Rafsanjani: O turbante branco da “revolução verde”

A cara barbuda e sorridente de Mir-Hossein Mousavi pode ter sido a bandeira dos manifestantes que desafiaram o regime em 2009, das ruas de Teerão às de Tabriz. Mas o arquitecto da revolta terá sido um ayatollah de rosto quase imberbe que convenceu Khomeini a beber “um cálice de veneno” e a quem Reagan ofereceu uma Bíblia autografada. (Ler mais | Read more…)

Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, o discípulo mais fiel e confidente do Ayatollah Khomeini, tornou-se posteriormente na maior ameaça ao regime que ele ajudou a estabelecer em 1979
© Alexis Duclos | Getty Images | The Times

A palavra persa kusseh, com o duplo significado de imberbe e tubarão, tem sido frequentemente usada para caracterizar Akbar Hashemi Rafsanjani.

Num país onde mullahs e “bons revolucionários” têm barba, para imitar a piedade do profeta Maomé, o ayatollah que provocou a maior crise de liderança no Irão nos últimos 30 anos tem apenas alguns pelinhos no rosto, talvez devido à sua ascendência mongol. Pode parecer insignificante, mas não é.

O intrigante aspecto físico, o facto de usar um turbante branco e não negro (sinal de descendência do “Mensageiro de Alá”), a enorme fortuna e uma ambição ainda maior fazem dele uma figura temida e odiada.

Rafsanjani, 75 anos, não era visto em público desde as eleições presidenciais do dia 12 [de Junho de 2009], mas os que conhecem o seu estilo dizem: se está em silêncio, está a conspirar. O homem que deve a sua sobrevivência política à prática xiita de takiya (dissimulação) só revela e joga os trunfos no momento certo.

Especulou-se que Rafsanjani se encontraria na cidade santa de Qom – centro religioso do Irão –, onde recolhera o apoio “da maioria” dos 88 membros da Assembleia dos Peritos, de que era presidente, para afastar o Supremo Líder, Ayatollah Ali Khamenei.

Algumas fontes diziam que uma decisão ainda não tinha sido tomada porque persistiam divergências sobre quem deveria ser o sucessor, outras admitiam que estaria a ser negociada uma solução de compromisso para que nenhum dos campos perdesse a face.

Como é que o discípulo mais fiel e confidente do Ayatollah Khomeini se tornou na maior ameaça ao regime que ele ajudou a estabelecer em 1979? Comecemos por descodificar o seu nome. Ali Akbar é um dos primeiros mártires do xiismo.

Hashemi é o apelido de família e Rafsanjani deriva da província de Rafsanjan a que pertence a aldeia onde nasceu em 1934, no Sudeste desértico do Irão.

Rafsanjani foi para Qom, púlpito de Khomeini, aos 14 anos, influenciado pelo futuro sogro, um mullah. © Direitos Reservados | All Rights Reserved)

Rafsanjani foi para Qom, púlpito de Khomeini, aos 14 anos

Um dos nove filhos de uma família de cultivadores de pistáchios, moderadamente abastada, Rafsanjani foi para Qom, aos 14 anos, influenciado pelo futuro sogro, um mullah. Deixou para trás a paixão pelo futebol e, sob a orientação de Khomeini, dedicou-se ao estudo da jurisprudência.

Foi um dos primeiros a adoptar o conceito de velayat-e faqhi (“um regime islâmico para substituir um monarca injusto”), que rompeu o dogma xiita de que “todo o poder temporal é profano até a à chegada do 12º imã”.

Rafsanjani adorava fazer sermões e quando não tinha audiência no seminário pregava para si próprio. Amigos e adversários descrevem-no como um bem-humorado contador de histórias. Até conseguia fazer rir o mestre sisudo.

Os seus discursos estão mais próximos do povo do que da aristocracia religiosa. Quando fala, ora puxa o turbante para a nuca, ora arregaça as mangas do longo robe, como se a indumentária o incomodasse.

A carreira política de Rafsanjani arrancou no princípio dos anos 1960, como activista contra a “Revolução Branca” do Xá Mohammad Reza Pahlavi. O projecto de modernização do imperador foi um duro ataque aos Mullahs, porque abalava velhos privilégios.

A reforma agrária, por exemplo, retirava-lhes a propriedade de grandes latifúndios de onde obtinham grandes recursos.

