Ao contrário dos vitoriosos israelitas que puderam construir a sua narrativa sobre a “Guerra dos Seis Dias”, os derrotados árabes não têm arquivos para consultar, diz o historiador palestiniano Yezid Sayigh. Resta a memória popular, mas é demasiado subjectiva para entender o conflito em que perderam a Cisjordânia, Jerusalém Leste, a Faixa de Gaza, o Sinai e os Golã. (Ler mais | Read more…)

Sobre Gamal Abdel Nasser (na foto, de binóculos, a observar o Canal do Suez), diz o historiador Yezid Sayigh: “Creio que ele não queria, nem esperava, entrar em guerra, em 1967. Era um manipulador por várias razões, sobretudo por questões de política interna árabe. Avaliou mal a situação. Os israelitas, que tinham as suas próprias razões, decidiram agir e não ficar passivos”
Yezid Sayigh é professor de Estudos do Médio Oriente no King’s College em Londres. Nascido nos Estados Unidos, é filho de um dos mais prestigiados economistas e académicos palestinianos (leccionou em Princeton, Harvard e Oxford) e de uma antropóloga inglesa. Formou-se primeiro em Química, em Beirute, antes de se dedicar à História Militar.
É autor de vários livros, dos quais se destaca a monumental e muito aclamada obra Armed Struggle and the Search for State – The Palestinian National Movement, 1949-1993. Esta entrevista foi feita por telefone, a partir da sua residência na capital britânica, uma das etapas da diáspora familiar.
Nos últimos 40 anos, desde a Guerra dos Seis Dias de 1967, houve “muitas oportunidades perdidas” de chegar à paz, reconhece Sayigh. O maior erro dos palestinianos foi “militarizarem a Intifada” em 2000.
O maior erro dos israelitas foi “expandirem a colonização” judaica dos territórios ocupados. O impasse vai continuar no Médio Oriente talvez por mais dez anos. Ninguém quer pagar o “preço político” de uma solução para o conflito.
Quais são as suas memórias da guerra de 1967?
Bem, eu tinha 12 anos, por isso não guardo muitas memórias. Eu vivia em Beirute. Não assisti a nada directamente. Sabia que estava a ser travada uma guerra porque não podíamos ter as luzes acesas em casa. Tínhamos de colocar cortinas a tapar as janelas.
De resto havia uma sensação generalizada de excitação, porque algo estava a acontecer. Para mim, o mais importante era que, na escola, não tinha de fazer os exames finais, o que me deixou bastante feliz.
No último dia da guerra, quando o Presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, reconheceu a derrota num discurso na televisão pública, assumiu a sua responsabilidade e anunciou a sua demissão, lembro-me de o meu pai me levar a mim e às minhas irmãs à casa de uns vizinhos. Estavam todos com os olhos fixos na televisão, muito afectados e muito tristes.
Pelo ar deles, percebi que algo de terrível se tinha passado, mas na altura não compreendi muito bem o que era. Quando voltámos à nossa casa, o meu pai disse, a mim e às minhas irmãs, que devíamos todos recordar aquele dia. Não podíamos esquecer aquela noite do discurso de Nasser.

Prisioneiros de guerra egípcios no Sinai – uma das conquistas territoriais israelitas na “Guerra dos Seis Dias” em 1967. A península seria restituída em 1981, depois de um tratado de paz assinado entre o primeiro-ministro Menachem Begin e o Presidente Anwar el-Sadat (assassinado em 1981 por esta “traição”)
© Henri Bureau | Sygma | Corbis
Como é que essas memórias de infância influenciaram a forma como hoje olha para o conflito?
Não tenho bem a certeza se me influenciaram. Nunca pensei bem nisso. Para mim, 1967 sempre foi um momento importante, embora o meu conhecimento tenha sido aprofundado à medida que fui fazendo as minhas investigações, escrevendo a história do movimento nacional palestiniano, tentando explicar a constelação de políticas externas árabes… É claro que para tudo isso 1967 foi uma data importante.
Como historiador, tem sido fácil recolher informação sobre esta guerra? Tem tido acesso aos arquivos árabes para perceber o que passou em 1967?
Não tenho a certeza se existe aquilo a que se chama “arquivos árabes”. A impressão que tenho é a de que não existem verdadeiros arquivos nos países árabes. Não há documentos dos ministérios dos Negócios Estrangeiros ou da Defesa, ou dos serviços de espionagem…
Assim torna-se difícil perceber a posição árabe, já que predomina a narrativa israelita.
