ao Islão sunita, empregaram vizires ou ministros iranianos para governarem os seus domínios enquanto eles combatiam o Império Buída, dinastia xiita que dominava o Noroeste do Irão e grande parte da Mesopotâmia.
Com os Seljúcidas, senhores de uma vasta área do Bósforo ao Turquestão chinês, o Xiismo ficou teologicamente debilitado e o califa perdeu poder político para o sultão.
Um século depois, a partir de 1219, chegaram os Mongóis de Gengis Khan, entre 70.000 e 800 mil, vindos das estepes da Ásia Central. Seguidores do Shamanismo (fé que incorporava superstições e sacrifícios a Tengri, o deus dos céus), os mongóis fizeram tudo para arrasar a cultura persa e a religião de Maomé.
Em Bukhara, considerada uma jóia do Islão, Gengis Khan entrou a cavalo no interior da principal mesquita da cidade e ordenou que as caixas de madeira que guardavam os exemplares do Corão fossem esvaziadas e colocadas no pátio para servirem de manjedouras aos equídeos das suas tropas. Por onde quer que eles passavam, as ruas enchiam-se de sangue.
Em Nishapur, a grande cidade universitária de Khwarazam, os Mongóis decapitaram todos os habitantes. Usando as suas espadas, separaram as cabeças de homens, mulheres e crianças e ergueram pirâmides à volta das quais colocaram as carcaças de cães e gatos. Depois desmembraram os corpos. Só escaparam os que serviriam para escravos.
O horror mongol repetiu-se, entre 1256 e 1258, com Hulagu, o neto de Gengis Khan que matou o último califa abássida de Bagdad.
Auto-intitulando-se il-khan (ilcã), transformou o Irão num ilcanato (província), território apenas teoricamente dependente ao Grande Cã da China. Desde a chegada de Gengis Khan até à morte de Hulagu em 265, os Mongóis mataram milhões de iranianos.
Hezbollah

Milicianos do Hezbollah ou Partido de Deus, movimento xiita criado (nos anos 1980) e financiado pelo Irão, no Líbano, onde ambos estabeleceram um aliança estratégica.
© Hussein Malla| AP
Criado em 1982, durante a invasão israelita do Líbano, pelos Pasdaran ou Exército dos Guardas da Revolução, o Hezbollah ou Partido de Deus, fez parte dos esforços de Khomeini de exportar a sua revolução xiita para países árabes de maioria sunita.
Ao contrário do Hamas e da Jihad Islâmica, grupos sunitas na Palestina, com os quais estabeleceu uma “parceria táctica” com o apoio da Síria, a aliança do Irão com os xiitas do Hezbollah, partido e milícia, é estratégica.
Ismail
No início século XVI, o Irão conheceu Ismail, o mais carismático e messiânico dos reis safávidas (ver S). Acompanhado dos seus seguidores Qizilbash, membros de tribos turcomanas sunitas que se distinguiam pelos seus turbantes de cor escarlate, o belo Ismail de cabelo ruivo conquistou Tabriz, a antiga capital seljúcida no Noroeste.
Tinha 14 anos quando se proclamou Xá. Foi também por esta altura, em 1501, que declarou o Xiismo Duodecimano (12 imãs) a religião oficial dos territórios sob seu domínio. Nos dez anos seguintes, conquistaria o resto do Irão e os actuais territórios do Azerbaijão, Iraque e parte do Afeganistão.
Derrotado pelos Otomanos, em 1514, Ismail passou a vestir-se de negro, da cabeça aos pés, e refugiou-se na caça, no vinho e na música. Morreu em 23 de Maio de 1524, no 23º ano do seu reinado e dois meses antes de completar 37 anos de idade.
Judeus
O Irão é o segundo país do Médio Oriente, depois de Israel, com maior número de Judeus. Não esquecer que foi Ciro, rei aqueménida, que permitiu aos Judeus exilados da Babilónia por Nabucodonosor regressar a Jerusalém para reconstruírem o seu templo, em 530 a.C., com o contributo de fundos iranianos.
