De 1948, data da criação de Israel, até à segunda Intifada palestiniana, em 2002, esta é uma cronologia de várias batalhas pelo direito à existência. (Ler mais | Read more…)

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Ano febril o de 1993. Israel reconciliava-se com a Organização de Libertação da Palestina (OLP). Retirava-lhe a etiqueta de “terrorista”. Elevava à categoria de quase-Presidente o seu líder, Yasser Arafat.
As portas do mundo árabe e muçulmano – da Tunísia à Indonésia – abriam-se ao ostracizado Estado que exige ser classificado como judaico. A Faixa de Gaza e o pequeno enclave de Jericó, na Cisjordânia, ganhavam uma autonomia parcial, na esperança de um dia incluírem um mais vasto território soberano e viável.
Errado dizer que tudo acabou com a voracidade com que começou. Não foi assim. Os Acordos de Oslo, assinados em 1993, por gente que se julgava visionária, previam negociações por etapas até chegar a um “estatuto final”.
A sua destruição foi também um processo por fases. Depois de um conflito de um século não se podia exigir mais uma década para “restaurar a confiança”. Este é um calendário de ódio e de esperança.
1948: Independência e exílio

Árabes da Palestina do Mandato Britânico numa reunião de protesto contra a colonização judaica do território que viria a ser o Estado de Israel
© Times of Israel (Cortesia de Ian Black, autor do livro Enemies and Neighbours: Arabs and Jews in Palestine and Israel 1917-2017)

Festejos em Telavive depois da proclamação da independência de Israel, em 14 de Maio de 1948
© Getty Images | The Jewish Chronicle

A independência de Israel foi a Nakba (tragédia) palestiniana: mais de 750 mil pessoas expulsas ou forçadas a fugir de centenas de aldeias, para nunca mais regressarem [Em 2019, o jornal Ha’aretz denunciou a existência de um departamento secreto no Ministério da Defesa em Telavive para fazer desaparecer os arquivos relativos ao primeiro êxodo de 1948)
© Ha’aretz
Em 1896, Theodor Herzl, jornalista e dramaturgo nascido em Budapeste, publica O Estado dos Judeus, pedra angular do nascimento de Israel.
Um crescente anti-semitismo na Europa acelera a colonização da Palestina: os habitantes judeus passam de 24 mil em 1880 para 60 mil em 1914. Neste ano, o árabes são 570 mil muçulmanos e 75 mil cristãos.
Em 1917, Arthur Balfour, ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, propõe um “Lar Nacional Judeu“. Em 1921, travam-se os primeiros confrontos sangrentos, em Jaffa. Em 1942, quando os nazis põem em marcha o plano de extermínio do povo judeu, a Yushuv (comunidade hebraica da Palestina) decide atacar directamente as forças britânicas que impediam a chegada de imigrantes fugindo desesperados da “solução final”.
Em 1946, mais de cem pessoas morrem num atentado reivindicado pelos extremistas do Irgun contra o quartel-general da potência mandatária, no hotel King David em Jerusalém.
Em Março de 1948, combates entre judeus e árabes fazem mais de 500 mortos. Extremistas judeus cometem massacres. Aterrorizados, milhares de palestinianos fogem das suas casas e terras que passam a ser ocupadas por uma população judaica que já totalizava 717 mil.
Em Maio de 1948, proclamado o Estado sonhado por Herzl, tropas egípcias conquistam Gaza e Hebron. A Legião Árabe apodera-se parcialmente de Jerusalém. Telavive é cercada. O exército iraquiano atravessa o Rio Jordão. A Transjordânia (actual Jordânia) anexa a Cisjordânia. Até Dezembro, os israelitas respondem com todo o seu poder e vencem a guerra. Conquistam ainda mais território.
Em Janeiro de 1949, Israel é admitido como membro da ONU, prometendo ser “uma luz entre as nações”. Uns 900 mil palestinianos tornam-se refugiados.
1967: Derrota em seis dias