Sim, os israelitas estão muito mais bem documentados, a nível do Governo, do Parlamento, do Ministério da Defesa, dos Serviços Secretos. Têm registos de reuniões ministeriais, têm memorandos, relatórios, muitos dos quais foram preservados e ficaram posteriormente acessíveis aos investigadores.
Do lado árabe, e falando da minha experiência, há uma muito pobre memória institucional. Não falo da narrativa popular, que existe, mas do que diziam os políticos, do que está realmente documentado. Isso é muito fraco.
Os investigadores não têm um acesso automático a esse material. Tudo depende de contactos pessoais, se um rei ou um presidente quer ajudar alguém [na pesquisa], o que é muito, muito raro. Os jordanos, de uma maneira geral, são os que têm os melhores registos, mas não são sistemáticos.

Soldados israelitas celebram, junto à Cúpula do Rochedo, relicário considerado um dos santuários do Islão, ao entrarem vitoriosos em Jerusalém Leste, depois de retirarem o controlo da Cidade Velha, predominantemente árabe, às tropas jordanas, em 11 de Junho de 1967
© Bettmann | Corbis
Como explicar, então, o lado árabe da guerra? O que passou pela cabeça de Nasser, por exemplo?
Isso continua a ser um mistério do conflito, precisamente por não termos acesso a documentos e também por não sabermos se esses documentos realmente existiram.
Por que é que Nasser agiu como agiu, em Maio de 1967 [quando enviou forças para a península do Sinai, colocou o exército em estado de alerta, exigiu a retirada das forças da ONU de Sharm el-Sheikh e encerrou o Estreito de Tiran aos navios israelitas, bloqueando o porto de Eilat]?
Até hoje só temos provas circunstanciais indirectas, porque de facto não há memorandos ou minutas de reuniões em que Nasser tenha falado claramente dos seus planos, expectativas, objectivos.
O que temos são memórias das pessoas que o rodeavam nesses dias. É claro que as memórias são úteis, interessantes e fontes primárias, mas temos de ser muito cautelosos na maneira como as usamos, porque são posteriores, vulneráveis ao ego e altamente politizadas. No que diz respeito a Nasser, temos alguns relatos por parte de quem o rodeava, mas ele não deixou nada.
Outra figura-chave, que era o comandante-chefe do exército egípcio, Abdel Hakim Amer, também não deixou qualquer registo.
Suicidou-se [na sua cela, em 14 de Setembro de 1967] no fim da guerra. Portanto, só podemos recorrer a pessoas que não estavam no círculo dos decisores políticos, que mais tarde se tornaram importantes mas que não eram tão importantes na altura da guerra.
É o caso de embaixadores, como o soviético, que conhecem parte da história mas não a história toda. Não sabem ao certo o que Nasser pensava. E como não temos diários nem outro tipo de fontes, acabamos por interpretar o seu comportamento comparando com outras coisas que sabemos a respeito dele. O que temos são provas indirectas e não directas.

Carros de combate israelitas nos Montes Golã, uma perda estratégica sofrida pela Síria em 1967, quando Hafez al-Assad, pai do actual Presidente, Bashar, era ministro da Defesa; deste território só a cidade de Quneitra foi devolvida na sequência de uma outra guerra, em Outubro de 1973
© AFP | Getty
Em entrevistas que deu, depois da publicação de mais um livro [1967: Israel, the War and the Year that transformed the Middle East], o historiador israelita Tom Segev assume: “Não sabemos bem o que se passava na cabeça dos árabes”. Também diz que Israel foi para esta guerra mais por “fraqueza psicológica” do que por “genuína ameaça estratégica”. Concorda? A guerra podia ter sido evitada?
Estritamente falando, sim! Acredito que Nasser não queria nem esperava entrar em guerra. Ele era um manipulador por várias razões, sobretudo por questões de política interna árabe. Ele avaliou mal a situação.
Os israelitas, que tinham as suas próprias razões, decidiram agir e não ficar passivos. Se Israel não tivesse ido para a guerra, Nasser não teria ido para a guerra. Não naquela altura, pelo menos. Não parecia ser essa a sua intenção. Esta é a minha interpretação…
…mas foi Nasser que provocou a guerra.
