O escritor, poeta, jurista, ensaísta e historiador português foi elogiado por ter “inspirado muitos escritores portugueses e espanhóis a divulgar a história da cultura árabe do Gharb al-Andalus”. (Ler Mais | Read more…)

Adalberto Alves é autor de dezenas de livros
© Arandis Editora
Adalberto Alves, um opositor à ditadura de Salazar que viu negado o acesso à função pública, até à Revolução de 25 de Abril de 1974, por ser advogado de presos políticos, consegue precisar o momento em que se apaixonou pela cultura árabe.
Foi aos cinco anos, quando viu o filme Ladrão de Bagdad, “não a versão muda” mas a que foi realizada em 1940 por Ludwig Berger, Michael Powell e Tim Whelan. [A 7 de Outubro de 2008], a UNESCO recompensou esse amor, mas também a sua “busca interior”, que o levou a escrever “uns 30 e tal livros”, como me disse, numa entrevista, por telefone.
Autor de O Meu Coração é Árabe, provavelmente uma das suas obras mais conhecidas — “os leitores sentiram-se tocados como se tivessem reencontrado um parente perdido” — o poeta, ensaísta e tradutor português vai receber cerca de 22 mil euros, o valor do Prémio Sharjah para a Cultura Árabe, criado pela UNESCO em 1998.
A mesma quantia será atribuída ao académico egípcio Gabel Asfour, director da Fundação de Tradução Nacional no Cairo.
A Asfour foi reconhecido o seu “importante papel na divulgação da cultura árabe pelo mundo” – é professor em universidades dos EUA, Europa e Médio Oriente.
No caso de Adalberto Alves, director do Celas (Centro de Estudos Luso-Árabe de Silves), a UNESCO enalteceu-o por ter “inspirado muitos escritores portugueses e espanhóis [um deles o romancista Pedro Plasencia, autor de El Tiempo de los Cerezos] a divulgar a história da cultura árabe do Gharb al-Andalus”.

Adalberto Alves (dir.) ao receber, em Paris, sede da UNESCO, o Prémio Sharjah para a Cultura Árabe 2008
[Quando foi notificado de que ganhara o prémio], o advogado que de dia trabalhava no gabinete jurídico de um banco e de noite “dormia pouco” para ir além do “romantismo e exotismo” do filme Ladrão de Bagdad, [estava] a preparar um Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa (toponímia, antroponímia, léxico corrente e empréstimos semânticos), que seria publicado em 2013.
Já havia um, de José Pedro Machado (Influência Arábica no Vocabulário Português) mas o de Adalberto Alves tem mais elementos, “ainda que não pretenda ser exaustivo, porque todos os dias a língua portuguesa recebe contribuições árabes, como al-Qaeda/A Base).
Assim, se já sabíamos que “Oxalá” derivava de Insh’Allah (Deus queira), ficamos a saber também que os árabes nos deram a “bochecha” (mashash), o “jorro” (jara), o “açaime” (al-zimân), a “febra” (habra) ou o “tamarindo” (tamr al-hindi, tâmara do Índico).
Como chegou ele aqui? “Consultando muitos dicionários e fontes árabes”, língua que aprendeu na Universidade Nova, nos anos 1980.
Para fazer a necessária pesquisa e escrever este dicionário, o arabista bateu às portas de “várias embaixadas e instituições culturais”.
Nenhuma se abriu, lamenta, e agora parte do prémio será usado para pagar despesas como a compra da imprescindível Enciclopédia do Islão, “com 12 volumes e cada um a 150 contos”.
O Prémio Sharjah deve o seu nome e fundos a um emirado do Golfo Pérsico. Curiosamente, Sharjah é um dos raros territórios árabes que Adalberto Alves, [nascido em Lisboa, em 1939], ainda não [visitara em 2008]. A
sua atenção vira-se agora para o Sufismo, o misticismo islâmico. “Se perguntarem se sou muçulmano digo que sim, mas também digo que sou hindu, porque acredito na unidade de todas as religiões.”
Bibliografia recomendada
Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa; 2013; Ed. INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda
Portugal e o Islão : Novos Escritos do Crescente; 2009; Ed. Teorema
As Sandálias do Mestre; 2009; Ed. Ésquilo
Portugal e o Islão Iniciático; 2007; Ed. Ésquilo
Al-Mu‘tamid: Poeta do Destino; 2004; Ed. Assírio & Alvim
Ibn ‘Ammâr Al-Andalusî – O drama de um poeta; 2000; Co-autor: Hamdane Hadjadji; Ed. Assírio & Alvim
Arabesco; 1989; Ed. Assírio & Alvim
O Meu Coração é Árabe; 1998; Ed. Assírio & Alvim

Adalberto Alves, poeta, ensaísta e tradutor
© julio-pego.blogspot.com
Este artigo, agora revisto e actualizado, foi publicado originalmente no jornal PÚBLICO em 8 de Outubro de 2998 | This article, now revised and updated, was originally published in the Portuguese newspaper PÚBLICO, on October 8, 2008