O general Moshe Dayan, um dos comandantes militares que ajudou Israel a vencer a guerra de 1967, também conhecida como “Guerra dos Seis Dias” – alguns historiadores dizem que foi ganha “em seis horas”
© Fondation Gilles Caron
Depois da guerra de 1948, Israel e os vizinhos árabes não cessam acusações mútuas, ataques e represálias. Mas o pior estava para vir, em 1967. A escalada começou em 6 de Abril, com violentos combates entre Israel e a Síria. Em 6 de Maio, os palestinianos atacam Israel com morteiros, no que foram os primeiros bombardeamentos a partir do Líbano.
A espiral atinge o auge a 5 de Junho: começa a guerra. Os estrategos árabes não têm tempo para pensar: os seus aviões (cerca de 400) são destruídos nas pistas antes de levantar voo. Em seis dias – alguns dirão “seis horas” – Israel conquista a península do Sinai e a Faixa de Gaza ao Egipto; a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, à Jordânia; e os Montes Golã à Síria.
Diz-se que o chefe de Estado-Maior israelita de então, general Yitzhak Rabin, aturdido com a vitória, terá perguntado ao seu ajudante de campo: “Que faremos com estes territórios?”
O Bloco da Fé [Gush Emunim]daria a resposta no ano seguinte, quando impôs aos trabalhistas, no poder, uma colonização messiânica. O parlamento aprova a anexação do sector oriental da cidade e os árabes definem a sua política face a Israel: não à negociação, não ao reconhecimento, não à paz.
A 21 de Novembro, o Conselho de Segurança da ONU aprova a Resolução 242, que exige a Israel a retirada “de” ou dos” – aqui reside um contencioso – territórios ocupados.
Em Julho de 1968, a OLP faz aprovar a sua Carta Nacional onde define como objectivo a destruição de Israel. No mesmo mês, a guerra chega a outros pontos do mundo, através de operações palestinianas de sequestro. Em Fevereiro de 1969, Arafat é eleito presidente da OLP.
De Junho a Setembro, sentindo o seu trono ameaçado pelos grupos palestinianos que usavam a Jordânia para atacar Israel, Hussein leva a cabo uma ofensiva que resulta em milhares de mortos e num novo êxodo.
Esta guerra ficou conhecida como “Setembro Negro” e foi com este nome que um grupo palestiniano reivindicou, em Setembro de 1972, o massacre de onze atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de Munique. A vingança prometida por Golda Meir assume o carácter de assassínios selectivos, cometidos pelo “longo braço da Mossad”.
1973: A surpresa no Yom Kippur

A primeira ministra Golda Meir e membros do seu governo de visita ao comando sul do exército israelita, em 9 de Outubro de 1973, mês a Guerra do Yom Kippur
© Yehuda Tsion | Times of Israel
Uma nova guerra é travada, em 1973, opondo a Síria e o Egipto a Israel. Os israelitas deram-lhe o nome de “Yom Kippur” porque coincidiu com o dia mais sagrado do calendário hebraico. Escreveram historiadores que os trabalhistas no governo de Telavive ficaram tão inebriados com a vitória em 1967 que não cuidaram da segurança.
Quando as sirenes mobilizaram os reservistas para uma invasão iminente, as pessoas julgavam que o toque homenageava os mortos como era tradição.
Foi uma guerra de surpresa que devolveu aos árabes o orgulho perdido, embora mais uma vez Israel tenha virado o destino a seu favor. Em 6 de Outubro, os egípcios conseguiram atravessar o canal do Suez e os sírios penetraram nos Golã. Os israelitas sofreram pesadas baixas aéreas mas, no dia 8, ripostaram, bombardeando Damasco, o Sul do Líbano e o Egipto.
A 17, a OPEP decide usar a arma do petróleo, fazendo subir os preços. Mas de 18 a 23, Israel avança para leste dos Golã e cerca totalmente o exército egípcio. No dia 24, todos aceitam um cessar-fogo.
Em 13 de Novembro, Yasser Arafat discursa na Assembleia Geral da ONU. Com os seus inseparáveis uniforme militar e kaffiyeh (o lenço que ele usa como se fosse o mapa da “Grande Palestina”), o chefe da OLP disse ao mundo que tinha uma arma numa mão e um ramo de oliveira noutra. A opção era de Israel.
Em Janeiro de 1975, o Presidente egípcio Anwar el-Sadat deixa todos boquiabertos ao revelar que está disposto a concluir um acordo de paz com Israel. O ano de 1977 foi o das “reviravoltas”. Em 17 de Maio, pela primeira vez desde a criação de Israel, a direita ganha as eleições legislativas aos trabalhistas.
O líder do Likud, Menachem Begin, torna-se primeiro-ministro. Em Novembro, Sadat visita Jerusalém e a aproximação culminaria em 26 de Março de 1979, com a assinatura por Sadat e Begin, em Washington, de um tratado de paz – o primeiro entre um país árabe e o Estado que insiste em ser designado por judaico.
No dia seguinte, o Egipto é suspenso da Liga Árabe. Sadat viria a pagá-lo em 6 de Outubro de 1981: é assassinado no Cairo por um integrista islâmico.
1982: Invasão e massacres