Também o Xá sassânida Yazdegerd I (3999-420) casou-se com a filha de um chefe da comunidade judaica da Babilónia.
Esta relação amigável foi abalada com a chegada do Islão, no século VII e agravou-se, em 1948, com a criação de Israel. Até este ano, havia pelo menos 100 mil judeus iranianos.
Em 1979, com o colapso da dinastia Pahlavi, ficaram uns 80 mil e, hoje, o seu número varia entre 35.000 e 25.000 – muitos emigraram para os EUA onde ainda falam farsi e celebram o Nowruz (Noruz), o Novo Ano persa.
Seguindo a ordem islâmica de “proteger os Povos do Livro”, o Ayatollah Khomeini reuniu-se com representantes judeus, depois da Revolução Islâmica e a Constituição da nova república atribuiu aos Judeus um lugar fixo no Parlamento.
Algumas cláusulas da Sharia (lei islâmica) foram alteradas para conceder igualdade a muçulmanos e não-muçulmanos, o que nem sempre sé praticado.
A revolução alimentou um virulento anti-sionismo, a que não será alheia a aliança que Israel estabeleceu com o último Xá Pahlavi, cuja temível polícia secreta, a SAVAK, era treinada pela Mossad.
Khomeini

Ayatollah Khomeini, o teólogo que derrubou a monarquia e instaurou uma República Islâmica
© alfredyaghobzadehphoto.com
Ruhollah (“alma do Senhor”) Musawi Khomeini, o ayatollah que fez cair o último imperador Pahlavi do Trono do Pavão em 1979, deve o seu nome a Khomein, o lugar onde nasceu em 1902, próximo de Isfahan.
Filho de um comerciante iraniano que emigrou da Caxemira em meados do século XIX, Khomeini terá sido de tal modo marcado pelo espírito indiano que se designou Seyyed Hindi.
Em 1919, quando decidiu ser mullah, foi estudar teologia islâmica para Arak (Soltanabad) e depois, a partir de 1922, para Qom, cidade-santuário xiita. Começou por ensinar filosofia mística, mas nos anos 1950, já leccionava direito religioso aos principais opositores do Xá.
Em Junho de 1963, depois de uma revolta sanguinariamente esmagada pela polícia, Khomeini foi preso. Em 1964, foi expulso para a Turquia, depois de se insurgir contra os privilégios extraterritoriais concedidos aos militares americanos no Irão. Em 1965, voltou a ser expulso, desta vez para o Iraque.
Em 1978, fugiu para Neauphle-le-Château, em França, de onde preparou a Revolução Islâmica, usando fiéis e jornalistas estrangeiros para fazer chegar às mesquitas iranianas cassetes áudio com os seus sermões.
No ano seguinte, em 1 de Fevereiro de 1979, regressou triunfal a Teerão, para ser o Guia Supremo de um regime tão ou mais opressivo que o de Mohammad Reza. Foi ele que cunhou a expressão “Grande Satã”, para qualificar os EUA.
Morreu doente, em 3 de Junho de 1989, depois de aceitar o “cálice de veneno” do cessar-fogo em oito anos de guerra com o Iraque.
Lurs

Entre os nómadas Lurs, as mulheres têm muito mais liberdade do que no resto do Irão
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Os Lurs são um dos grupos étnicos do Irão – país de 71 milhões de habitantes, a maioria persas –, juntamente com os Curdos, os Bakhtiaris, os Baluchis e os Turcomanos.
Muçulmanos xiitas que preservam rituais do Zoroastrismo e do Maniqueísmo, exprimem-se em Lori, língua com dois dialectos do Sudoeste. Habitam o Luristão, o Khuzestão. Hamadan, Isfahan e outras províncias. Antes do século XX, a maioria dos Lurs eram pastores nómadas.
O primeiro rei da Dinastia Pahlavi, Reza Shah, tentou sedentarizar à força os Lurs, mas não foi bem sucedido. O seu filho e sucessor, Mohammad Reza, ofereceu incentivos económicos, também em vão. Só em meados dos anos 1980, após a Revolução Islâmica, é que a maioria dos Lurs se instalou em aldeias e vilas, ou migrou para as cidades. Seja como for, os nómadas não desapareceram e, entre eles, as mulheres têm muito mais liberdade do que no resto do país.