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Rafsanjani foi obrigado a cumprir serviço militar do qual estavam anteriormente isentos os seminaristas. O Exército imperial, inquieto com as suas prédicas aos soldados, enviou-o de volta ao centro teológico de Qom, na assunção de que aqui causaria menos sarilhos. Enganou-se. Como membro de uma organização religiosa leal a Khomeini, forneceu a arma usada no assassínio do primeiro-ministro Ali Mansour, em 1964

Obrigado a cumprir serviço militar do qual estavam anteriormente isentos os seminaristas, Rafsanjani aproveitou a oportunidade para pregar aos seus colegas soldados. O Exército, inquieto com estas prédicas, afastou-o das suas fileiras, e enviou-o de volta a Qom, na assunção de que ali causaria menos sarilhos. Enganou-se.

Khomeini havia sido enviado para o exílio no Iraque mas deixara organizações religiosas no Irão e foi como membro de uma delas que, em 1964, Rafsanjani forneceu a arma usada no assassínio do primeiro-ministro Hassan Ali Mansour. Foi preso pelo menos dez vezes. A sua biografia oficial salienta que foi “desumanamente torturado” pela polícia secreta SAVAK.

Qom e Khomeini permaneceram influências determinantes na vida de Rafsanjani – mas não as únicas. Em 1967, ainda na prisão, publicou uma biografia de Amir Kabir (1807-1852), o grande vizir reformista do século XIX, que ele admira por ter usado o Ocidente para modernizar a Pérsia. Estranha escolha, para um mullah.

Representante nas negociações para pôr fim a cem anos de guerra entre os persas e o Império Otomano, Amir Kabir ajudou a subir ao trono o Xá Naser al-Din (da dinastia Qajar) e este, agradecido, ofereceu-lhe uma irmã em casamento e o cargo de primeiro-ministro.

Nestas funções, reduziu a influência estrangeira nos assuntos iranianos, criou um sofisticado serviço de espionagem, fundou a Dar ul-Funun, a primeira universidade de estilo europeu, em 1848, apoiou a criação do primeiro jornal persa, Vaghaye al Etefaghiyeh e tentou abrir no Irão todas as indústrias que então existiam pelo mundo. Por exemplo, fábricas de aço, de armas, de açúcar, de vidro, de chá, de cerâmica, além de estaleiros navais.

Era também o vizir quem definia salário do Xá. No entanto, quando ousou cortar nas finanças da família imperial, para reduzir as despesas públicas e no âmbito de uma campanha contra a corrupção, Amir Kabir enfrentou a fúria de toda a nobreza. Demitido e forçado a um exílio interno, em Kashan, foi executado por uma ordem que Nasrudin não se lembra de ter assinado porque estava embriagado.

Este foi o destino que teve Siyyid ‘Alí-Muhammad ou Báb, o fundador da religião Babí (actual Baha’í), que Amir Kabir mandou matar em 1850. Mas este não é certamente o destino que Rafsanjani quer para si, por muito que admire o vizir reformista.

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Do casamento com Effat Mar’ashi, em 1962, Rafsanjani teve três filhos (Mohsen, Mehdi e Yasser) e duas filhas (Fatmeh e Faezeh)

Em 1978, quando saiu da prisão, Rafsanjani tornou-se membro de um comité secreto, criado pelo exilado Khomeini, para organizar uma sublevação contra o Xá.

O comité só emergiu da clandestinidade quando teve a certeza absoluta de que a revolução triunfaria. Em Fevereiro de 1979, quando Khomeini regressou do exílio, o então hojatoleslam (um grau abaixo de ayatollah no escalão dos Mujtahids, ou jurisconsultos) rapidamente deu provas de ser dos mais competentes e implacáveis executivos.

Como ministro interino do Interior, Rafsanjani foi o elemento central de uma campanha feroz dirigida contra nacionalistas e comunistas, que contribuíram para a destruição da monarquia mas ameaçavam o poder de um novo déspota.

Os tribunais revolucionários enviavam um número indeterminado de críticos dos Mullahs para os pelotões de fuzilamento, e Rafsanjani declarava: “A revolução islâmica não tem alternativa às depurações violentas e sangrentas.”

Alvo de várias tentativas de assassínio, Rafsanjani sobreviveu à mais aparatosa de todas, em Outubro de 1981, quando as depurações atingiam o auge. Tinha deixado a sede do entretanto extinto Partido Islâmico Revolucionário (PRI), de que foi fundador, cinco minutos antes de uma gigantesca explosão ter soterrado um grupo de dirigentes.