Sim, é certo que ele criou as condições. Se ele não tivesse feito nada na Primavera de 1967 não creio que Israel tivesse tido a oportunidade ou o incentivo directo. Sim, concordo com isso. O que quero dizer é que as provocações de Nasser eram mais manobras políticas do que manobras militares.
Nesta guerra, qual foi o papel dos palestinianos?
Levavam a cabo pequenos raides, principalmente a partir do Líbano e da Jordânia. Nasser opunha-se a esses raides, mas os sírios serviam-se deles para embaraçar Nasser, tentando demonstrar que outros estavam a ser mais activos [do que o Egipto] contra Israel, e com isso deixavam Nasser numa situação de embaraço.
Em termos de impacto, de ameaça militar, os raides palestinianos eram irrelevantes. Mas Israel tem por hábito reagir sempre desproporcionadamente, com muito mais força, com um objectivo dissuasor.
Os israelitas reagiam às acções palestinianas a uma escala maior, não porque os danos infligidos pelos palestinianos fossem significativos mas porque não queriam que os governos árabes pensassem que Israel não era suficientemente forte e não estava apto a enfrentar qualquer ameaça.
Os israelitas não estavam preocupados com os palestinianos mas sim em garantir que os egípcios, os sírios, os jordanos não avaliassem mal a situação. E por isso reagiam exageradamente. Os palestinianos eram olhados apenas como uma extensão das políticas dos Estados árabes.
Assim, embora a Fatah e Yasser Arafat tivessem tentado deliberadamente arrastar os países árabes para uma guerra com Israel, e de certo modo contribuíram para isso, não eram figuras importantes. Teve maior impacto a rivalidade que separava os sírios, jordanos e sauditas de Nasser.

Na Cisjordânia, que se mantém ocupada desde 1967, combatentes palestinianos rendem-se às tropas israelitas, triunfantes numa guerra que os árabes perderam em seis dias – ou em “seis horas”
© Pierre Guillaud | AFP | Getty Images
Quarenta anos depois quais são as lições desta guerra? Não se perderam muitas oportunidades de paz?
Sim, houve oportunidades perdidas, mas também há muitas responsabilidades que têm de ser partilhadas pelos protagonistas. Os palestinianos cometeram erros muito graves, em diferentes ocasiões, particularmente no ano 2000, quando militarizaram a Intifada.
Podemos argumentar que em 1978 perderam a oportunidade de se juntarem ao processo de Camp David [que conduziu ao tratado de paz entre Israel e o Egipto], mas não creio que os israelitas sob o governo de [Menachem] Begin se tivessem retirado [dos territórios ocupados – o acordo com Anwar el-Sadat só previa autonomia].
Foi uma oportunidade perdida mas não especificamente por culpa dos palestinianos. No entanto, também os israelitas fizeram tudo para destruir o processo de Oslo [assinado em Setembro de 1993 com a OLP], acelerando a colonização, usando castigos colectivos e pressões económicas em vez de negociarem com a Autoridade Palestiniana.
Eles fizeram muito para prejudicar este processo a partir de 1994. E a comunidade internacional, em particular os americanos e a União Europeia, não foram capazes de enfrentar os desafios políticos. Isto criou uma situação de crise humanitária.
Os EUA e a UE deveriam ter garantido negociações numa base razoavelmente equilibrada, entre uma parte forte e uma parte fraca, mas como não quiseram contrariar os israelitas acabaram por se transformar apenas em fornecedores de dinheiro, esperando que o crescimento económico resolvesse os problemas. Abdicaram do seu papel político, e isso ainda acontece agora. Limitam-se a dar ajuda financeira.

Uma criança palestiniana brinca num campo de refugiados na Jordânia; depois da guerra de 1948, que se seguiu à criação de Israel, a de 1967 causou um novo êxodo, não apenas de habitantes da Cisjordânia mas também da Faixa de Gaza
© AFP | Getty
Parece muito pessimista. A equação “território em troca de paz”, que ganhou forma depois da guerra de 1967, ainda continua válida?
Teoricamente, sim, mas os israelitas expandiram a tal ponto a colonização da Cisjordânia e de Jerusalém Leste que vai ser preciso muita determinação, da parte da Administração norte-americana, do Governo israelita e da UE, para levar a cabo uma substancial redução do número de colonatos nos territórios ocupados. E para delimitar fronteiras que sejam razoáveis.