Mossadegh

Mohammad Mossadegh, o nacionalista que a CIA derrubou em 1953
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Em 1979, quando a Embaixada dos Estados Unidos em Teerão foi ocupada por estudantes que mantiveram reféns os seus funcionários durante 444 dias, os americanos interrogaram-se por que os odiavam os iranianos.
A resposta está num golpe orquestrado pela CIA, em 1953, que derrubou o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, um democrata que ousou nacionalizar a Anglo-Iranian Oil Company (AIOC).
Ao fazê-lo, provocou a fúria de Winston Churchill que, por sua vez, convenceu Theodor Roosevelt a depor o aristocrata qajar, invocando o perigo de o Irão cair nas mãos dos comunistas do partido Tudeh e da URSS.
A Operação Ajax, que devolveu a coroa ao impopular Xá Mohammad Reza Pahlavi, constituiu a primeira vez que os EUA derrubaram um governo estrangeiro.
Com o fundador da Frente Nacional fora de cena – morreu a 5 de Março de 1967 aos 85 anos, sem direito a funeral –, estava aberto o caminho para Khomeini chegar ao poder.
“O meu maior crime”, disse Mossadegh ao tribunal que o condenou e desterrou, “foi ter nacionalizado a indústria do petróleo e afastado deste país a teia de colonialismo e a influência política e económica do maior império do mundo”. O Médio Oriente jamais seria o mesmo.
Nasser al-Din

Retrato de Nasser al-Din, o Xa da dinastia Qajar (1831–1896). Pintura a óleo, datada de 1274, está exposta no Museu do Louvre em Paris
Foi durante o longo reinado (1848-1896) do Xá qajar Nasser al-Din que a Europa, que tanto o fascinava entrou no Irão.
Foi ele, fascinado pelas viagens a Londres ou Paris, de onde trazia relógios e máquinas fotográficas, que inaugurou a política de concessões mineiras, agrícolas, rodoviárias e bancárias a companhias europeias, na ambição de desenvolver o país.
Em 1872, em troca de uma soma insignificante, o barão Julius de Reuter (fundador da agência Reuters) “adquiriu o direito exclusivo de gerir as indústrias do país, de irrigar as suas terras de cultivo, explorar os seus recursos minerais, desenvolver as linhas ferroviárias e dos eléctricos, fundar um banco nacional e imprimir papel-moeda”, no que foi descrito como “a maior capitulação dos bens nacionais jamais sonhada e nunca antes levada a abo na história.”
Em 1891, quando concedeu ao britânico Talbot o monopólio da produção de tabaco, por 15 mil libras, foi obrigado a retroceder depois de uma revolta a que aderiram líderes religiosos xiitas, intelectuais, agricultores, comerciantes do Grande Bazar (verdadeira instituição nacional) e o seu próprio harém – mulheres, concubinas e eunucos.
Impopular, endividado e dependente de russos e ingleses, Nasser al-Din foi assassinado num mausoléu, a sul de Teerão, quando se preparava para celebrar o seu jubileu. O seu filho, Mozzaffar ad-Din Shah, sucumbiu às pressões dos que exigiam reformas, e autorizou a primeira Constituição parlamentar, em 1906.
Omíadas
De 643 a 650, o Irão sassânida foi conquistado pelos exércitos muçulmanos do Califado Omíada – na época o maior Estado, que ia da Península Ibérica ao Rio Indo, do Mar de Aral à Península Arábica.
Com os Omíadas, que tinham capital em Damasco, o árabe tornou-se língua franca e o Islão substituiu o Zoroastrismo. Em 750, os Omíadas foram derrubados pelos Abássidas e o califa Al-Ma’mun, cuja mãe era iraniana (mais precisamente uma escrava persa), transferiu a capital para Merv, na Pérsia Oriental.
Em 819, chegaram os Samânidas, de origem iraniana, que estabeleceram Samarcanda, Bukhara e Herat como suas capitais, fazendo renascer a língua e a cultura persas.