O ataque, que causou mais de 100 mortos, entre eles o Presidente da República, Mohammed Ali Rajaii, foi reivindicado pelos Mujahedin-e Khalq (MEK, Combatentes do Povo,), organização que ajudou Khomeini a derrubar o Xá e depois foi marginalizada, tal como os comunistas, sociais-democratas e nacionais, que lutavam por uma democracia.

Foi por esta altura que um relutante Khamenei, aos 42 anos, aceitou suceder a Rajaii. Venceu duas eleições e exerceu o cargo até 1989, ano em que o voltaram a chamar para ser Supremo Líder.

Khomeini tinha um sucessor designado, o Ayatollah Ali Montazeri, mas este tornou-se demasiado crítico do rumo que o país levava e caiu em desgraça. É hoje um dos mais proeminentes dissidentes.

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Em Junho, de 1989, foi Rafsanjani (esq.) quem convenceu a Assembleia de Peritos a aprovar, por 60 votos a favor contra 14, a promoção a ayatollah do obscuro hojatoleslam Khamenei (centro), sucessor de Khomeini, apesar da oposição das elites religiosas em Qom [e dos líderes xiitas no Líbano e no Iraque]

Como a Constituição da República exigia que o Supremo Líder fosse um Grande Ayatollah, Khomeini ordenara uma revisão do texto, em Abril de 1989, três meses antes de morrer, definindo para o seu herdeiro o único requisito de ter “competências políticas e de gestão adequadas”.

Quem mais contribuiu para a ascensão de Khamenei foi Rafsanjani, então presidente do Majlis (Parlamento). Em Junho, de 1989, convenceu a Assembleia de Peritos a aprovar, por 60 votos a favor contra 14, aquele obscuro hojatoleslam, apesar de as elites religiosas em Qom [e os líderes xiitas no Líbano e no Iraque] se terem sentido ultrajadas com a sua súbita promoção a ayatollah.

Rafsanjani fez de Khamenei Supremo Líder porque acreditava que o podia controlar. Khamenei sabia disso e, uma vez ao leme da mais importante instituição iraniana, começou lenta e metodicamente, a consolidar o seu poder.

Ele passou a dominar tudo, desde os Pasdaran (Guardas da Revolução) aos serviços secretos, das Bonyads (fundações de “caridade” que gerem milhões de dólares) aos imãs das orações de sexta-feira, da milícia Bassij aos tribunais.

Tornou-se intocável, o único líder que não podia ser criticado. Um dos seus irmãos foi brutalmente espancado por ter constatado que “o guia tem demasiado poder”.

Com Khamenei e Rafsanjani a ocuparem os dois mais importantes postos da hierarquia, as diferentes visões políticas de ambos ficaram em evidência. Observou Christopher Dickey, na Newsweek: “A base de poder de Rafsanjani encontra-se entre as classes comerciantes – ‘o Bazar’.

Se ele não diz bem, como algumas personagens de Wall Street que ‘a ganância é boa’, tem frequentemente dado a impressão de que acredita nisso. Colocou o crescimento económico e o desenvolvimento no centro das suas políticas, e a sua família cresceu conspicuamente rica.”

Rafsanjani, derrotado (e humilhado) por Ahmadinejad na segunda volta das presidenciais de 2005, decidiu em 2009, oferecer a Mir-Hossein Mousavi fundos e conselheiros para afastar da chefia de Estado o ultraconservador que marginalizava a “velha guarda” dos Mullahs para a substituir por uma nova geração nos Guardas da Revolução e na milícia Bassij. Começou também a “conspirar” para derrubar Khamenei. ornou-se assim o financiador o Movimento Verde. © Vahid Salemi | AP

Rafsanjani, derrotado (e humilhado) por Ahmadinejad na segunda volta das presidenciais de 2005, decidiu em 2009, oferecer a Mir-Hossein Mousavi fundos e conselheiros para afastar da chefia de Estado o ultraconservador que marginalizava a “velha guarda” dos mullahs para a substituir por uma nova geração nos Guardas da Revolução e na milícia Bassij
© Vahid Salemi | AP

Khamenei, pelo contrário, “construiu a sua base de apoio entre os religiosos, os militares e o aparelho burocrático – onde a lealdade e a obediência ofereciam uma saída para a pobreza”, acrescentou Dickey.