Massacre nos campos refugiados palestinianos de Sabra e Shatila, em 1982: a responsabilidade foi atribuída à milícia cristão pró-israelita Falange, que assim vingou o assassínio (supostamente ordenado pela Síria) do seu líder, Bashir Gemyel. Depois de invadir Beirute, para erradicar a OLP, Israel acreditava que o Líbano seria o segundo país árabe, depois do Egipto, a assinar um tratado de paz. Em vez disso, teve de enfrentar uma Intifada na Cisjordânia e Faixa de Gaza, em 1987
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Em 4 de Junho, o embaixador israelita em Londres é ferido num atentado. No dia 6, começa a Operação Paz para a Galileia – a invasão do Líbano que levaria os tanques de Ariel Sharon a cercar a primeira capital árabe: Beirute.
Em 25 de Julho, Arafat reconhece “todas as resoluções da ONU sobre a questão palestiniana”. No dia 12, o número de mortos desde o início da invasão israelita do Líbano ascendia a 20 mil. Em 21 de Agosto, 14.500 guerrilheiros palestinianos deixam Beirute Ocidental, para se refugiarem em oito países árabes.
Em 1 de Setembro, o Presidente dos EUA Ronald Reagan apresenta um plano de paz e os árabes aprovam-no, numa cimeira na cidade marroquina de Fès. O sétimo dos oito pontos era o reconhecimento implícito de Israel.
A 14, o Presidente eleito do Líbano Bashir Gemayel morre num atentado atribuído à Síria. Israel conquista totalmente Beirute Ocidental. Em 16-17, para vingar a morte do seu líder, os falangistas massacram, durante 36 horas, milhares de civis palestinianos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila.
Em 21-29, o exército israelita retira-se. Em 8 de Fevereiro, uma comissão de inquérito israelita concluiu da “responsabilidade indirecta” de Sharon nos massacres de Sabra e Shatila, forçando-o a demitir-se de ministro da Defesa.
Manifestações gigantescas contra as matanças e pelo “regresso imediato” dos soldados do Líbano, a última a 11 de Junho, força Menachem Begin a sair do governo.
Em 20 de Dezembro, depois de um cerco na cidade libanesa de Tripoli onde foi atacado por dissidentes palestinianos e forças sírias, Arafat e 4000 dos seus fiéis partem para o Egipto. A 31, o comité central da OLP, em Tunes, considera o Tratado de Camp David entre o Cairo e Telavive “um facto irreversível”.
Em 3 de Maio de 1984, é a vez de Arafat se “reconciliar” com Hussein da Jordânia para, em 7 de Novembro de 1985, condenar todas as formas de terrorismo mas reafirmando o direito dos palestinianos a “resistir à ocupação israelita nos seus territórios.”
Em 8 de Abril de 1986, perante um congresso do seu Partido Trabalhista, Shimon Peres declara que “Israel reconhece os palestinianos como nação”.
1987: Intifada substitui a Thawra