Em 913, mais uma convulsão: o ocidente do Irão ficou sob controlo dos Buáidas, confederação tribal persa das margens do Mar Cáspio, que fez de Shiraz a sua capital e dissolveu a unidade territorial islâmica.
Depois deles vieram os Turcos Seljúcidas, em 1037 e, no início do século VIII, os Turcos da Corásmia, cujo império foi destruído pelos Mongóis de Gengis Khan (ver G) e de Tamerlão (ver T).
Pahlavi

Reza Khan, o primeiro Xá da última dinastia, os Pahlavi
© princessashrafpahlavi.org
Em 1921, com o estratégico Irão cobiçado por Otomanos, Bolcheviques e Britânicos, e a sobrevivência do país ameaçada por conflitos internos, um oficial desconhecido e quase analfabeto chamado Reza Khan emergiu do caos como um salvador.
Pertencia a uma divisão de cossacos, especialmente treinada pelos russos para proteger os reis da dinastia Qajar.
Chegou a Teerão, mandou prender todos os membros do governo, impôs um novo primeiro-ministro e obrigou o sultão Ahmed Shah a nomeá-lo comandante das Forças Armadas.
Em 31 de Outubro de 1925, depois de quatro anos a esmagar rebeliões (com o apoio das mesmas forças estrangeiras que quase destruíram a nação), o Majlis (Parlamento) apressou-se a proclamá-lo Xá. Os mullahs temiam que ele instaurasse uma república semelhante à Turquia secular de Mustafa Kemal Atatürk.
Reza escolheu para a sua dinastia o nome de Pahlavi, a língua persa que os iranianos falavam antes da chegada dos Árabes.
Empenhado em seguir um modelo de modernização segundo os padrões ocidentais e educação e tecnologia, impôs um regime despótico que violava os principais valores persas e islâmicos – as instituições xiitas eram vistas como o maior obstáculo aos seus desígnios.
Em 1935, Reza mudou o nome do país de Pérsia para Irão mas, em 1941, depois de uma aliança falhada com a Alemanha de Hitler, foi obrigado a abdicar do Trono do Pavão. Sucedeu-lhe o filho Mohammad Reza, que haveria de cometer os mesmos erros de política interna e externa. A Dinastia Pahlavi acabou em 1979.
Qajar

Com Fath Ali, coroado em Março de 1798, os Turcos Qajar tornaram-se Persas, permitindo que os teólogos xiitas desenvolvessem uma hierarquia religiosa como nunca antes existira no Irão.
Depois de uma guerra civil, que se seguiu à desintegração do Império Safávida (ver S), o Irão estava partido em linhas étnicas quando chegaram os Qajar, que governariam até 1925.
Eram uma de sete tribos Qizilbash que o Xá Ismail (ver I) usou em 1500 para unir o seu reino e depois dispensou. Provenientes de Mazanderan, os Qajar reapareceram no século XVIII para reclamar o trono iraniano. Eram liderados por Agha Muḥammad Khān Qājār, que travou uma guerra sádica de vingança pela perda da sua masculinidade.
Aos 7 ou 8 anos de idade, a tribo Zand fechou-o numa jaula e castrou-o. Após a rendição do último zand, em 1795, o tirano Agha Muhammad Khān declarou-se Xá, e mudou a capital de Fars para Teerão.
Dois anos depois, numa campanha militar no actual Nagorno-Karabach, foi esfaqueado até à morte por dois criados, que ele mandara executar mas se esqueceu de prender.
O herdeiro político foi o seu sobrinho Fath Ali (1772-1834), coroado em Março de 1798. Com ele os Turcos Qajar tornaram-se Persas, permitindo que os teólogos xiitas desenvolvessem uma hierarquia religiosa como nunca antes existira.
Os Qajar criaram também uma nova aristocracia, através de uma rede de alianças familiares reforçadas por títulos de nobreza.
Fath Ali teve, alegadamente, 260 filhos de 158 mulheres durante os 37 anos do seu reinado (desde Junho de 1797 até ao fim da vida) . Morreu em 23 de Outubro de 1834, pouco depois do óbito do seu filho e herdeiro, Abbas Mirza.