A partir da guerra com o Iraque (1980-88), o Supremo Líder também “forjou laços estreitos com os serviços de segurança, talvez convencido de que a melhor maneira de evitar a opressão é eliminar os inimigos.”

Talentoso, perspicaz, inteligente e hábil manobrador, Rafsanjani tem procurado passar a imagem de um conservador pragmático.

Apoiou a ocupação da Embaixada dos Estados Unidos, em 1979, mas quando os que tomaram de assalto o “ninho de espiões” em Teerão exigiam o regresso de Mohammad Reza Pahlavi, como moeda de troca pelos funcionários americanos sequestrados, o orador eloquente que atraía mulheres de chador às portas do Parlamento, aos gritos de “Queremos Hashemi”, terá oferecido uma “solução interessante” a um jornalista: “Se o Xá morresse, ajudava muito”. A 27 de Julho de 1980, o imperador morria de cancro, no Cairo.

Em 1980, como representante pessoal de Khomeini no Conselho Supremo de Defesa, Rafsanjani teve responsabilidades especiais na condução da guerra contra o Iraque, o que terá fortalecido a sua “moderação”.

Opunha-se à integração mal preparada de vagas de mártires contra os tanques e artilharia do inimigo. Dizia que os combates deviam ser travados com o menor número de baixas possível, mas não conseguiu evitar três fúteis ofensivas finais.

Em 1986, cinco anos depois do atentado que quase o matou, Rafsanjani entrou num outro campo minado: contactos secretos com os Estados Unidos, que venderam armas ao Irão, apesar de um embargo, para libertar reféns estrangeiros no Líbano e financiar a guerrilha dos Contra na Nicarágua. Foi quase o seu fim.

Do seu casamento com Effat Mar’ashi, em 1962, Rafsanjani teve três filhos (Mohsen, Mehdi e Yasser) e duas filhas (Fatmeh e Faezeh). Devido à hostilidade entre o pai e Khamenei, Faezeh foi condenada, em 2012, a seis meses de prisão por “difundir propaganda contra o Estado”; em Dezembro do mesmo ano, Mehdi foi libertado, sob fiança, após dois meses isolado numa cena, sob a acusação de “agir contra o regime islâmico e corrupção financeira”). @DR (Direitos Reservados | All Rights Reserved)

Em 2012, Fatmeh, filha de Rafsanjani, foi condenada a seis meses de prisão, por “difundir propaganda contra o Estado”; o filho Mehdi foi libertado, sob fiança, após dois meses isolado numa cela, sob a acusação de “agir contra o regime islâmico e corrupção financeira”
© Direitos Reservados | All Rights Reserved

Quando a ala dura do regime expôs o escândalo, Rafsanjani insurgiu-se contra eles nas orações de sexta-feira. Relato no diário britânico The Guardian de David Hirst, um dos mais veteranos correspondentes no Médio Oriente: “Sim, admitiu ele aos fiéis, o Irão recebeu o conselheiro nacional de segurança Robert McFarlane e o coronel Oliver North. Mas eles foram rejeitados e humilhados.

Tinham trazido um bolo em forma de chave para simbolizar ‘a nova abertura’, mas agentes de iranianos ‘ficaram com fome e comeram o bolo’. Num grande final, mostrou o exemplar da Bíblia, autografado pelo Presidente Ronald Reagan, que os emissários tinham trazido. Os fiéis riram-se.”

Em Junho de 1988, surgiu um ponto de viragem na história da República Islâmica: o cessar-fogo na guerra com o Iraque sem ter conseguido derrubar Saddam Hussein foi uma terrível admissão de fracasso. Rafsanjani persuadiu Khomeini de que o Irão tinha de beber este “cálice de veneno”.

Em 1989, Khomeini morreu, não antes de proclamar que “a revolução viverá enquanto Hashemi viver”, e Rafsanjani chegou à Presidência da República com 95% dos votos. Com ele, a sociedade começou lentamente a abrir-se. A sua mulher, Effat Mar’ashi, deu o exemplo, emergindo como uma figura pública e uma primeira-dama moderna.

Ao lado do marido, Effat aparecia por vezes de calças de ganga e blusas de manga curta, é certo que debaixo do chador, mas em recepções a visitantes estrangeiros chegaram a vê-la com fatos ocidentais, bem penteada e maquilhada.