Al Ram, na Cisjordânia: Jovens palestinianos lançam pedras durante uma manifestação contra a ocupação israelita, em Janeiro de 1988. A primeira Intifada começara no ano anterior, surpreendendo a própria OLP e Yasser Arafat
© Jean-Claude Coutausse
Em 9 de Dezembro de 1987, primeiro em Gaza e depois na Cisjordânia, começa a Intifada ou “guerra das pedras”. A palavra cuja raíz árabe trilítera é “nafada” (com o significado de “abalar”, “ver-se livre de” ou “romper com alguém”) substitui o velho lema da OLP no Líbano: Thawra, thawra, hat al-nasr ou “revolução, revolução até à vitória”.
De 12 a 16 de Novembro de 1988, numa reunião do seu parlamento no exílio, em Argel, a OLP aceita a Resolução 242 da ONU e proclama “a criação de um Estado palestiniano independente“.
Em 12 Dezembro, Arafat declara que reconhece o direito de Israel “a existir na paz e na segurança” e condena “o terrorismo sob todas as suas formas”. Depois destas palavras, os EUA aceitam dialogar com a OLP.
Em 23 de Junho de 1992, o trabalhista Yitzhak Rabin ganha as eleições em Israel e anuncia o congelamento parcial da colonização “privada” na Cisjordânia e Gaza. Organizações humanitárias fazem um balanço da Intifada desde 9 de Dezembro de 1987: 1.116 palestinianos mortos (223 dos quais com menos de 17 anos), mais de 20.000 feridos a tiro.
Do lado israelita, morreram 33 soldados e 40 civis; ficaram feridos 4.426 soldados e 1.735 civis. Nas prisões israelitas estavam 15.000 palestinianos.
Em Janeiro de 1993, começam na Noruega contactos secretos entre Israel e a OLP. Todo o jogo diplomático culminará no dia 13 de Setembro, em Washington, com o aperto de mão histórico entre Rabin e Arafat.
A paz paga-se: em 25 de Fevereiro de 1994, um médico do colonato judaico de Kyriat Arba, Baruch Goldstein, abre fogo sobre fiéis na mesquita de Abraão, em Hebron. Mata 30 palestinianos. Em 5 de Março, 30 mil pessoas manifestam-se em Telavive exigindo a retirada dos extremistas judeus dos territórios.
Os movimentos Kach (ao qual pertencia Goldstein) e Kahane são ilegalizados. O exército israelita recebe ordens para atirar sobre os colonos que, “não tendo a sua vida em perigo, disparam sobre palestinianos”. A 1 de Julho, Arafat regressa a Gaza e, no dia 12, instala-se definitivamente, dizendo adeus ao quartel-general em Tunes.
A paz paga-se, mais uma vez: em 4 de Novembro, Rabin é assassinado, em Telavive, por um extremista judeu, Yigal Amir. O rei da Hussein da Jordânia e o Presidente do Egipto (Hosni Mubarak) assistem ao seu funeral na disputada Jerusalém.
2000: Elefante numa loja de vidros

Em 28 de Setembro de 2000, acompanhado de dezenas de guarda-costas, o líder do Likud e futuro primeiro-ministro israelita, Ariel Sharon, visitou o complexo das mesquitas conhecido como Haram al-Sharif, onde se encontra a Cúpula do Rochedo, terceiro santuário do Islão, em Jerusalém. Com esta provocação começou a segunda Intifada
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Um suicida palestiniano faz-se explodir num autocarro de passageiros – alguns deles crianças a caminho das escolas – em 18 de Junho de 2002, em Jerusalém. Este atentado, que causou 18 mortos, foi um de muitos cometidos durante a segunda Intifada, iniciada em dois anos antes
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No ano 2000, com Ehud Barak como primeiro-ministro (eleito por uma esmagadora maioria), palestinianos e sírios retomam negociações com Israel. Barak depressa desilude. Investe no diálogo com Damasco, mas Hafez al-Assad troca-lhe as voltas e o seu plano de paz afunda-se no Lago de Tiberíades, cujo controlo o “Leão de Damasco” não queria partilhar.
No campo palestiniano, pressionado pelo Presidente Bill Clinton, Barak aceita negociar com Arafat um projecto ambicioso. Mas, ao contrário do que tem sido propagado, Barak não fez promessas escritas nem orais.
Ele e Arafat não tinham preparado as suas circunscrições para sacrifícios: os israelitas para abdicarem da soberania total de Jerusalém e trocar território anexado da Cisjordânia por outro de igual valor dentro do Estado judaico; os palestinianos para esquecerem o direito de retorno dos refugiados, satisfazendo-se com o regresso de “algumas centenas” às aldeias e vilas que hoje constituem o Estado de Israel.
Convém não esquecer que Barak nunca foi um defensor dos Acordos de Oslo, e que, durante o seu mandato, construíram-se mais colonatos na Cisjordânia do que no de Benjamin Netanyahu. O grande mérito do homem a quem chamavam “o delfim de Rabin” foi pôr fim a 17 anos de ocupação do Sul do Líbano, região que se transformara num cemitério de soldados
israelitas.
Tendo feito passar a mensagem – enganadora – de que os palestinianos desperdiçaram “a melhor oportunidade” que lhes foi oferecida em Camp David, os israelitas decidiram punir Barak e Arafat. Chamados de novo às urnas, elegeram Ariel Sharon, o invasor do Líbano sobre quem Zbigniew Brezinski disse “ajudou a criar a atmosfera de ódio que conduziu ao assassínio de Rabin”.
Antes de ser eleito, o “falcão” Sharon já tinha feito estragos. Em Setembro de 2000, com autorização de Barak, foi ao Pátio das Mesquitas, em Jerusalém Leste, protegido por dezenas de guarda-costas. “Foi como se um elefante tivesse entrada numa loja de vidros e porcelanas”, escreveu a revista The Economist. Recomeçou com ele a Intifada que todos julgavam enterrada em 1994.
2002: Lutar pela existência