Sucedeu-lhe outro filho, Mohammad Shah Qajar apoiado por Britânicos e Russos. Estes mantiveram os seus privilégios mas o povo não teve benefícios.
Revoltas contra a crescente influência estrangeira uniram três sectores importantes do Irão: os intelectuais, os comerciantes do bazar (Bazaaris) e os Mullahs.
Em 1906, a aprovação de uma Constituição foi uma vitória para as forças nacionalistas, mas em 1911 um golpe de Estado pôs fim às aspirações de independência. Em 1925, com o país dilacerado, a Dinastia Qajar é derrubada por Reza Khan, que fundou a dos Pahlavi.
Rumi

Rumi, poeta e fundador a Ordem dos Dervixes Rodopiantes
Rumi (que os iranianos chamam Mawlana) é um dos maiores poetas iranianos e “o mais popular poeta na América”, segundo a BBC.
Fundador da Ordem Sufi Mawawiyah ou Ordem dos Derviches Rodopiantes, nasceu em Balkh [norte do actual Afeganistão, na Ásia Central] em 1207 – o lugar e o tempo errados. Os seus pais deixaram Bakh em 1219, receando a chegada dos Mongóis.
Abrigaram-se primeiro em Meca (durante a peregrinação) e depois foram para Konya, na Anatólia, onde Rumi passou a maior parte da sua vida.
Foi teólogo da escola hanafita mas virou-se para o Sufismo, sob influência de outro poeta místico, Shams-i-Tabrīzī ou Shams al-Din Mohammad, por volta de 1244.
Depois que este amigo íntimo desapareceu (talvez assassinado), três ou quatro anos depois, até à sua própria morte, em 1273, Rumi escreveu “ 65 mil linhas de poesia” – declarações de amor a Deus, mas também, implícita ou explicitamente, a Shams.
As suas obras influenciaram a moderna literatura persa, mas também a literatura urdu, bengali, árabe e turca.
Safávidas

O Xá Abbas I, O Grande, ficou na história pelas suas conquistas militares, reformas institucionais e espectaculares monumentos arquitectónicos, oferecendo ao Irão uma glória que há séculos não gozava
No final do século XV, uma irmandade militante do noroeste do Irão e do leste da Anatólia, composta por cavaleiros turcos e com base inicialmente em Ardebil, tornou-se uma importante força militar e política e começou a expandir-se em grande escala.
Eram os Safávidas, que devem o seu nome a um dos seus primeiros líderes, Sheikh Safi-ad-din Ardabili (1252-1334), sunita e sufi, possivelmente de origem curda, defensor de uma nova ordem religiosa islâmica.
Do pouco que se sabe dos primórdios da história safávida, parece certo que Sadr al-Din (1334-1391), sucessor de Safi, foi quem organizou e hierarquizou este movimento através de uma série de alianças tribais.
Além de Ismail (ver I), que fez do Xiismo Duodecimano (12 imãs) a religião oficial do Irão, um dos mais proeminentes reis desta dinastia foi Abbas, O Grande.
O Xá Abbas I ficou na história pelas suas conquistas militares, reformas institucionais e espectaculares monumentos arquitectónicos, oferecendo ao Irão uma glória que há séculos não gozava.
Estabeleceu laços comerciais com a Europa a transformou Isfahan numa magnífica cidade. Mas Abbas foi também um autocrata desconfiado e impiedoso, em parte devido às guerras civis da sua infância e ao assassínio de muitos dos seus familiares.
Um dos seus maiores êxitos foi ter conseguido sobreviver para ver os frutos de 41 anos de governação.
Após a sua morte, em 1629, a Dinastia Safávida decaiu e foi, gradualmente, dominada por Afegãos, Russos e Turcos até que, em 1729, um chefe militar persa, Nadir-Xá, expulsou os invasores.
[Os Portugueses, que se estabeleceram em Ormuz, no século XVI, para controlar as rotas comerciais desta região estratégica, foram derrotados pelas forças do Xá Abbas I numa batalha naval, com ajuda da Marinha de Guerra Britânica.]