Rafsanjani encorajou outras mulheres a vestirem-se com menos rigor, embora todo este esforço de abertura tenha fracassado quando os preços do petróleo começaram a cair fazendo subir a força dos radicais.

Homem de negócios interessado na globalização, Rafsanjani quebrou o isolamento do Irão ao estabelecer relações comerciais com a Rússia, a China, a Arábia Saudita e os Emirados.

Nos anos 1990, recomeçou o programa nuclear, lançou a privatização de empresas estatais e liberalizou o comércio externo. Neste processo, os melhores contratos foram parar às mãos dos seus aliados e familiares.

O Conselho dos Guardiões desqualificou Rafsanjani para concorrer às eleições de Junho de 2013. O ayatollah apoiou, então, Hassan Rouhani (dir.), que derrotaria outros cinco candidatos
© Atta Kenare | AFP | Getty Images | CBC

“A revolução islâmica de 1979 transformou o clã de Rafsanjani em paxás comerciais”, constatou a revista Forbes num artigo intitulado Millionaire Mullahs. “Um irmão dirige a maior mina de cobre do país; outro controla a rede de televisão estatal; um cunhado tornou-se governador da província de Kerman, enquanto um primo gere a exportação de pistáchios, no valor de 400 milhões de dólares; um sobrinho e um filho exercem cargos de chefia no Ministério do Petróleo; um outro filho é responsável pela construção do metro de Teerão.

Operando através de várias fundações e companhias testas-de-ferro, a família Rafsanjani controla, aparentemente, um dos maiores grupos de engenharia do Irão, uma fábrica de produção de automóveis e a melhor companhia aérea do país.”

Nas ruas, comenta-se que Rafsanjani detém contas bancárias de milhões de dólares na Suíça e no Luxemburgo, é proprietário dos melhores terrenos nas zonas económicas livres do Golfo Pérsico e possui residências de veraneio em “praias idílicas do Dubai, de Goa e da Tailândia”.

A riqueza sob suspeita de Rafsanjani levou Mahmoud Ahmadinejad, o anterior Presidente, a acusá-lo publicamente de corrupção, num frente-a-frente televisivo com Mir-Hossein Mousavi, durante a campanha para as presidenciais do dia 12  de Junho de 2009. O facto de Khamenei não ter vindo imediatamente a público em defesa da sua dignidade, azedou ainda mais as relações entre os dois ayatollahs.

Rafsanjani, derrotado (e humilhado) por Ahmadinejad na segunda volta das presidenciais de 2005, decidiu em 2009, depois de reeleito para a presidência da Assembleia de Peritos, oferecer a Mousavi fundos e conselheiros para afastar da chefia de Estado o ultraconservador que marginalizava a “velha guarda” dos mullahs para a substituir por uma nova geração nos Guardas da Revolução e na milícia Basij. Ao ver Khamenei alinhar abertamente com o Presidente, abandonando o dever de manter um equilíbrio entre facções,

Rafsanjani começou a “conspirar” para afastar o Vali-e Faqhi (Supremo Líder) que, por sua vez, estaria a preparar o seu filho, Mojtaba, para lhe suceder.

Conseguirá Rafsanjani, cognominado “o fazedor de reis”, sobreviver a mais um desafio? Como dizem os iranianos: “Só Deus todo-poderoso saberá.”

[Em Maio de 2013, o Conselho dos Guardiões desqualificou Rafsanjani para concorrer às eleições de Junho de 2013. O ‘ayatollah’ declarou então publicamente que votaria em Hassan Rouhani, que integrara a sua equipa de segurança quando  foi Presidente. Logo à primeira volta, um resultado surpreendente, Rouhani derrotou outros cinco candidatos, incluindo o que era visto como potencial vencedor, Mohammad Bagher Ghalibaf, presidente da Câmara de Teerão. A 3 de Agosto, Rouhani tomou posse.]

O Supremo Líder do Irão, Ali Khamenei (ao centro) e o presidente, Hassan Rouhani (primeiro à esquerda) despedem-se de Ali Rafsanjani, no dia do seu funeral, em 10 Janeiro de 2017
© Reuters

Este artigo, agora revisto e actualizado, foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO em 28 de Junho de 2009 | This article, now revised and updated, was originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO, on June 28, 2009

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