Marwan Barghouti, líder da Fatah e da Segunda Intifada, uma figura tão ou mais popular e carismática que Yasser Arafat. O seu rosto está pintado por toda a Palestina, incluindo no “muro do apartheid” que separa Israel dos territórios ocupados
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O general “Arik” Sharon foi eleito com a promessa de oferecer “paz e segurança” aos israelitas. Formou o mais amplo governo de unidade nacional do país, mas o seu primeiro ano no poder foi o mais sangrento da história da nação.
“Para merecer segurança, Israel tem de pôr fim à ocupação”, escreveu num jornal americano Marwan Barghouti, o líder da Tanzim, a organização politico-militar da Fatah, facção de Arafat na OLP. Barghouti tornou-se num alvo a abater.
Terá sido ele que, procurando seguir o exemplo do Hezbollah libanês, criou as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, responsáveis por alguns dos mais sangrentos atentados suicidas dos últimos meses, dentro e fora de Israel.Sharon, o bulldozer, não podia ficar indiferente ao desafio lançado por Arafat. Os dois homens têm contas a ajustar desde Beirute.
Alguns analistas interrogam-se sobre se Sharon tem uma estratégia que lhes devolva a liberdade de ir a uma discoteca ou a um restaurante sem medo que um bombista se faça explodir junto deles. Outros estão convencidos que o seu plano há muito foi traçado. Ele nunca quis tréguas. Sempre que as teve, procurou pretextos para forçar represálias dos palestinianos.
O seu objectivo é reconquistar os territórios, arranjar uma liderança palestiniana dócil e expandir os colonatos, mantendo vivo o sonho da “Grande Israel”. Duas etapas já foram ultrapassadas: a reocupação das cidades autónomas (Jenin, Nablus, Ramallah…) e a destruição das infra-estruturas da Autoridade Palestiniana.
Se Arafat morrer herói, dificilmente os palestinianos aceitarão um “traidor” no seu lugar. Isso é um mal menor para Sharon, comentam os mais cínicos. Se triunfarem as milícias tanto melhor. O mundo não reconhece radicais. Portanto, acabam-se as aspirações de independência dos palestinianos.
Em 1982, no Líbano, Sharon também pensava ter aniquilado a OLP. Mas os palestinianos sobreviveram para o voltar a atormentar. Talvez, no futuro, o que Sharon mais teme – os defensores de uma resistência pacífica à ocupação – suplantem aqueles com quem Sharon partilha ideais: os extremistas.
Talvez então palestinianos e israelitas consigam finalmente coexistir. Como iguais.

Uma criança judia acende velas depois de um ataque palestiniano na Cidade Velha de Jerusalém
© Oded Balilty | AP | The Christian Science Monitor

Crianças palestinianas na Faixa de Gaza com velas para poderem estudar. Os cortes de energia impostos por Israel deixam o território sem electricidade uma média de 20 horas por dia
© Mahmoud Issa | ICRC
Este artigo, agora revisto, foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO em 15 de Abril de 2002 | This article, now revised, was originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO on April 15, 2002