Tamerlão
No século XVI, Tamerlão (ou Timur, O Coxo) – de origem mongol, de religião muçulmana e de língua turca – quase fez desaparecer o Irão do mapa.
Em 1395 saiu das margens do Rio Oxus (actual Amu Dária), no comando das suas tropas, e durante cinco anos assolou a Pérsia, a Síria e a Ásia Menor.
Em Isfahan, mandou erguer uma torre com 70 mil crânios antes de continuar os massacres – terá sido mais sanguinário que Gengis Khan.
No entanto, foi Tamerlão e os que lhe seguiram, na dinastia Timúrida, que permitiram um dos períodos mais áureos da civilização iraniana, com uma avalanche de brilhantes poetas, líricos e épicos, como Omar Khayyam (que também era matemático e filósofo), Sa’adi, Fakhr al-dīn Ibrahīm ‘Irāqī (conhecido por “Iraqi” ou “Araqi”), Hafez e Rumi.
Ummah

Os Iranianos adoptaram o Islão , com a chegada dos Árabes, mas não seguiram a ortodoxia sunita. Quando Maomé morreu, escolheram o seu genro como sucessor e não Abu Bakr, o sogro. Tornaram-se xiitas, ou “partidários de Ali” ibn Abī Ṭālib (na imagem)
No século VII, alarmados, pela primeira vez, com as vitórias dos Árabes – povo que consideravam primitivo – contra os Bizantinos, os Sassânidas mobilizaram 80 mil homens com armas, cavalos e elefantes, para enfrentar dez mil guerreiros montados em camelos e munidos de sabres e escudos.
Na pequena povoação de Qadisiya, na margem ocidental do Rio Eufrates, ambas as partes negociaram durante quatro meses até que, num dia de Junho de 637, e com relutância, o comandante sassânida Rustan deu início às hostilidades. Ao quarto dia de combates, Rustan morreu e o seu exército bateu em retirada.
Em 638, o palácio fortificado de Ctesifonte, símbolo da arte e do conhecimento sassânidas, caiu em poder dos Árabes. Objectos de outro, esmeraldas e rubis foram pilhados. O famoso tapete Primavera de Khosrow foi levado para Meca onde líderes religiosos o cortaram em pedaços. Todas as bibliotecas reais foram destruídas.
Quando os Árabes chegaram com a mensagem de Maomé de igualdade de todos os fiéis, deixou de haver lugar para um rei. O Islão quebrou os laços que há vários séculos ligavam monarcas e súbditos, religião e estado.
Os Iranianos foram chamados a comprometer-se com algo maior – a Ummah, ou comunidade dos crentes cuja única fronteira era a fé. Adoptaram o Islão é certo, mas não seguiram a ortodoxia sunita. Quando Maomé morreu, escolheram o seu genro como sucessor e não Abu Bakr, o sogro.
Tornaram-se xiitas, ou “partidários de Alī” ibn Abī Ṭālib. Viram nele “o mais perfeito modelo da nobre virtude da justiça”, que sempre fez parte da tradição cultural persa.
Velayat-e Faqih

Com o revolucionário conceito de Velayat-e Faqih, o Ayatollah Khomeini, que foi pregador no Santuário de Qom (na foto), quebrou uma tradição sagrada xiita, a de que todo o governo na ausência do 12º Imã é profano
© Behrouz Mehri | AFP
Entre 21 de Janeiro e 8 de Fevereiro de 1970, exilado desde 1964 em Najaf (Iraque), o Ayatollah Khomeini fez 19 palestras onde definiu novo conceito teológico – e ideologia política – , provavelmente, o mais revolucionário documento do Xiismo: Velayat-e Faqih, ou o “Governo do Jurista”.
Para acabar com que considerava a “invasão política, económica e cultural” do Irão pelo Ocidente”, Khomeini defendeu “um regime islâmico para substituir um monarca injusto”.
Com este conceito, o pregador de Qom que liderou em 1963 as manifestações contra o Xá Mohammad Reza Pahlavi quebrou uma tradição sagrada xiita: que todo o governo na ausência do 12º Imã é profano.