Creio que o preço para conseguir isto se torna, dia a dia, mais elevado, e ultrapassa o que americanos, europeus e israelitas parecem dispostos a pagar.
Enfrentamos uma situação de Estado falhado, de colapso de Estado – e a Autoridade Palestiniana ainda nem sequer é um Estado –, e vamos continuar a ver a Cisjordânia e a Faixa de Gaza sem uma solução à vista, porque não há quem queira pagar o preço político.
O problema também não passará pelo facto de, no lado israelita e no lado palestiniano, não haver líderes fortes empenhados em encontrar uma solução?
Creio que ambos os lados enfrentam diferentes problemas internos. Do lado palestiniano, há um problema muito grande, que é o da Fatah estar mais interessada em combater o Hamas e em voltar ao poder. Ao mesmo tempo, o Hamas quer evitar lidar abertamente com os desafios políticos, que são os de ter de negociar com Israel e reconhecer Israel.
A realidade é que todos querem atingir os mesmos objectivos mas por meios diferentes. Até o Hamas aceita uma solução de dois Estados com base nas fronteiras de 1967 e com o que chama de ‘solução justa’ do problema dos refugiados palestinianos. A sua posição é muito próxima da da Fatah. Não são assim tão diferentes.
As duas principais forças políticas palestinianas aceitam, de uma maneira geral, o compromisso e a coexistência com Israel.
Pelo contrário, o lado israelita ainda não aceitou o facto de, mais cedo ou mais parte, se quiser uma paz genuína, ter de desmantelar muitos colonatos, ter de abdicar de Jerusalém Leste e ter de aceitar um Estado palestiniano independente, com soberania total nas suas fronteiras. Até agora os partidos tradicionais israelitas ainda não aceitaram isso.
!["Se Israel não tivesse ido para a guerra [em 1967], Nasser [na foto] não teria ido para a guerra; não naquela altura, pelo menos", disse Yezid Sayigh. "Não parecia ser essa a sua intenção.” @DR (Direitos Reservados | All Rights Reserved)](https://margaridasantoslopes.files.wordpress.com/2013/09/nasser.jpg?w=637)
“Se Israel não tivesse ido para a guerra [em 1967], Nasser não teria ido para a guerra; não naquela altura, pelo menos”, está convencido Yezid Sayigh
Não se trata de um boicote passivo, do género “não vos damos dinheiro porque não gostamos da vossa política”. Da parte dos americanos, o boicote é muito agressivo. Impede o Hamas de obter qualquer apoio de outras partes.
O boicote é contraproducente?
A economia, a política e a sociedade palestinianas já estão muito fragilizadas devido a sete anos de cerco por parte de Israel [desde a segunda Intifada em 2000].
Ao impor um boicote financeiro adicional, os americanos estão a deixar uma estrutura frágil à beira da ruptura. E porque os americanos não estão apenas determinados a forçar o Hamas a reconhecer Israel mas porque querem o seu fracasso, promovem políticas bastante agressivas como a de treinar e fornecer armas aos polícias leais à Fatah, criando uma situação de disputa ou confronto militar.
O que os americanos procuram é, basicamente, uma mudança de regime. Tentam isso por meios políticos, diplomáticos, financeiros e militares. Isso só contribui para destruir o que resta de lei e ordem e de um governo constitucional na Palestina. Neste momento, nem o Hamas nem a Fatah conseguem controlar a situação em Gaza.
Isso tem muito a ver com a natureza da política americana dos últimos 15 meses. Os EUA e a UE têm dito que o boicote será levantado se o Hamas reconhecer Israel e renunciar à violência. As exigências são um pouco desonestas.
Porquê?
Israel também reconhece o Hamas? Eles [israelitas] dizem: “Não gostamos do Hamas, não queremos saber do Hamas”. Eles têm de pôr as ideias no lugar. O Hamas, com alguma justificação, pergunta: “Muito bem, se nós vos reconhecermos, o que vai acontecer a seguir?
Vai haver um processo de paz? Vão deixar de construir colonatos? Vão discutir o estatuto final dos territórios?” Será que os EUA estão a pressionar Israel a cumprir a sua parte do Roteiro da Paz? Não!
