Se Portugal vender ilhas, Vladi quer comprá-las

Johnny Depp, Tony Curtis, Nicolas Cage, Paul McCartney, Richard Branson e o príncipe William são alguns dos clientes de Farhad Vladi. Este alemão já vendeu e alugou mais de 2000 ilhas, das Bahamas à Nova Zelândia. Repetir a aventura de Robinson Crusoé não é um pesadelo. É um sonho que pode custar menos do que um apartamento em Nova Iorque. (Ler mais | Read more…)

A Ilha do Coco é uma ilha costa-riquenha situada no Oceano Pacífico, a 532 km a sudoeste do litoral sul da Costa Rica. A sua área é de 23,85 km², medindo 7,6 km de comprimento por 4,4 km de largura. A ilha tem uma grande biodiversidade. É a única ilha no Pacífico este com uma floresta tropical. O "mundo subaquático" do Parque Nacional da Ilha do Coco tornou-o famoso e é um dos melhores locais do mundo para ver espécies da zona pelágica como tubarões, raias, atuns e golfinhos. © Vladi Private Islands

Ilha do Coco, 532 km a sudoeste do litoral sul da Costa Rica é a única ilha no Oceano Pacífico Leste com uma floresta tropical
© Vladi Private Islands

Há 25 anos que Farhad Vladi tenta encontrar, sem êxito, “pedaços do paraíso” em Portugal, um país “bonito, com um clima ameno e uma situação política estável”. Por isso, o homem que inventou a profissão de “vendedor de ilhas” ficou intrigado quando leu que o cineasta Steven Spielberg tinha adquirido uma parte do arquipélago da Madeira.

“Como eu suspeitava, a informação era falsa”, exulta o dono da Vladi Private Islands, numa entrevista, por telefone.

“Como é que isso podia acontecer se eu e um dos meus mais fiéis colaboradores, meio alemão e meio português, tínhamos a certeza de que não há ilhas privadas à venda em Portugal?

Não é a primeira vez que isto acontece: quando eu estava a avaliar Scorpio, na Grécia, a pedido de da herdeira, Athina, apenas porque ela queria saber o custo real da propriedade, também se especulava que Madonna tinha comprado a ilha do magnata Onassis por 300 milhões de dólares.

O que aconteceu na realidade foi que, um dia, ao passar por… a cantora comentou, a propósito de um… que Scorpio deveria valer aquela quantia.”

Curiosamente, a carreira e reputação de Vladi como “o mais importante” empresário neste negócio foram lançadas também com uma notícia incorrecta que, em 1971, o levou até à Embaixada das Seychelles em Londres.

Em Munique, onde estudava macroeconomia, estava um dia a folhear o jornal Süddeutsche Zeitung quando deparou com a história de um inglês que comprara uma ilha por 500 marcos.

“Quando lá cheguei, só havia um funcionário que, julgando que eu era louco ou estava embriagado, me ordenou que abandonasse o local”, recorda o filho de uma alemã e de um iraniano.

A atitude do funcionário não o desencorajou. “Peguei em 100 marcos e enviei para um diário das Seychelles, não imaginando que daria para pagar um anúncio de página inteira, ‘Procura-se ilha para comprar’.”

“Recebi dezenas de ofertas mas quando cheguei à maravilhosa Cousine Island pediram-me 110.000 dólares, e eu não tinha esse dinheiro.

De regresso à Alemanha, contactei potenciais compradores e um deles ficou com a ilha que eu queria para mim. Foi também a minha primeira comissão, obtida graças à ajuda de um advogado que vivia do outro lado da ilha…, e que mais tarde seria eleito Presidente.”

Farhad Vladi, o inventor da profissão “Vendedor de ilhas”
© augsburger-allgemeine.de

Cousine Island pertence agora a uma companhia de helicópteros que a rentabiliza alugando-a a quem tenha interesse e dinheiro. Paul McCartney por exemplo, o cantor dos Beatles a quem a rainha de Inglaterra deu o título de Sir, festejou ali a sua lua-de-mel com Heather Mills. O casamento falhou, mas Vladi brinca que “a culpa não foi da ilha.”

Uma outra lua-de-mel, mais recentemente transaccionada, a “um preço mais baixo, que não pode ser revelado, foi a do príncipe William, segundo na linha de sucessão ao trono britânico, e Kate Middleton. A imprensa londrina especulou que a estadia do casal real em North Island, nas Seychelles, custou 45 mil libras por noite.

Outro cliente ansioso por fugir dos paparazzi, foi Johnny Depp, que chama à sua ilha nas Bahamas “Fuck Off island”.

Hoje em dia, refere Vladi, “ele nem sequer vive ali mas num barco de recreio que colocou à entrada”, sem perder o encanto de dormir e acordar rodeado de palmeiras suficientemente altas contra intrusos, águas cálidas e areia fina.

A ilha privada de Böedic, na França, que está à venda por € 9; Böedic fica situada no golfo de Morbihan, na região da Bretanha (França) @ Vladi Private Islands

A ilha privada de Böedic, em França, situa-se no golfo de Morbihan, na região da Bretanha
@ Vladi Private Islands

Vladi ficou contente por não ter sido a ele a vender a Mel Gibson a uma ilha nas Fiji, 22 quilómetros quadrados por 15 milhões de dólares, porque ele nunca conseguiu o sossego que pretendia, devido às pretensões da população local a partilhar o espaço.

“Nunca se deve comprar uma ilha habitada porque haverá sempre disputas – cometi esse erro uma vez e jurei que não o repetiria”, explicou.

Onassis e também Marlon Brando, depois de ter protagonizado Revolta na Bounty, despertaram em muitos milionários e celebridades o desejo de ter a sua ilha privada, para garantir privacidade ou como sinal de riqueza.

Vlad, agora com 66 anos, foi influenciado pela leitura de Robinson Crusoé, quando era criança. O romance de Daniel Defoe baseado na história verídica do náufrago Alexander Selkirk que sobreviveu cinco anos na ilha de South Sea, teve um grande impacto na vida do rapaz filho de uma alemã e de um iraniano.

Em 1970, sentado num restaurante de Munique a folhear o jornal Süddeutsche Zeitung, leu a notícia de que um inglês comprara uma ilha por 500 marcos. “Fiquei fascinado e viajei até Londres para contactar a Embaixada das Seychelles”, recorda. “Quando lhe disse que também queria comprar uma ilha.

“O milionário Onassis não foi o primeiro a ter uma ilha privada, mas foi o primeiro a demonstrar que não há melhor refúgio”, diz Farhad Vlad (na foto, em Halifax, Canadá)
© welt.de

Este artigo foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO, em 3 de Maio de 2012 | This article was originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO, on May 3, 2012

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