A regra de Khomeini passou a ser: até aparecer o 12º imã serão os mais justos e os mais sábios entre os mujtahids (teólogos) que exercerão o poder religioso e temporal.
Com isto, o ayatollah acabou por condenar toda a história monárquica iraniana, negando legitimidade à ideia de um rei persa. E o desejo cumpriu-se com a sua revolução islâmica de 1979.
Xerxes

Relevo do rei Xerxes (485-465 BC), da dinastia Aqueménida, à entrada do seu palácio em Persepólis, moderno Irão
Quando Dario morreu, em 486 a.C., subiu ao trono o seu filho Xerxes. Tal como o pai, pôs ao serviço da Pérsia o que de melhor havia na Assíria, no Egipto e na Grécia, fossem médicos ou jogadores de xadrez.
No entanto, se admiravam e assimilavam as ideias dos outros, os Persas não as copiavam. Estudavam-nas e adaptavam-nas aos seus costumes sociais e religiosos. No reinado de Xerxes, vida artística coabitava com a vida militar.
Em 480 a.C., deixou Susa, a capital, comandando “a maior máquina militar jamais vista na Ásia”, para confrontar os Gregos.
Derrotou e massacrou os Espartanos do rei Leónidas na Batalha de Termópilas. Avançou até Ática, queimando aldeias e vilas à sua passagem.
Quando chegou a Atenas, as suas tropas tomaram de assalto a Acrópole e incendiaram o quase concluído Parténon.
Xerxes perderia, contudo, a Batalha de Salamina, quando a sua frota naval foi destroçada por Temistócles. Em 479 a.C., perdeu a guerra em Plateias, antiga cidade grega de Beócia, às mãos de Pausânias (espartano) e de Aristides (ateniense). De regresso à Pérsia, começou o declínio do Império Aqueménida.
Em 465 a.C., Xerxes foi assassinado, vítima de intrigas palacianas. Dario III Codomano foi o último rei desta dinastia. Vencido pelo rei (macedónio) Alexandre, em Isso (333 a.C.) na antiga Báctria (331), foi morto por um dos seus sátrapas, o de Sardes, com a ajuda de dez mil mercenários gregos.
Alexandre ordenou que Persépolis fosse queimada. Foi um de muitos conquistadores que haveria de destruir o território – mas não a identidade – dos Persas.
Após a morte de Alexandre, a Pérsia foi entregue a um dos seus generais, Seleuco I (3555-280 a.C.), que fundou a dinastia Selêucida, seguindo a visão helenística do seu mentor. Os Persas permaneceram indiferentes à cultura grega, talvez por serem tão opostos.
Politicamente, os Gregos tinham cidades-estados, os Persas monarquia absoluta; artisticamente, os Gregos adoravam a representação, os Persas preferiam a decoração; geograficamente, os Gregos pertenciam ao Ocidente, os Persas faziam parte do Oriente.
Quando os Selêucidas, cujo império tinha capital em Antioquia, perderam a Síria para os Romanos de Pompeu, chegaram os Partos, tribo de nómadas arianos que absorveu e fez renascer a cultura da Pérsia.
O Império da Pártia (163- 224 a.C.) ia do Mar Cáspio ao Golfo Pérsico, do Afeganistão ao Rio Tigre, controlando a valiosa Rota da Seda, entre a China e Roma.
Guerreiros conhecidos pela sua cavalaria rápida e tácticas de surpresa (durante dois séculos nunca foram vencidos pelos romanos) deixaram um importante legado artístico: as miniaturas persas pintadas à mão.
Rica e poderosa, a Dinastia Arsácida não conseguiu, porém, evitar guerras tribais. Artabano IV foi o último dos reis partos. Morreu num combate corpo-a-corpo em Ctesifonte, a capital da Pártia, com o rival Ardashir.
Este antigo vassalo persa, que se dizia descendente dos Aqueménidas, reclamou para si o título de Shahanshah (Rei dos Reis). Com ele chegou a dinastia Sassânida, que durou de 226 até 642 a.C.