Israel tem mais de 100 colonatos ilegais, tem prometido evacuá-los desde 2001, prometeu isso, vezes sem conta, pessoalmente e por escrito, ao Presidente [George W.] Bush, mas continua a construir, e com fundos do governo.
Por que é que o Hamas ou a Fatah devem reconhecer Israel se o que vão ter em troca é apenas conversa sobre o Roteiro e nenhuma aplicação?
Como vai ser ultrapassado este impasse? Não pode continuar eternamente assim.
Eternamente não, mas pode durar por três, cinco, dez anos.

“Embora tivessem tentado, deliberadamente, arrastar os países árabes para uma guerra com Israel, e de certo modo contribuíram para isso, a Fatah e Yasser Arafat não eram figuras importantes. Teve maior impacto a rivalidade que separava sírios, jordanos e sauditas de Nasser“, diz Yezid Sayigh
No seu livro Armed Struggle and the Search for State diz que a guerra de 1967 assinalou a morte do pan-arabismo e a emergência do Islão como força política. É a isso que estamos a assistir agora, não?
Bem, forças islâmicas têm aparecido em diferentes sociedades, em particular desde 1967, embora as suas raízes sejam anteriores. Elas não são invulgares, sempre andaram por ali [como a Irmandade Muçulmana egípcia].
A guerra de 1967 deu-lhes ímpeto, é certo, mas a emergência de forças islâmicas está mais directamente relacionada com questões de poder político e estatuto sócio-económico. Como é que aparecem, se movimentam e como lidam com elas varia de país para país.
Na Turquia, um partido islamista [AKP] chegou ao poder legalmente. Na Jordânia, os islamistas sempre mantiveram uma aliança com o trono, embora seja uma relação frágil.
Como analisa, por exemplo, o aparecimento de grupos como a Fatah al-Islam no Líbano?
Bem, é possível que haja uma ligação a um ou outro serviço secreto. Nenhum destes grupos aparece sem ter o apoio de algum país. Também haverá ligações com os conflitos no Iraque ou no Afeganistão, onde alguns [elementos do grupo} terão combatido. É ainda uma consequência do declínio de sistemas políticos.
No Líbano, no Iraque e na Palestina os governos estão a falhar. O extremismo aproveita-se da ausência de Estado. A Fatah al-Islam é um fenómeno local. Também em Gaza aparecem grupos como este, porque as condições são semelhantes. A Autoridade Palestiniana é incapaz de governar.
O Hamas e a Fatah não podem pôr em prática os seus projectos políticos porque os americanos e os israelitas os bloqueiam. Isso faz com que as pessoas percam a esperança e tentem encontrar alternativas.
Uma mudança de governo nos Estados Unidos pode mudar a situação no Médio Oriente?
Não creio que uma nova Administração, democrata ou republicana, vá adoptar uma política fundamentalmente diferente da que tem sido seguida até aqui.
Então vamos ficar assim, como disse, durante mais dez anos?
Por que não? É preciso que haja uma combinação de factores locais, regionais e internacionais, como aconteceu com o processo de Oslo – o fim da Guerra Fria, a Guerra do Golfo de 1991, o enfraquecimento da OLP face ao Hamas e a determinação de uma Administração norte-americana em realizar a Conferência de Paz de Madrid [em 1991] apesar da relutância do governo israelita de [Yitzhak] Shamir.
Não basta haver líderes locais fortes, é preciso estarem criadas as condições [para a paz], e neste momento não estão. O que temos agora é uma guerra ao terrorismo [durante a Presidência de George W. Bush], a América atolada no Iraque e a confrontar o Irão, o colapso da parte palestiniana e a fragmentação da política israelita. Nada disto muda de um dia para o outro.

Yezid Sayigh é professor de Estudos do Médio Oriente no King’s College em Londres. Nascido nos EUA, é filho de Yusif A. Sayigh, um dos mais prestigiados economistas e académicos palestinianos (leccionou em Princeton, Harvard e Oxford) e de uma antropóloga inglesa, Rosemary Sayigh. É autor de obra de referência da história militar: Armed Struggle and the Search for State – The Palestinian National Movement, 1949-1993
Este artigo, agora revisto e actualizado, foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO em 2007, no 40º aniversário da Guerra Israelo-Árabe de Junho de 1967 | This article, now revised and updated, was originally published in the newspaper PÚBLICO on 2007, the 40th anniversary of the June 1967 Israeli-Arab War