Yazdegerd

Moeda com a figura Yazdegerd I. Foi um rei tolerante para com as outras religiões, em particular com os Judeus, que lhe chamavam “o novo Ciro”
Xá sassânida, que governou a partir de 399, Yazdegerd I conseguiu manter a paz com os Romanos de tal modo que o imperador Arcadius lhe pediu que fosse guardião do seu filho, Theodosius, simbolizando a parceria entre dois impérios.
Yazdegerd I era tolerante para com as outras religiões, em particular com os Judeus, que lhe chamavam “o novo Ciro”. Foi também, durante o seu reinado, que emergiu um singular cristianismo persa: a Igreja Nestoriana.
Esta realizou o seu primeiro sínodo em 410, aproximando-se mais do Zoroastrismo do que da Cristandade ocidental, ao proibir o celibato dos padres. A interdição ajudou a que os cristãos persas não fossem perseguidos como “quinta coluna dos Romanos”, mas não evitou que o clero zoroastra se distanciasse do Xá Yazdegerd I, chamando-lhe “pecador”.
O rei acabou por ser assassinado, mas o facto de os imediatos sucessores terem adoptado o seu nome sugere que a sua memória continuava a ser respeitada na corte. Yazdegerd III foi último rei sassânida, derrotado pelos exércitos do Califado Árabe.
Zaratrusta

“O símbolo do Zoroastrismo é o Faravahar e compõe-se de várias partes. A figura humana representa a alma, o círculo que rodeia o corpo representa o espírito, a mão acima recomenda seguir o caminho do Bem; o anel na outra mão simboliza a fidelidade. As alas têm três fileiras de plumas, representando bons pensamentos, palavras e acções. A cauda tem também três fileiras de plumas: maus pensamentos, palavras e actos. As duas cordas que emanam do círculo central representam os espíritos do Bem (frente) e do Mal (atrás).” Fonte: Aqui
Sem provas arqueológicas ou epigráficas da existência de Zaratrusta, os especialistas em Ciência das Religiões aconselham a vê-lo mais como “personagem religiosamente reconhecida” do que como “pessoa histórica conhecida”.
Inexistente ou não, a Zaratrusta ou Zoroastro (versão grega) é atribuída a fundação do Masdeísmo ou Zoroastrismo, religião oficialmente adoptada pelos reis aqueménidas (558-330 a.C.), o primeiro dos quais Ciro.
As datas apontadas para o nascimento de Zaratrusta / Zoroastro variam do século XII ao VI a.C., com origem geográfica na área do Azerbaijão que hoje faz parte do Irão. Teria sido assassinado, aos 77 anos, quando rezava num templo de fogo.
A única certeza é que os antigos persas, à medida que deixavam de ser nómadas, reconhecendo a importante ligação entre a vida sedentária e a água, bem escasso, procuraram uma ética de equidade e encontraram-na no zoroastrismo.
A Zaratrusta / Zoroastro é atribuída uma doutrina simples: há duas forças em competição no mundo, o Criador (Ahura Mazda) e o Destruidor (Arimã). Ficou assim definido um dualismo cósmico: Luz e Trevas; Bem e Mal.
Com Zaratrusta / Zoroastro, há um deus único, justo e imortal. A sua religião é espiritual e política. O Islão venceu o Zoroastrismo quando chegou ao Irão no século VII.
FONTES:
‘Os Homens do Xá, Stephen Kinzer; ‘The Iranians’, de Sandra Mackey, ‘Iran: Empire of the Mind’, de Michael Axworthy, ‘Lifting the Veil, de John Simpson, ‘Des Palais du Chah aux Prisons de la Révolution’, de Ehsan Naraghi; ‘After Khomeini’, de Anoushiravan Ehteshami; ‘Khomeini’, de Heinz Nussbaumer, ‘De la Perse à l’Iran’ (Les Collections de l’Histoire, nº 42, Janeiro 2009); Povo de Bahá (blogue), de Marc Oliveira.
Este artigo, agora revisto e actualizado, foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO em 10 de Fevereiro de 2009 | This article, now revised and updated, was originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO, on February 10, 2009